quinta-feira, julho 28, 2005

breve

Interregno. Volto na segunda. Vá lá, desejem-me boa viagem!

terça-feira, julho 26, 2005

o vento

Ouvem o vento lá fora? Os silvos agrestes como quem chora? Como lobos uivando descontentes pela fome, pela lonjura da lua, pela imensidão da estepe e da noite? Ouvem o frio que o transporta? O anúncio da mudança, da inevitabilidade das estações e do seu decurso? Ouvem o Natal que chega precipitado? Os dias curtos, o escuro gelado das manhãs cinzentas? As flores arrepiadas pela surpresa das geadas, as árvores nuas, sem folhas nem enfeites e as ruas lavadas pelas chuvas correntes? Ouvem este vento de Agosto próximo e de Dezembro distante? Ouvem o Verão dando suspiros soçobrantes? Este adagio desconcertante ferindo os sentidos, despertando urgências, ouvem-no? Sentem-no? E a serra que se encobre num verde que fica mais forte e que me assusta... Porque não traz o Verão a Primavera e de novo o Verão e sol eterno? Porque sinto eu neste vento o prenúncio do Inverno!?

segunda-feira, julho 25, 2005

divulgue-se

O concurso "o escritor famoso" foi lançado lá no Divas & Contrabaixos. O mote e as regras encontram-se aqui para quem quiser participar.

guerra fria

Olho para ela. Ali, especada, prazenteira. Gorda. Estática. Provoca-me com um amplo sorriso amarelo. Desvio o olhar. Peço um café, à cautela peço-o cheio. Cheio? - Perguntam-me. Sim, cheio! Preparo-me para pagar. Cedo. Olhe, dê-me também aquela bola de berlim.

sexta-feira, julho 22, 2005

palavras mulatas

Justifico o texto, as margens, para que as palavras corram entre estribos, assumindo uma forma que nunca será a forma das minhas palavras. Embalo-as neste "tetra pack" para consumo rápido e seguro. Pasteurizo-as. Palavras liofilizadas, civilizadas, contidas num bloco certo. Mas lá dentro (cá dentro?) elas misturam-se, alargam-se, copulam, geram e degeneram em sentidos. Palavras mulatas de corpos redondos, redondilhas mágicas e surpreendentes. E é vê-las correrem entre parágrafos, empurrarem vírgulas, soltarem-se em reticências e em exclamações. Assino-as. Assumo uma responsabilidade temerária e inconsciente. Jamais saberei por onde voam as minhas palavras quando estas se repetirem na boca de quem as lê. Vão assim, espartilhadas, graficamente arrumadas, e é só o que posso garantir. Não sei do efeito que o tempo surtirá sobre elas, se as azeda, se as conserva, se as adocica no palato da memória, se as torna guerreiras, mensageiras de paz ou tolas e insanas sentenças. Abram pois este pacote de palavras e deixem bailar as letras, que elas tomem uma outra dimensão, nenhuma, alguma ou uma só vontade.

quinta-feira, julho 21, 2005

em profundidade

Por meados destes dias sonolentos, profundos só mesmo os mergulhos que daria numa qualquer morna piscina, deixando-me invadir pela sensação única do corpo submerso, retrocesso, dizem, aos tempos despreocupados do útero materno. Não profunda mas mais activa, esta minha imaginação que salta inquieta entre a vontade de antecipar as férias e o pleno gozo de paisagens paradisíacas, que a magra disponibilidade financeira torna ainda mais distantes. Surpreendente, só a actividade incansável de alguns que parecem não querer entender que esta não é uma boa altura para me exigirem trabalho, concentração, respostas, processos... Neste desafasamento de posturas, pinto as paredes do meu gabinete com águas translúcidas e gordas palmeiras, deixando um sol tropical embalar-me numa sesta sobre o teclado.

terça-feira, julho 19, 2005

ainda

Se todo mal traz rabona e tridente, desprovido de sentido e infligido cruelmente pelo bicho que de vermelho traja, esta terra é sobejas vezes o inferno, onde com dificuldade vencemos pela fé o caminho para o paraíso, local sagrado onde esperemos seja então a comarca de Deus - aí - Todo Poderoso.

segunda-feira, julho 18, 2005

ênfase líquido

A verdade: o meu gato partiu uma garrafa de cerveja na dispensa.
Ao chefe: o meu gato partiu uma garrafa de azeite na dispensa...

luzes

Qual o sentido de uma Palavra nos livros do silêncio? Qual o sentido de um grito na pálida terra dos mudos? Qual o sentido de uma música na universal partitura do vácuo? Qual o sentido de um sorriso na escuridão dos esgares e o de uma mão aberta, rosada, negra, amarela, avermelhada, ampla, ante a esperança amputada, ante a solidão dos agrestes cotovelos, brancas facas de um gume e múltiplas feridas, qual o sentido da resistência prisioneira, senão o da esperança, senão o da liberdade!? Qual o sentido que não o da Verdade!? Qual a verdade do sangue senão a da vida? Qual o sentido dos poetas, dos irmãos, dos missionários, dos loucos sonhadores, dos amantes, dos pais e das crianças? Qual o sentido da luz nos olhos de um velho quando afaga o crescimento de um pequeno cachorro? E o da gaivota que canta sobre o mar revolto...

quinta-feira, julho 14, 2005

fitness

Talvez a lição suprema seja olharmos para o mal como o mal necessário. Todo o mal como condição de aprendizagem. A cartilha da vida e do crescimento. Desta forma o que é mau faz-nos melhores e aqui residiria a fórmula do perdão. Perdoarmos o mal, a ofensa, a adversidade e o ódio. Encarando cada obstáculo como percurso liceal que nos levará ao conhecimento. Praticar o dar da face à vergastada que a suposta resignação deste gesto é a sabedoria última ou o primeiro travão à descontrolada repercussão da violência. Aceitar estas leis é aceitar que a vida tem um sentido maior do que vida em si própria, do que a mera reprodução dos genes e manutenção da espécie. A vida como caminho interminável de aperfeiçoamento. Quando começamos a prática de qualquer desporto, por razões estéticas ou de saúde, aceitamos as dores musculares, o suor, como inerentes ao nosso propósito. E quando estamos no balneário no final do treino, apercebemo-nos claramente que foi o ultrapassar das nossas limitações que transformou aquele banho numa manifestação de frescura, de saúde e de vida.
Neste entendimento, a vida, será um ginásio constante de fitness, de modulação do corpo e da mente e a maldade, será a carga ou o peso com que o Mestre nos carrega a nossa máquina, exigindo-nos, qual treinador de musculação, mais e mais repetições por treino. Não deixa de ser verdade que nos vamos fortalecendo à medida que vencemos a dor, que vamos retirando ilações fundamentais para o nosso comportamento quotidiano e que vamos olhando o mundo com olhos que vêm melhor, cada vez mais preparados, mais em forma ou, pelo menos, de outra forma. Aceitarmos que Alguém foi O responsável pelo traçar do nosso mapa de exercícios permite-nos não só não desesperar a meio da aula como aguardar com fé o milagre do gel de duche.

quarta-feira, julho 13, 2005

porque hoje

Faz um ano que este blog começou. Que o baptizei de Sol&Tude. Que disse então que ao sol a solidão é igual mas a atitude é diferente. Contei nesse início com a ajuda de um amigo de muitas horas. Que me chamou Bastet. Que me enfeitou o blog com o retrato da Deusa dos Gatos que ainda hoje a ele preside. Que no seu blog falou e deu a conhecer o Sol&Tude. E é a esse amigo, que tão bem escreve, que deixo hoje aqui um beijo especial de muito carinho, obrigada CC.
Tantos velhos amigos que com os seus comentários me animaram a continuar a escrever: Asul, Net Pulha, Formiga Assassina, Challenger, AR e LR e NetZorro. Tantos novos amigos que, desde o início, gostaram deste cesto de uma gata muitas vezes melencólica: Ninno, Softy, a-bordo. Aos poucos foi surgindo tanta gente que hoje tenho o grato prazer de conhecer : Queridas Zu, Vague, Condessa às Avessas e Hipatia, o Guitarrista Famoso, o O Bom Selvagem, o Vareta, o Z, a Miss Caipira, o Calvin e o Zumbido. Uma pessoa que sem me conhecer teve a amabilidade de me enviar um e-mail a ensinar-me como espaçar o texto das imagens, a Laurinha, outro que me enviou lindas fotografias de gatos para por neste blog, o Barão d´Holbster. Outros que foram surgindo e que me dão a honra de me ler e comentar: MRF, Amiga Teatro, SP, Aleksandro, Judite, Theo, Andorinha, Lobices, Mocho, Caracolinha, a-desenhar, Noite, Duda e MC, recordo ainda a Maria Oliveira que deixou a sua crónica a meio e todos os que, assinalando ou não a sua passagem, fizeram deste blog um blog tão especial para mim. Volvido um ano continuo ao Sol mas cada vez mais e melhor acompanhada.

terça-feira, julho 12, 2005

notícias do mar

Hoje o mar deu à luz uma pequena onda, uma vaga revolta. E ela juntou-se às águas e apartou o sal que purifica, rebentando doce nas areias da praia. E trouxe com ela algas vaporosas com que se enfeita, e palavras que ocultam mágoa perdoada, lágrimas antigas que se renovam frescas perante a inocência de um peixe qualquer que destemido procurava a vida num anzol e nela encontra o acolhimento da amizade. E ela ri pedindo carícias, e ela brinca com as conchas que lhe enfeitam os pés e lhe saram as feridas. Hoje o mar deu à luz uma pequena vaga que vagueia em liberdade destemida e que adormece ao sol quando se sente em paz. Hoje o mar foi uma onda de luz e por isso se cantam os parabéns nesta maré alta.

segunda-feira, julho 11, 2005

obituário

Faleceu hoje na minha memória um ex-futuro escritor, vítima do pedantismo e da boçalidade.

madagáscar

Um leão, uma zebra macho, uma girafa macho e um hipopótamo fêmea, partem à aventura. Sobre o instinto animal mais primário, o da sobrevivência, leva a melhor a amizade. Ultrapassadas as divergências, as mordidelas de "Alex" no rabiosque listrado de "Martin", o monocromático animal, dono de um coração maior do que o umbigo, amante da liberdade que conquista temerário e que pelo seu olhar positivo e curioso sobre o mundo, consegue liderar a epopeia que os leva a todos ao coração da selva e à clareira de si próprios, fica-nos a lição: o conformismo jamais nos fará sair da jaula porque é o sonho que comanda a vida.

sexta-feira, julho 08, 2005

terra em luto

A serenidade do cair de uma pena, traçando zês, diagonais lentas, pousando muitas vezes no ar antes que caia com um leve sopro de vento no chão, contraste bruto com o cair dos corpos, pesados, mortos, em queda rápida e vertical, com um grito de uma explosão. O silêncio da terra que acolhe solene essa pena, abre sulcos de repulsa, mancha-se de sangue, molha-se de lágrimas, quando recebe à força no seu ventre, a vida que ainda não lhe era destinada.

quarta-feira, julho 06, 2005

o amante de Lady Chatterley

Releio D. H. Lawrence ao acaso, ou não tanto ao acaso assim, porque procuro cenas antigas comparando o impacto que agora têm em mim com a memória que delas guardo. Percebo-o de forma diferente. Questiono-me de forma diferente. Passara despercebida a sensibilidade feminina do escritor. A descrição do torso nu do homem rude enquanto se lava. O que levou Lady Chatterley a apaixonar-se por ele? O que leva uma mulher a entregar-se a um homem de condição diversa, esquecendo a doçura das palavras nobres, a polidez dos gestos educados, a postura de salão? A resposta perde a sua importância, ou torna-se evidente, na exacta medida em que aumenta a sensualidade, o erotismo, os devaneios de um homem, que por ser tão homem faz daquela mulher, só uma mulher.
Não se acredite que é coisa pouca. Não se desmereça esta realidade que passa ao lado da grande maioria dos homens e que só é muitas vezes colmatada pela anulação e esmorecimento da mulher. Trata-se do culto do corpo amado, da protecção que se entrega ao que mais se deseja, da ternura da masculinidade embevecida pela maciez do corpo da sua fêmea, da certeza que transmite na segurança de um gesto de que ela, a sua mulher, chegou a casa. E esta é uma certeza muda que se fala pelos dedos. É uma certeza que não se escreve, nem se descreve pela poesia dos versos. Faz-se antes poema pelo toque, dicionário onde se aprende diariamente que o sinónimo de “tudo” é o corpo daquele homem que abraça a sua mulher que não é inferior, nem superior, é a sua mulher. É a curiosidade meiga pelo corpo diferente, que de tanto se querer se resguarda, querendo tocá-lo e senti-lo a cada instante. É a roupa interior que ele lhe tira como seu pertence dizendo-lhe assim que também ela lhe pertence.
Não, não é coisa pouca, nem tão pouco é coisa que se aprenda nos livros. Um homem é verdadeiramente um homem quando pela nobre virilidade do seu carácter faz a sua mulher revelar-se, sem medos ou vergonhas, sem tabus ou preconceitos, quando um olhar seu lhe diz mais que mil elaboradas palavras de paixão, quando a única coisa que a mulher reivindica é não querer mais ninguém nunca mais no seu corpo e no seu leito.

terça-feira, julho 05, 2005

a mais longa quinzena

Falo mais uma vez do tempo agora que se aproximam os mais longos quinze dias da minha vida. Contá-los-ei com a precisão da saudade, com a vontade de atropelar as horas pelo esquecimento do sono e com a revolta dos injustiçados e gritar-me na voz. Somos tão frágeis quando amamos alguém. Tão valentes quando defendemos quem amamos. Tão fatalistas a adivinhar o futuro. Falo mais uma vez do tempo agora que ele me amputa da razão do correr dos dias. Falo de novo com Deus, que a fé se fortalece como recurso, e peço-Lhe por "Tu" que Guarde a minha filha.

sexta-feira, julho 01, 2005

escapadela

Vim só aqui dizer-vos que volto na terça-feira, até já.