Nos braços de Josefina sentia-se seguro. Nunca lhe perguntara como era a vida na sua ausência, os medos que tinha nas noites solitárias, os sonhos construídos dos momentos que lhe dava, não, nunca lhe perguntara para lá do que queria saber.
O corpo de Josefina era porto seguro. Parava nele entre as marés dos dias, navegava entre as margens soltas que se abriam à vida, entre embarques e desembarques incertos. Ela, esperava-o como quem espera tudo. Da raiva contida mascarava amor desenfreado, do seu choro profuso
unguento de orgasmo e ele, nem supunha diferente tão grande precipício.
Porta fechada, ainda os passos se distavam, Josefina soltava a dor em grito abafado, para dela não dar notícia à vizinhança.
Mulher boa - diziam à passagem firme e destacada pelos saltos aguçados. Anca larga, nariz de proa, patroa de si, do seu
cheiro adocicado, dona do nada do seu mundo. Boa mulher, coisa diversa, mulher atenta, mão aberta, peito franco de acolhimento como poucos suspeitavam. Josefina, guerreira de fibra, que o orgulho a sustinha em momento de soçobra. Josefina, solitária, que nunca algum companheiro a levara ao mar alto.
Dela, falavam e deitavam adivinhas, muitos sabiam de coisa nenhuma, muitos a tinham de garganta sem puderem confessar alguma entrega.
Da Josefina que ficava atrás da porta, que chorava a liberdade sem temor, estranhavam os suspiros desgarrados,
os olhos tristes perdidos nas águas do mesmo mar, no silêncio da embarcação ao sonho. Dela, sabia Josefina, do destino que às asas lhe falhava, venturas amordaçadas, devaneios, crenças poucas, crenças nenhumas.
Maior, muito maior que a pergunta nunca feita, a surpresa do seu não. Quando a porta se fechava sem regresso, sem mais gritos abafados, choravam-lhe o desamor repentino. Vindo do nada, motivo qualquer, mulher ingrata, mulher boa, boa mulher!