quinta-feira, dezembro 30, 2004

compromissos

Tcham, tcham, tchaaammm! 2005 está à porta. Dias inteiros, fresquinhos, novinhos em folha para colorirmos como quisermos. Para 2005 fiz uma série de compromissos pessoais: andar mais tempo ao sol, presentear-me com mais regularidade, imprimir mais qualidade ao tempo que passo com a minha filha, brincar mais com os meus gatos, dar menos importância às dicas do meu coração e ainda menos às dicas dos outros, ver-me livre do meu "lixo" emocional e curtir mais ainda o tempo que passo com os meus amigos, fazer amor desenfreado e enfim, retirar desta vida o que de facto vale a pena.
Se quiserem, estejam à vontade para retirar ideias para os vossos próprios compromissos pessoais. Um ano novo esplendoroso para todos os que amo!

quarta-feira, dezembro 29, 2004

jogo de cartas

Dá-me tempo. Dá as cartas. Joguemos um crapôt sobre a mesa da sala. Deixa-me pesar na memória o que já se confunde. E deixa-me que te diga que provavelmente te deixarei ganhar.
Deixa-me olhar-te no lugar onde estiveste e achar que pode ainda ser teu. Consolar-me com a paz que me trazes neste tempo de guerra. Separar os caminhos, as escolhas. Chorar ainda os meus erros. E nestas últimas lágrimas saborear o conforto que me dás.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

agora sim

A todos, com algumas pequeníssimas e miseráveis excepções, os meus votos mais sinceros de um Santo Natal. Aos outros e agora também, os votos simples de um Bom Natal cheio de reflexões profícuas sobre os princípios mais básicos da honestidade, da solidariedade, do respeito pela liberdade e pelo próximo de forma a que, no ano vindouro, já os possa incluir na ampla lista dos que amo, respeito e/ou admiro.
Porque ainda não havia pedido uma prenda ao menino Jesus formulo aqui o meu desejo de receber neste Natal doses reforçadas de fé e esperança na humanidade, sorrisos para distribuir, calor para partilhar, força para amar e ingenuidade para acreditar.
FELIZ NATAL

segunda-feira, dezembro 20, 2004

o último vale

Trazia os pés molhados da chuva que com a terra se fizera em lama. Amassara-a com os passos até a fundir com as botas esboroadas e com as meias turcas. Andara até a terra secar e o cansaço doer no corpo. Então chegou ao último vale. Fronteira entre o sol e a tempestade. Entre o passado e o amanhã. O acaso dera-lhe Norte aos passos e a determinação resistência. E pelo caminho chegara a esquecer a razão do seu começo. Perdera a razão com o começo do fim. Achara o fim no início do desespero. Agora sabia ao que viera. Ao princípio do mundo. À descoberta do limiar da verdade na fonte da sabedoria. E ali poderia fazer três perguntas. E ali obteria com clarividência três respostas. Entre escolhas impossíveis formularia três. Apenas três perguntas para três respostas.
Acercou-se da linha vísivel que separava o real do imaginário. A terra do céu. O tempo da eternidade e com as mãos em concha gritou:
-De onde venho?
-Para onde vou?
-Quem é Deus?
E intimamente esperava ouvir: vens de mim, virás para mim porque eu sou o princípio e o fim.
Mas uma voz ressoou altiva: vieste de longe e chegaste onde querias.
Mas quem sois vós? - perguntou a receio.
Eu sou aquele que te dá as respostas - e um silêncio sepulcral caíu sobre o último vale.
Só no regresso entendeu que a que pusera no caminho era a razão daquelas respostas.

vida de cão

Já por diversas vezes aqui apelei às vantagens de ter um gato. Nunca ilustrei as minhas opiniões com aqueles dísticos idiotas que se vêm pendurados pelas portas de cafés e supermercados em que os cães falam: "nós ficamos cá fora". Não, contrariamente a muitos blogs em que as imagens são utilizadas como arma de choque e "teaser" de apelo à leitura aqui, no Sol&Tude, as imagens são apenas um doce complemento ao texto. Mas hoje rendi-me à inteligente evidência desta sinalética. E como diria o poeta já vejo um qualquer pastor alemão a uivar:" não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí!". Como é dura a vida de cão.
Será que esta é mais uma pérola dos tempos de PSL na Câmara Municipal de Lisboa?

domingo, dezembro 19, 2004

gelatina II

Retire do frigorífico a gelatina Royal de morango (previamente preparada como se ensinou aqui) e verifique a sua consistência. Se estiver sólida está pronta a ser servida. Com uma colher retire uma generosa porção para uma taça e prepare-se para a devorar. Se o telefone tocar não o atenda. Faça uma pausa. Veja reflectida na sua janela a imagem de quem ama. Pouse a taça. Largue a colher. Deixe-se cair nos seus braços. Nem sempre a vida nos permite saborear estas doces receitas. Bom apetite!

sexta-feira, dezembro 17, 2004

mãe há só uma

Isto de ser mãe tem mesmo muito que se lhe diga. Descobrimos em nós recursos inimagináveis e que de tão pouco dignos nem sequer deles nos cabe orgulhar. Uma mãe pode ser muitas coisas. E isto eu já sabia. Pode fazer figura de parva, contando histórias idiotas e derretendo-se embasbacada enquanto olha para o seu rebento. Pode fazer figura de ursa enquanto gasta o seu último dinheiro numa prenda que é posta de lado com indiferença. Pode ser o máximo, quando traz um saco de gomas ou, antes pelo avesso, uma refinadíssima besta quando obriga ao banho diário a criança imunda. Mas tudo isto eu também já sabia. Uma mãe é o símbolo máximo do perdão celestial quando desculpa as sucessivas traquinices e desarrumos, as birras e o lixo exponencial da casa. O que eu não sabia: uma mãe é um hitler em potência. Um agente do demo que aterroriza os sonhos nocturnos do seu filho. A personificação do mal. Quando pela meia-noite, na penumbra do quarto envolto em sonhos infantis, entra de colher em punho qual faca mortífera aguçada. Hora do anti-biótico! Arrrgh! Ameaça com a ida ao hospital onde o remédio será administrado não por colher mas por seringa. Mostra o casaco quente e simula vesti-lo à força. A criança manietada, entre choros e gritos de partir o mais empedernido coração, rende-se ao vilão e abre a boca a contra gosto! Isto é uma mãe. Mãe há só uma e graças a Deus! Porque ninguém seria capaz de aturar outra.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

a minha razão

Não consigo ouvir as palavras da razão dos outros. Porque essa não é a minha razão. Irrazoável que seja, a minha, tão cheia das vozes do coração, grita mais alto, mais forte e essa é ainda a minha razão. Não ouço a tua, nem as tuas palavras. Tão coincidentes com a razão dos outros. Ouço os teus olhos, o calor do teu corpo, tão recente ainda na penumbra da minha memória, que me grita como o meu coração e é desses gritos que faço a minha razão. E que me importa não ter razão alguma. Que me importa a minha irrazoabilidade, se consigo encontrar um sentido no teu silêncio mais forte que no das tuas palavras. Que me importam os juízos, as receitas, as razões, as teorias de felicidade, se só consigo encontrar alegria nesta minha razão, nesta minha vontade. Não, não vou ouvir a razão dos outros. Porque essa não é a minha razão. Não, não ouço as tuas palavras quando creio ouvir o teu coração dizer-me, como os meus gritos, que sou eu, só eu que tenho a razão. E até que emudeçam os gritos, que se calem essas vontades, que se te apaguem nos olhos estas minhas e tuas verdades, não venhas tu nem os outros falar-me de razoabilidades.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

natal dos animais

Neste Natal, de coração nas mãos e lágrimas nos olhos, peço a todos que visitem este site e que façam por favor o que estiver ao vosso alcance. Bastet e os restantes deuses ficar-vos-ão eternamente gratos.
"A grandeza de uma nação e o seu progresso moral, podem ser avaliados pelo forma como tratam os seus animais."
Mahatma Ghandi



sete vidas

Sete vidas é muita ou pouca vida para viver. Muita noite para dormir enroscado, muita manhã para acordar ensonado e beber o café com leite e passear agarrado a quem bem se quiser. Sete vidas é pouco tempo para perder com mágoas, ressentimentos, para carpir melancolias, para sofrer. Sete vidas cheias de momentos exactos para corrigir o trajecto e acreditar e fazer mais e diferente. Para pular com a ninhada, empurrar o balouço e rolar no chão. Pouco tempo para dar ouvidos a quem não nos quer ouvir, pouco tempo para amar quem não nos amar em troca, muito pouco tempo para chorar quem quiz partir. Sete vidas de gato para cair e magoar, para lamber as feridas e vê-las sarar e sair à rua num dia de sol, arqueando o corpo e vendo ressuscitar a vontade de viver. Olhar no espelho ver as rugas e as brancas e sorrir que isto do tempo é sempre tão relativo, é sempre tempo de levantar e seguir.

domingo, dezembro 12, 2004

boas festas


Querido Pai Natal:
Obrigada por me teres guiado na descoberta da cadeira do Nenuco que a minha filha tanto queria bem como na da Barbie mensagens. Falhou o busto da Nancy Top mas a substituta encontrada parece-me suficientemente digna. Como sabes falta o hotel da Polly de forma que, já que eu é que gasto o dinheiro e tu meu grande cª*$ão é que ficas com os louros, estava a pensar em lixar de vez a tua reputação e dizer-lhe claramente que te esqueceste da porra do embrulho. Hum?! Parece-te bem? Já agora minha ficçãozinha de m*r&a vou manter a lareira acesa toda a noite não vá dar-se o caso de quereres provar que és "um homem à séria" e assim sempre sais de cá com o traseiro parecido com a minha carteira: a arder!
Just in case... para mim era aquele casaco comprido que só dava para comprar em longas prestações. Sabes qual é?
Muitos beijinhos :***

sábado, dezembro 11, 2004

alucinação

Só se apercebeu do seu logro quando já tinha os pés molhados. Já não foi a tempo de retirar as peúgas mas ainda pode arregaçar as calças. Não faz mal - pensou - felizmente sei nadar.
Mergulhou profundamente nas águas aguareladas de ocre e laranja. Descobrindo a energia das suas braçadas apreciou a suavidade do momento. Desfez-se da roupa e saiu orgulhosamente nua pela praia. Era uma mulher de vastos recursos. Quem teria perdido uma sereia? - Questionavam-se absortos os pescadores de fim de semana, olhando o vulto curviforme que se despedia daquelas areias.

gelatina

Abra um pacote de gelatina Royal de sabor a morango e dissolva em 1/4 de litro de água fervente. Adicione mais 1/4 de litro de água fria. Receba um telefonema enquanto coloca a mistura no frigorífico. Feche a porta e perceba com um sorriso que uma janela se abriu. A vida tem destas simples e doces receitas. Bom apetite!

quarta-feira, dezembro 08, 2004

ei-los!

CC jurou-me que ao soar da terceira badalada na torre de São Diniz entrariam nesta sala: Ei-los!
(para os mais novos este é o revivalismo de uma "tirada" do Pai Tirano)

domingo, dezembro 05, 2004

amor em tempo de saldos

Dei por mim naquele espaço imenso e vazio. As poucas pessoas que por lá paravam pareceram-me velhos abutres atrasados para o festim, recolhendo das prateleiras nuas os últimos objectos a metade do preço, com um sorriso de genuína satisfação. Invadiu-me uma súbita tristeza, repleta de solidariedade cúmplice para com a única empregada (ou dona?) que se esmerava em manter arrumados e decorados os últimos pertences daquela loja em liquidação total. Baixei o tom de voz, em sinal de respeito, para falar com a minha filha recomendando-lhe cuidado. Acabei por comprar uns lindos enfeites de Natal e, como quem tivesse acabado de ajudar algum sem abrigo, saí com solenidade. Saí certa de que mais ninguém sofre desta maneira, por todos e por ninguém, com razão e sem razão alguma. Reconhecendo ainda quão ridículo é este meu coração.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

orgulho e altivez

Saber amar os felinos é ser mais completo, mais independente. É mais fácil amar um cão, submisso, subserviente, que admite ordens, dono e coleira e que ama incondicionalmente mau grado os maus tratos e o carinho insuficiente. O gato não! O gato não tem dono, tem família, amigos, olha-nos como igual, é exigente! O gato tem orgulho e altivez, tem sempre raça e para lhe achar graça é preciso saber amar assim... E quanta gente ainda foge desta relação? Quanta gente anda por aí enganada por só querer ser amada como só ama o cão? Quantos julgamos convencidos os que só são irreverentes? Os que teimam em ser dos outros diferentes, que não querem esmola, nem piedade, os que lutam pelo direito de serem como são? Saber amar um gato é não ter medo de ouvir "não"! É aceitar ombrear em vez de mandar, subjugar, controlar, é querer verdade e não escravatura, quem nos confronta, enfrenta, interroga com lealdade. Saber amar um gato é amar a liberdade!
(Fui apanhada nesta pose altiva pelo Sr. Barão d´Holbster)