terça-feira, setembro 25, 2007

uma bucha

Há uma bucha responsável pelo meu estado alterado de nervos. E, diariamente, rogo-lhe pragas sobretudo matinais. Ontem muni-me de uns comprimidos naturais anti-stress e de um chá relaxante a ver se consigo lidar melhor com a situação. Travo com ela, de há algum tempo a esta parte, uma guerra fria. Sim! e aqui reside o principal busílis da coisa - tratar-se de uma guerra fria. Eu gosto de guerras acaloradas, de quentes confrontos, no amor, na amizade, nas batalhas e... no banho... Ora, a estúpida da bucha, manifesta o seu lado mais malévolo de forma intermitente, inconstante, cobarde, ora escondendo os seus propósitos mais infames de me destruir a razão ora me surpreendendo com pequenas mas gélidas agressões.
Não faz muito tempo, tinha eu decidido pôr cobro à coisa de forma definitiva, quando a dita bucha, no que julguei ser uma atitude de clara desistência, deixou de me massacrar com as suas intervenções ridículas e despropositadas e, ajuizei eu então, pensei estar a questão terminantemente resolvida. Ah!, como pude ser tão ingénua! Deve estar-lhe na massa ou na falta dela! A gaja contra-atacou! Pensei em ignorá-la, votá-la ao mais completo desprezo, prosseguir impávida a minha rotina diária mas a verdade é que não consigo. Ela dá-me conta do juízo. Bucha idiota!
Hoje, quando saltei para a banheira, olhei-a de lado e pensei: vamos lá ver como é que te comportas. Encontras-me preparada minha grandessíssima besta, estou muito mais calma à conta do cházinho e dos comprimidos de passiflora... Abri a torneira até a água quente jorrar mas, na hora h, na hora precisa em que a bucha deve permitir a passagem da água da torneira para o chuveiro de mão ela voltou-me a falhar! Acabei o meu banho com água mais que tépida, sequei-me no meu toalhão turco e dirigi-me convicta à minha limitada caixa de ferramentas. À falta de chave inglesa, armei-me de um martelo e, já cega de raiva, espetei-lhe duas fortes marteladas nos cornos. Tenho a certeza que agora já não me incomoda porque, cá comigo e nestas situações, quando não vai a bem vai a mal e pela bucha pagou a torneira. É sempre assim nesta vida ingrata, paga o justo pelo pecador. Bucha de merda!

terça-feira, setembro 11, 2007

a alquimia das palavras

Alquimia Verbal é o processo de transformação das palavras rudes em doces vocábulos. E eu, aprendiz desta doce alquimia, surpreendo-me com o sucesso dos meus esforços. Ainda não chego aos calcanhares de um vulgar protestante talvez por não entender o praguejar como ofensa divina e assim não recear o juízo final de um Deus politicamente correcto. Na verdade, o gajo mais bem formado que já conheci, alternava em catadupa cabeludos palavrões entre meias palavras e isto, erradamente suponho, sempre me fez conceber uma imagem divina mais brejeira. Um Deus de quartel. Um Deus que, entre duas fortes palmadas nas costas, nos diga numa gargalhada:
- Lá te safaste de ires bater com os costados no inferno meu ganda cabrão. Provaste que és um gajo porreiro e por isso não vais assar os tomates na fogueira do cornudo.
Sempre admirei esta torrente espontânea de palavras. Pratiquei-a sobejamente com resultados quase brilhantes - digo-o sem modéstia.
Contingências da vida lograram no entanto colocar-me no tortuoso caminho dos eufemismos. E, qual elefante em loja de cristais, dou por mim a ensaiar os passos da diplomacia linguística. Agora, uma quase Morgana do abecedário, ouço-me dizer: Entendo as tuas dificuldades e agradeço a ajuda que possas dar. Quando na verdade estalava no meu peito: Ó forreta dum caralho mete os dez euros no cu!
Olho-me ao espelho e nos meus olhos ainda chispam impropérios mas na minha boca senhores... são rosas, meu Deus, são rosas!