quinta-feira, abril 26, 2007

entretanto neste blog

Tenho andado a olhar para as fotografias do aniversário da minha filha até conseguir ser-lhes quase indiferente. Já consigo mesmo mostrá-las sem que a baba corra em fio abundante. Falta-me conseguir controlar o sorriso imbecil. Tudo isto faz parte de um duro programa de autocontrole baseado em técnicas esotéricas mistas. Muito yoga e muita meditação. Quanto ao mais, tento também aplicar estes ensinamentos ao sexo tântrico. Devo dizer com algum orgulho, mas sempre com a modéstia que me caracteriza, que já consigo olhar para o meu namorado por mais de cinco minutos seguidos sem lhe saltar ao pescoço e cobri-lo de beijos - facto que ele muito aprecia e agradece, uma vez que assim fica com mais tempo livre para o cinema, livros e disparates afins.
Por tudo isto tenho andado mais arredada destas lides, até porque a felicidade não inspira muito a verve mas, como não há bem que não se acabe, caros e estimados leitores não desespereis!, porque por certo, piores dias virão!

terça-feira, abril 24, 2007

roupa velha sapatos novos

A vida a correr-te debaixo dos pés, cobriu-te os sapatos de poeira. Lava a sessenta graus os silêncios e as omissões que profanaram os lençóis da tua cama. Calça os ténis com outras meias e vê do dia o que ainda te sobra. Ouve na rádio a metereologia. Há tempo e sobe o mercúrio. Porque tens a sorte da Primavera ter chegado, podes pôr o passado no estendal. Depois, sai à rua, e encontra-me sentada à tua espera a polir o futuro entretida. Muita coisa que podemos repetir. Esse teu olhar apaixonado de quem namora a vida pela primeira vez.

quinta-feira, abril 12, 2007

maternidade

Sete anos na vida de uma gata...

quarta-feira, abril 11, 2007

o meu kroko

Recebi o Kroko no dia do meu aniversário juntamente com as recomendações do médico psiquiatra que o enviou ao meu cuidado. O Kroko estava internado num asilo para bonecos maltratados. Uma alma caridosa fê-lo chegar até mim, confiando a sua (do Kroko) recuperação nas minhas mãos. Hoje o Kroko já se encontra melhorzinho e mais confiante apesar de ainda não o ter tentado separar da sua almofada, experiência que tenho receio possa ser muito traumatizante. Já controla melhor a sua hidrofobia e planeio mesmo dar-lhe uma banhoca lá mais para o Verão. Preocupa-me que , de onde ele veio, existam outros doentes que, tal como ele, precisam de muitos carinhos e atenção. Fica pois aqui o alerta a todos os meus leitores.

a verdade na mentira

Pregar a fantasia para que a realidade se desmonte.
A vida é um lego de peças às cores,
e a espaços todos somos construtores do que nos rodeia
e até do que supomos existir.

Estendemos às nuvens um tapete
e o caminho que se desmente passa a ser quase real
e juramos poder prosseguir para além, muito para além do fim.

Mostramos como verdade, que supostos somos de conhecer, como se alguém soubesse o que se conhece sequer, a maqueta piramidal.

Porque há sempre um topo e uma base nesta nossa primária concepção da construção do mundo.

Porque há necessidade de haver uma rua, um caminho ascendente que se percorra, que se pregue, que se jure, mesmo ainda quando se mente.

terça-feira, abril 10, 2007

sol&tude

Reaberto o barraco atirou ao mar uma flor já murcha que ali ficou a debater-se até ao total afogamento. Curiosa a forma como fora desaparecendo antes de ser engolida. É assim em tudo o que resiste ao tempo por um tempo. Todas as forças se esgotam. Importante é a semente da renovação ainda que germine tardiamente - diz quem acha determinante a resistência da espécie ao fastio dos séculos. Daquela flor, provavelmente na barriga de algum peixe, far-se-ia uma digestão serena. Pouco provável que crescesse forte rebentando pela boca de um atum que espadanando as águas anunciaria outro Verão.
O toldo espalhava a parca sombra de um meio-dia perdido nestes desvarios. Os olhos procuravam na sombra marcas do Inverno, como se dele pudesse ter sobrado o frio nas prateleiras da sua alma ou algum calor nos ímpetos do seu corpo. Tudo saíra com a prontidão exigível a visitar uma última vez a nostalgia - essa amiga distante que dá nome ao que parece nunca acabar.
A toque de vassoura aprumara o estaminé. Veio-lhe uma voz distante de um barco mais próximo que os demais. Tempo de embarcar anunciava o arrais e os sinos do torreão da igreja. Mais uma vez arriscar-se-ia a flutuar pelos embaraços do tempo na mesma atitude de fé.