quinta-feira, outubro 27, 2011

tão frágeis

Chegou o tempo da escrita. Vem com a chuva e com o vento forte. As palavras assobiam amor e frio e vestem agasalhos. É vê-las passar de sombrinha e cachecol. Lembram bonecos de pelúcia rechonchudos ou almofadas de penas. São coisas pequenas e frágeis feitas para o carinho de quem as ama. Como eu amo as palavras! Gosto do seu som e divirto-me a juntá-las. Embalam-me o sono e o dia, vestem-me os ouvidos com a sua suavidade. Contemplo-as em frases que ressaltam nas vidraças. Largando mensagens e provocações, numa sensualidade que transcende quem as usa. Passo horas silenciosas a vê-las crescer e ganhar contornos. Um dia hei-de usá-las de uma forma completa. Hão-de sair de mim como sempre quis: interminável torrente de poesia.

segunda-feira, outubro 17, 2011

coisas simples

Há uma incontornável ternura em adormecer abraçado enquanto se espera a embriaguez do sono. Surpreendente como a liberdade se manifesta na corrente de dois corpos apertados e não na vastidão de uma cama vazia. As essências concentram-se em espaços confinados. Revelam-se, afinal, tão acessíveis. A modéstia do desejo, do ardor, transporta-nos muito para lá do que um dia acreditámos ser possível. Porque a nossa razão jamais alcançará certos voos. E só quando logramos perdê-la realizamos quão redutora é a sua dimensão.

stuart staples

Há sinos vibrantes na voz deste senhor.