segunda-feira, maio 28, 2007

solidão

Ontem, na rua, ouvi um carro a buzinar. Trazia nas janelas uns cachecóis verdes a esvoaçarem à chuva miudinha. Coitado, pensei, não há-de ser fácil viver-se assim! Até encostei para o deixar passar, não fosse dar-se o caso de as buzinadelas não serem de romaria mas antes de uma qualquer aflição. Retomei a estrada convicta de que, de qualquer das formas, tinha feito a minha boa acção de Domingo. No tabelier, por devorar, meia dúzia de pastéis de nata.

terça-feira, maio 22, 2007

tudo ao molho

A apatia morde-me o calcanhar e eu deixo que o seu formigueiro se alastre até ao total torpor da nuca que me adormece. Barrico-me das opiniões diversas e dos debates acesos. Sei lá por onde vão! Nesta redução metabólica encontro a paz necessária à minha natural arrogância. O sono profundo do mais profundo desinteresse. Uns que roubem, outros que se prostituam, os demais que aldrabem, todos na convicção serena de que contribuem para a nova ditadura do egoísmo. O Benfica não ganhou. Diferente de ter perdido. Mas com isto não há pró-actividade que me valha. Não me contamina o stress moderno nem o estereótipo do corre corre em prol da proximidade da morte. Prefiro as pílulas de giseng, que sempre sou eu que lhes doseio a toma. No demais, entendo que o futuro se adivinha pior do que o passado. E nem sequer sou pessimista. Mas há uma humanidade em busca de uma diversidade que a divirta. E tudo vale. Já lhes cansa a net quanto mais a bisca. Não há ilusões que resistam por tempo suficiente à necessidade global de fuga. Eu cá ainda gosto de jogar às cartas mas já me falham os parceiros. Fico aqui no sofá a ler um romance que me abstraia, pensando com inveja nos que ainda se mexem convictos. Prestando-lhes mais a homenagem da piedade do que a do respeito. Depois disto, um voto de fé: queira o Belenenses dar uma coça aos lagartos.

quarta-feira, maio 16, 2007

a portuguesa

Para que todos, e não só eu, a recordemos. Antes assim, bela e silenciosa, do que ufana e estridente na boca de uma criança de sete anos que, à força da repetição e da maternal paciência, a aprende bem mais convicta da importância da letra do que da assassinável melodia.
I
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente e imortal
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
II
Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o teu solo jucundo
O oceano, a rugir de amor,
E o teu Braço vencedor
Deu mundos novos ao mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
III
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal de ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

diário de uma rainha

Uma rainha não morre jamais, adormece apenas na memória do seu povo. Ressurge a cada instante nos mais pequenos gestos, no trono que ocupa eternamente. Onde uma rainha tomou assento jamais haverá outrem que se arvore ao seu lugar - para sua glória, e esclarecimento dos que um dia, despudoradamente, ousaram profetizar a sua morte.

segunda-feira, maio 07, 2007

segredos de culinária

Quando a comida for pouca para os comensais carregue exageradamente no sal. Vai ver como chega e sobra. Acompanhe com um sorriso amarelo e sistemáticos pedidos de desculpa.