quinta-feira, agosto 23, 2007

como um gato

A espera pode ser rodeada de atenções. De cautelas. Constante vigília de fatiga. Barricada à margem da vida que se desenrola indiferente a quem se esconde. E não há momento apropriado que o futuro nos reserve. Só o esgar do tempo que nos escarnece porque ele acontece a cada segundo e em cada segundo acontece o irrepetível. Quando os músculos finalmente se distendem num salto de coragem perdeu-se entretanto nas trincheiras a jovem elasticidade do corpo. A mais ajuizada forma de esperar é pois sorver repetidamente a seiva do presente, agitando o corpo ao sabor do destino, em lânguidos miados de prazer.

segunda-feira, agosto 20, 2007

dos detalhes

Nunca fui dada a detalhes. Colho tudo pela rama. Rápida, abrupta e fartamente. Mas a vida ensina e o percurso é pedagogo, e eu, apesar de aluna desatenta, sorvo o sumo das súmulas conclusivas e entendo, perspicaz (!), que há, afinal, diferenças abissais entre os detalhes. A saber: detalhes gigantes, detalhes anões e detalhes sacanas.
Os gigantes, erroneamente tidos por detalhes, são tão visíveis que toda a gente os topa à légua; os anões, ou detalhes propriamente ditos, apropriados ao gosto dos picuinhas ou de detectives mete nojo; e, oh! Deus meu!, os detalhes sacanas, esses detalhes que só são detalhes para o resto do mundo, que toda a gente desvaloriza mas que para nós, no nosso íntimo, se agigantam e ganham proporção incomensurável. Inviabilizam qualquer relação porque em nós deflagram o escárnio, a mais secreta maledicência e mesquinhez. E por mais que nos sintamos horríveis, porque afinal nada mais são do que meros detalhes, esses detalhes sacanas, esses sacanas desses detalhes, transformam um príncipe num sapo e eu, que quereis (!?) sou alérgica a batráquios!