terça-feira, junho 28, 2005

suave vento de leste

A linda visão de Bastet que o Aleksandro me dedicou:
"Torrente interminável de emoções,
Turbilhão selvagem dos sentidos
Aroma sensual entorpecente
Entrega total sem reservas ou mordomias.
Assim vejo Bastet!"

zumbidos de sísifo

Já "linkei" o blog Sísifo, ali mesmo ao lado, por ordem alfabética, mas as palavras que ele escolhe têm o condão de me deslumbrar. Transcrevo neste post os comentários que ele fez ao post "despindo-te", pela beleza, pela sageza, pela mestria de quem sabe escrever, como a seguir se transcreve, ora assinando Sísifo ora Zumbido:

"Se houvesse um som reconhecidamente diferente por trás de cada sabedoria, escutaríamos, no roçar da roupa que se despe no outro corpo, a pureza de uma nota que se inscreveu nos sentidos com a intenção de inebriar. Mas a sabedoria é irreconhecível através dos tecidos e temos que a procurar na nudez das palavras."

"Quando um zumbido se despe, esperaria encontrar um silêncio, mas pode acontecer que sob a capa ruidosa e caótica, se esconda uma qualquer harmonia capaz de despertar sentidos. Isso se ignorarmos que debaixo de um véu há sempre outro véu..."

"O gato, que é, sabe-se lá porquê, extremamente sensual, e que, no dizer de Eugénio tem tal beleza que se fosse humana seria insuportável, sabe que não é naquilo que está à vista que determina o desejo mas sim o que está oculto. Por isso ele persegue as sombras e está atento a todos os movimentos que ainda não são. O homem ainda procura surpreendido essa intuição milenar que trás o prazer dos lugares desconhecidos. Felizmente o gato não usa a palavra com que nos poderia ferir de inveja. Sugerir antes de mostrar é o que transforma o cérebro em pasta de papel, dá as rédeas à emoção e faz uma luva parecer o lençol que cobre o universo..."

Citei.

segunda-feira, junho 27, 2005

música de inverno

Quando a música cheira a cafés antigos e a roupas negras, a cigarros queimados por entre os lábios e os dedos de amantes abandonados, quando a música chora aos nossos ouvidos arrastando os compassos em nostalgia e os olhos se vêm perdidos por entre o vidro e o nevoeiro de uma vida, vítreos, parados, vagueando por mais negros lados que a negritude das roupas dos amantes hipnotizados, embriagados pelos acordes que se soltam dedilhados numa qualquer guitarra. Quando a música cheira a Inverno numa noite quente, agasalhando as madeiras de fumos de lareiras e pingos de chuva, numa voz rouca, tão profunda que arrasta consigo a tempestade, que queres meu amor, sofro uma qualquer saudade de um tempo que não vivi, de um século a que não pertenci mas em que era mulher e em que te queria ao meu lado.

sábado, junho 25, 2005

com verdade

A presença do medo ocupa os intervalos do nosso amor, adiando-o, acautelando-o, sublimando o peso de cada gesto, dando todos os sentidos às entrelinhas das nossas palavras, verdade a cada uma das promessas, coragem a todos os desenlaces que o amor não se constrói com cobardia nem a vida se compraz com ilusões.

sexta-feira, junho 24, 2005

vamos lá

O strip continua na caixa de comentários do post abaixo. Já se despiram a Hipatia e a Azulinha quem mais tem coragem de se revelar?

quinta-feira, junho 23, 2005

despindo-te

Outro desafio:
Gosto de te ver vestido enquanto me despes, do roçar da tua roupa no meu corpo nu. Da importância que ganha cada peça ao toque, ao tempo que leva a ser subtraída. Em noites de amor veste-se o corpo num enleio de atilhos vários e de pequenos botões que desafiam a perícia dos dedos e a tranquilidade da pressa. Um só fio de algodão pode levar-me longe, pode levar-me à tua camisa que já urge ser despida para que sinta o cheiro dos teus ombros e dos teus braços. Gosto de te ver vestido quando eu já me perdi uma vez na paragem do tempo porque é assim que me dizes que a noite se prolonga. Gosto do exacto momento em que num só repente tiras o cinto porque este é o gesto mais sensual e mais viril no despir de um homem e é este o momento em que gosto de te olhar apenas. E é esta a sequência certa da tua nudez porque um homem fica mais bonito de tronco nu porque não se faz amor com um homem de camisa vestida. Gosto das calças de sarja que deixam adivinhar a maciez da pele, dos boxers amplos com desenhos infantis, dos colarinhos elevados que enobrecem o perfil, gosto de adivinhar aos poucos o corpo que conheço porque o enigma reside nesta eterna descoberta.

terça-feira, junho 21, 2005

agora

Oferece-me o futuro – pedia-lhe ela como quem pede uma maçã vermelha – que eu lego-te o meu passado, o que fui, o que fez de mim o que sou. Troquemos entre nós os tempos como quem troca de roupa, brinca comigo ao toma lá dá cá, acerta comigo o relógio nesta meia-noite e corramos juntos contra os ponteiros precisos. Abracemos todo o tempo, baralhemos as eras e as gerações até que a história se converta ao segundo do era uma vez, ao início de todas as vontades. Peço-te agora, no exacto momento em que o presente é tudo o que vale e em que a minha voz ecoa no teu peito.

segunda-feira, junho 20, 2005

da teoria à prática

Quando os inflexíveis se flexibilizam, quando os puristas se mitigam, quando os princípios ganham condicionais, o indicador que se espetava altivo passou a estar enfiado no umbigo.

moral de um almoço adiado

É mais fácil arranjar uma desculpa que dizer não.

amor é

uma factura de telemóvel detalhada com um único número e um total chorudo.

temores

Temo o bom mais que o mau,
temo a sorte mais que o azar,
temo a doçura mais que a amargura
porque o banal não me assusta
como a estranheza da tua ternura
como a plenitude desta minha felicidade.

sexta-feira, junho 17, 2005

delícias de uma noite quente

Servem-se frescas, com as gotas de água de um banho apressado, repartem-se pelas travessas dos teus braços quentes, embebidas em açúcar em ponto de rebuçado.

quinta-feira, junho 16, 2005

good bye português

Sabe quem me conhece que sempre me irritou a utilização abusiva dos estrangeirismos como se o Português não fosse rico o bastante para cobrir de palavras, significados, metáforas, eufemismos e até mesmo pleonasmos, o que escrever se queira. Hoje, resolvi juntar-me a eles porque já entendi que esta história dá um ar supostamente mais fino (chic) e mais actual (in) a qualquer bosta que se escreva, vejamos:

Quando tu me olhas fico KO
Quase grito pela minha avó
Sai-me um shout e fico out
Out de mim, again...
Esta história não tem end...
O teu look, o teu fashion look
Deixa-me assim output
E quem me dera fazer-te um input
Num famous resort qualquer,
Tu my man e eu tua mulher
Tu és cool, tu és hip,
Tu fazes em mim um click
Que meu Deus, my God
Levava-te para um pagode
E quando o mar estivesse flat
Comia contigo um croquete
Quem sabe até um rissol
Que tu, my love,
deixa-me que te diga,
És the best of all.

gabarolices

Um comentário meu que virou post. Obrigada MRF. E, uma conversa minha com o net pulha que lhe mereceu estas considerações...

quarta-feira, junho 15, 2005

prémio de originalidade

Esta resposta ao desafio musical.

praxe felina

Convida-se um amigo para jantar e explica-se-lhe mal o caminho. Apesar das erróneas indicações ele aparece. Traz vinho. Ainda bem que deu com o caminho, digo eu. No que eu me vim meter! Diz ele, quase logo após. Ementa sofisticada - arroz de restos! Mas, o pior está por vir, sei-o eu, desconhece-o ele. Parece resistir aos primeiros embates - És feio! Não, não te dou um beijinho! Ahhh, mas isto é pouco! E quando o pobre dá por ele, está sentado de castigo a olhar para a parede, imaginando que se maquilha para um show do "cats" com uma caneta de feltro na mão, põe uma almofada na cabeça e corre atrás da terrível criatura de cinco anos, sempre seguindo os seus caprichos. O circo está armado! Sobe-lhe um gato quase até à cabeça e ele finge sorrir. Veste um imaginário fato, pinta um suposto focinho com um candelabro na mão, a menina chama-lhe "mágico" e obriga-o a contar-lhe duas histórias de seguida - Abram alas para o Noddy - É dose! A pequena mas temível criatura lá adormece. Ele foge. Por simpatia ainda diz que a "criança" é um encanto. Foi praxado a rigor, essa é que é essa!

terça-feira, junho 14, 2005

a minha sombra

Alguém viu por aí a minha sombra? Deixou de me seguir os passos, os gestos, os dias, deixou de me ensombrar a prosa e a poesia, alguém viu a minha sombra? Ou estará ela adormecida na copa da árvore da morte e da vida...? E que ligeira vou pela rua sem que ela me persiga, sem que me sussurre baixinho as suas negras palavras de agonia, sem que me vista o corpo de pesar e de lamentos, de fantasmas a noite e os pensamentos, assenhoriando-se do espaço e do sol, nublando o céu de cinzas e chuvas, abafando os gritos, os risos, as vontades, carpindo vultos imaginários e monstros marinhos que lendários, soerguiam as escamas dos mares de tristeza, tragando vorazes o singelo e a beleza, avolumando as preces de pedidos, a boca de súplicas, alguém viu por aí a minha sombra de dúvidas? Deixou-me os versos mais soltos, mais brancos, sem a dor que tange de fumo as palavras... Se alguém viu a minha sombra, viu com ela as minhas mágoas.

segunda-feira, junho 13, 2005

crónica

Tiram-se-lhes os pés e lavam-se as beldroegas. Põem-se os queijos a dar sal à sopa, arde o incenso. Crianças na cozinha, brincam no quarto, esconderijos e bailado. Espalha-se o gelo, no chão, na caipirinha, quebra-se no conhecimento, na geografia, na genealogia, põem-se os pratos, lavam-se os talheres, arrumam-se as mulheres para o jantar e o gelado para a sobremesa. Trocam-se olhares, soltam-se lágrimas, entorna-se o molho e o frango, espalham-se gargalhadas, guardam-se os ecos, põe-se lixívia, noite mais branca, prolongada, entre um cigarro e uma conversa. Tarde de praia, pés no mar, maré alta, mais azul, voz em fuga e um miar. Talham-se despedidas, marcam-se encontros, maquilha-se a cara, maquilha-se a vida, esbate-se o tempo, é já hora da partida.

desafio musical

A andorinha fez-me um desafio. Desafiada que estou, cá vai:
1 - Tamanho total dos arquivos no computador (apenas da música) :
(Corando...) Ups! não sei! ;
2 - Último disco que comprei:
Love songs - Miles Davis;
3 - Canção que estou a escutar agora:
Un bel di vedremo (Madame Butterfly-Puccini) - Maria Callas;
4 - Cinco canções que oiço frequentemente ou que têm algum significado especial:
Yolanda - Pablo Milanês
My Oblivion - Tinder Sticks
When the smoke is going down - Scorpions
A noite passada - Sérgio Godinho
Fields of gold - Sting
5 - Lanço o testemunho a 4 bloggers:
Façamos antes assim, quem por cá passar e quiser agarrar este desafio...

domingo, junho 12, 2005

a noite do dia certo

Prometo que um dia passarei todas as noites contigo, quando achar dentro do teu corpo o meu espelho, quando as noites deixarem de fazer sentido e eu quiser todos os teus dias como agora quero todos os momentos em que te olho e desejo. Prometo que uma noite passarei o meu corpo para dentro do teu e encontrarei a imagem que me reflectes, eu, essa mulher que amas tão amplamente que dificilmente tão pefeita, nos teus olhos, aos meus olhos me revejo.

quinta-feira, junho 09, 2005

é que é já a seguir!

















quarta-feira, junho 08, 2005

babada

O meu muito querido Ninno fez-me esta linda homenagem. Vão lá ver!

déjà vu?


Almoço. Calor. Secretária. Sono. Desculpas: "Sabe tenho de ir a casa num instante, porque... porque... me esqueci de dar de comer aos gatos"; "Sabe tenho que sair num instante, vou à farmácia..."; "Telefonaram-me da escola tenho de ir buscar a minha filha...". Sabem, quando temos sono devíamos de poder dormir e esta é que é a verdade! Bolas!


obstáculos



Se a transposição diária dos obstáculos é reduzida sobejas vezes ao esforço e ao cansaço, outras, dir-se-ia, ser a arte sublime do voo que nos eleva todo o corpo ao firmamento.

canção de embalar

Adormeço este momento no teu colo, que por milagre me acolhe e que por vontade me abraça, ao som proibido de uma música que contigo é profana por jamais ter sido sagrada. Devoro os acordes lentos, que ao lembrarem esquecimento, já mais não evocam que uma suave canção de embalar.

terça-feira, junho 07, 2005

com frontalidade

Não, não sei como dize-lo, como não sei se o tempo foi tempo suficiente, ou que tempo bastaria normalmente, se é que há tempo para além da forma como este se sente, ou se dizer do tempo não fica aquém, tão aquém da verdade. Pouco ou muito, tempo é tempo, nada mais, e as verdades, como esta que hoje se torna evidente, surgem claras de repente, cartaz afixado na minha parede, à minha frente, anunciando tão simplesmente que te quero.

next week-end







Quem é quem?








segunda-feira, junho 06, 2005

anda brincar




Com os filhos se redescobre a arte de brincar. Estica-se o tempo, queima o jantar, relativizam-se as prioridades, abrem-se parêntesis. De volta ao arroz queimado, descobrimos no tacho um sorriso, que a criança não morre se não tomar banho nesse dia e que nós é que nos deixamos morrer aos poucos pelas regras com que nos asfixiamos, com os ponteiros do relógio que afinal, com inocente sabedoria, podem correr mais lentos.



quinta-feira, junho 02, 2005

à saída

Acorda em mim o passado, pela tua mão, pelos olhos que já fechas sobre os meus, no momento em que já não há retorno, porque hoje quero construir o meu futuro e começá-lo desta forma, com a tua mão, com os teus olhos que se cerram igualmente ao peso desta vontade. E não me lembre o teu corpo outro corpo, nem o teu passado outros momentos, em que as minhas e outras mãos, procuraram melhor destino. Faz-me então acreditar nesta verdade, jura agora a eternidade dos erros irrepetíveis e repete a morte do desejo que sinto por desejo e por saudade. Não vás ainda, demora comigo a tua saída, percorre de novo o corredor mas depois, quando já me vires adormecida, fecha a porta quando fores.

quarta-feira, junho 01, 2005

irrecusável fim

A um desafio, uma resposta, a um pedido, outra:
Diz-me então que nome te dar. Como chamarei a esse homem que hoje dou à luz pela fantasia, para que quando te abandonares em gritos de mel, reconheças quem já foste e nomeies sem pudor o que afinal sempre quiseste.
E ele não se deu nome diferente, que era o seu que havia de ecoar, como antes só fora sibilado. Ofereceu o dorso ao vento de mãos multiplicadas no vagar, a boca às frescas e doces cataratas, onde pôde mergulhar no esquecimento. Foi outro, o mesmo, cego de luz, sábio de pele, trilhando aprendiz onde um dia fora mestre. Apartadas margens, livres rios, outra, a mesma, dentro de si, em lenta, louca correria, a passo, trote, salto e galope de roucos e mudos silêncios, por entre rosas e carmins florestas, que se davam e fugiam imprevistas, soluçantes. Portas, frestas, esguias travessas, que mulher outra, alguma, assim aventurara, feita deusa, amante e rainha que por fim seu servo coroava, de rubores e húmidos desmaios.

ontem

Viagem no tempo. Quinze anos. Entro e olho para as paredes. Aventuro-me e desço a escadaria. Procuro o bar. Tudo diferente. Já não conheço quase nada. Outros ocupam as mesas de snooker onde, de repente, me julguei ver. O reconhecimento, talvez a saudade ou, pelo menos, a nostalgia, haverá de se ter estampado no meu rosto.
- A menina andou cá não é verdade? Lembro-me de si...
Também o rosto daquela senhora me era familiar.
- Sim, andei. Já cá não entrava há quinze anos. E o Sr. Charneca?
- O Sr. Charneca está bom! Ainda cá vem, sabe?! Foi operado às pernas. E a menina? Desculpe, a doutora.
- Eu? deixe lá o menina que me sabe tão bem.

Dou-lhe dois beijos nas faces e saio. Por certo levarei outros quinze anos para lá voltar.

volta

Estou preocupada. Possessa! Furibunda! Outras palavras me ocorrem e que, por pudor e respeito por quem por aqui passa, evito escrever. O blogger. A fantástica opção de "compose" do meu blogger foi-se. Foi-se! Assim, sem mais nem menos. Já me sucedeu o mesmo a outras coisas mas nenhuma tão importante. O que são casamentos e namorados comparados com O Blogger? Nada! Digo-vos, nada!!! E agora? O trabalhão que me dá a justificar o texto, a ajustar o tamanho das fotografias que roubo por aqui e por ali, a pôr cores diferentes nas palavras... Este blog não voltará a ser o mesmo até que me devolvam o "compose". Sei-o! Sei-o tão bem ou melhor que os poucos códigos "html" a que este post me obriga. A vós, a todos vós, o meu apelo - quem souber por onde pára o meu "compose" digam-lhe que volte, que volte para casa, que volte para mim - o apelo não vai a vermelho por óbvias razões... Estou triste. Muito.