amor em tempo de saldos
Dei por mim naquele espaço imenso e vazio. As poucas pessoas que por lá paravam pareceram-me velhos abutres atrasados para o festim, recolhendo das prateleiras nuas os últimos objectos a metade do preço, com um sorriso de genuína satisfação. Invadiu-me uma súbita tristeza, repleta de solidariedade cúmplice para com a única empregada (ou dona?) que se esmerava em manter arrumados e decorados os últimos pertences daquela loja em liquidação total. Baixei o tom de voz, em sinal de respeito, para falar com a minha filha recomendando-lhe cuidado. Acabei por comprar uns lindos enfeites de Natal e, como quem tivesse acabado de ajudar algum sem abrigo, saí com solenidade. Saí certa de que mais ninguém sofre desta maneira, por todos e por ninguém, com razão e sem razão alguma. Reconhecendo ainda quão ridículo é este meu coração.
2 Comments:
e eu que te compreendo tão bem, bastet! tão bem!
Há muita gente que sofre nesse silêncio e não o demonstra, Bastet...e há também quem ignora a dor, se não olhar não dói. Uma loja em liquidação total? Festa.
Ou uma vida de trabalho vendida ao desbarato.
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