sexta-feira, julho 14, 2006

por aqui me vou

Há já tempos que vou riscando os dias no calendário até que o dia chegou. É hoje. Falta-me vencer meia tarde de trabalho para entrar num prazenteiro mês de férias. Como não estarei longe, estarei por aqui a espaços. Quem sabe é desta que me ponho a caminho do Norte e vou visitar a Hipatia. Sei lá eu porquê hoje acordei a pensar nesta rapariga com saudades no peito e vontade de lhe repenicar um beijo na bochecha sardenta. Entro de férias sem planos e a ideia não me desagrada. O bom das férias são os dias recheados de complexas decisões: Vou à praia de manhã ou de tarde? Ponho creme nas costas ou nas pernas? - É isto que me aguarda. Um mês inteiro de profunda reflexão sobre a utilidade do tempo. Aquela atrapalhação matinal com o despertador biológico até que naturalmente se regule para duas ou três horas mais tarde. Creio que é tempo suficiente para fazer inveja a quem me leia e, no entanto, tempo escasso para as minhas reais necessidades. Concluo que seria uma feliz dona de casa tivesse eu tido por karma gostar de gajos ricos. Continua a passar-me ao lado essa história da realização profissional. Vejo-me perfeitamente realizada a frequentar ginásios de manhã, a fazer compras à tarde e a dar indicações à baby-sitter mais à noite. Dizem-me que não. Que não tinha feitio para essa vida. Olhem que sim, olhem que sim... E ainda que me fartasse, o pior que me podia acontecer era tentar trabalhar até que me voltasse o juízo e pusesse os pés no chão alcatifado da vida. Seja como for, hoje entro de férias e portanto não é hora de lamúrias. Lamuriem-se vós trabalhadores incansáveis, profissionais meritórios de cujos papéis e assinaturas depende o futuro da humanidade. Eu vou-me às coisas fúteis e comezinhas e, com o peso das vossas reprovações a curvar-me a postura, só me resta aliviá-lo abraçando medicinalmente o mar, o sol e os pelintras!

quinta-feira, julho 13, 2006

dois anos ao sol


A 13 de Julho de 2004 iniciava-se o Sol&Tude. Sem planos, projectos ou pretensões. Apenas um espaço onde os milagres foram acontecendo, os leitores, os amigos, as visitas. Dois anos depois este blog adquiriu consistência, um estilo próprio, uma dimensão que nunca supus. Já por diversas vezes pensei em por-lhe fim, por cansaço, desmotivação, por achar que as palavras já me tinham morrido. A verdade é que o Sol&Tude sobreviveu a estas crises. Não sei por quanto tempo. Pelo tempo que achar adequado. Enquanto a vontade aqui me trouxer. No essencial continua igual ao que sempre foi: os devaneios de uma gata que, embevecida com a amizade que lhe dedicam, continua a miar a sua forma de estar na vida. Hoje não é tanto a Bastet que está de parabéns mas sim todos vós que a têm levado a ronronar. Obrigada.
Por aqui a atitude ao sol continua a ser diferente.

quarta-feira, julho 12, 2006

hoje sim

Parabéns Vague.

terça-feira, julho 11, 2006

vague

Nas águas apressadas que a medo se tornam vagas para que o mundo não as derrube, vivem as gotas pequeninas e assustadas que se deslumbram convictas de uma fé solidária e que partem trémulas, de mãos dadas, à conquista das brancas nuvens. E se chovem, renascidas, lembrando crianças fragilizadas, tudo levam em fortes enxurradas que já são vagas novamente.
a uma amiga muito amiga.

sexta-feira, julho 07, 2006

quem foi?

Já lá vão muitos anos sobre a leitura dos Contos do Gin Tónico do Mário Henrique Leiria. Na altura agradava-me aquele absurdo. Hoje ainda me agrada o absurdo, e ainda aquele, porque lhe encontro quase sempre um sentido claro e surpreendentemente lógico. A história contava assim: "- És tu Ernesto, meu amor? Não era. Era o Bernardo. Isso não os impediu de terem muitos meninos e não serem felizes. É o que faz a miopia."
Ora, eu porque sou míope, adoro gin tónico e não sou parva, ainda gostava de saber qual de vós é que se chibou ao autor sobre o meu casamento? - sim que a parte dos muitos meninos é claramente para disfarçar.

terça-feira, julho 04, 2006

a cadeia alimentar do amor

Parece-me que há sempre alguém que espera por nós enquanto esperamos um pelo outro. As cadeias alimentares dos sentimentos e os desvarios das sobremesas gulosas. Tome-se um dia de cada vez como gesto profiláctico. Tome-se a manhã como um acaso do ocaso de açúcar que apetece. Talvez se defina um regime alimentar equilibrado desta vontade de debicarmos os corpos quando a fome desponta. Só o café se deve tomar por vício – disse-te quando a cama estava ali ao lado. Creio que já não tive razão, por não saber definir com precisão a barreira com o prazer. Depois o cigarro não ajuda. Irrompe a tosse a lembrar que somos predadores quando pretendemos esquecer a condição de humanos. Habituei-me a sublimar, mesmo quando te arranho as costas e as coxas, mesmo quando as argolas do fumo escrevem the end e ficamos sentados a olhar o fundo preto do écran. Poderia ter saído logo após. Aqui reside o problema do ser pensante - a cortesia do garfo e da faca, do guardanapo sobre o colo. Eu pensei que tu pensasses que para nós era tempo de partir. Para mim era. Também para ti, percebi antes até. Antecipo frequentemente o aborrecimento da normalidade. Jura-se fazer dieta após o almoço com a mesma veemência com que a adiamos pelo lanche. Já pensei na validade deste padrão que se repete intermitente. Mais intermitente pela vergonha da sua falta de classicismo. O reduto do conservadorismo nas mais liberais cabeças que o renegam. Põe-se a chave na porta da entrada e suspira-se numa ligeira sensação de conforto. Rebobinam-se os gastos calóricos e a exuberância dos acepipes agora numa mais clara percepção do medo. Por certo há alguém que espera por nós enquanto nos entretemos a levar a vida de forma frugal.