quinta-feira, março 31, 2005

entre iguais



Instala-se súbito o mudo rugido do silêncio quando, entre iguais, se faz amor.





chez moi

A minha casa é uma selva. Com animais selvagens. Passeiam-se um tigre e uma pantera negra pelos tapetes. Há uma pequena e indomável domadora de olhos cinzentos que deles se acerca e que deles tudo faz. E ouvem-se os barulhos das guerras nocturnas pelo território, as disputas pelos sofás, os ataques inesperados das riscas tigresas à negritude da pantera altiva que olha surpresa uma barriga alaranjada com tufos de pelo que se expõe, sem medos, à brincadeira. E a infantil rapariga que aproveita o momento e se joga em festas e carinhos ao pequeno tigre desconcertado com os acessos de ternura. Bebe-se a água corrente das mãos de uma deusa, pouco crente da sua divindade, administrando os víveres, as ordens e os tempos, gestora do espaço sagrado e das disputas de afectos. A minha casa é uma selva. Passeia-se com véus e saltos uma princesa desperta, vaidosa, entre os seus desarrumos de trapos, jogos e almofadas, amarrando os cabelos com elásticos multicolores onde repousam tiaras de falsos brilhantes e segurando nas mãos uma mágica varinha de condão. E não há maior encantamento que a selva adormecida, quando a princesa domadora e dominadora repousa em rosas e as feras adormecem aninhadas ao seu lado. É então que a deusa esgotada acredita de novo que reside no Olimpo.

quarta-feira, março 30, 2005

dia a dia

Sim. Vivo e morro diariamente. Num segundo inconsequente a dor, o prazer, o sofrimento ou a alegria. Mas que dizer deste coração feito para viver intensamente e que orgulhosamente renasce a cada dia, refeito de temor, feito de fé, que se ergue e se põe pé com um beijo, uma mão, uma carícia?

terça-feira, março 29, 2005

vestida de cordas

Encontrou-a vestida de cordas pela manhã como se fosse outra roupa qualquer. Supusera que partira à aventura, à descoberta dos caminhos da liberdade mas ela ali estava de cordas amarrada. Estranhas vestes que a marcavam e cobriam, cordas espessas, cegos nós, lais de guia. E perguntou-lhe porque não fugira. E ela disse-lhe que não há fuga, nem distância que consiga apartar os nós, verdade que há muito descobrira. E ele, que procurava negar essa verdade, chorou, soluçou. E as cordas molhadas de lágrimas tornavam-se ainda mais pesadas, cilícios de morte em vida. Um dia, véspera de outro dia qualquer, estas cordas serão pó, leves fios de enfeitar e nesse dia, precisamente, poderei nua, sem amarras, ver-te vir-me buscar.

segunda-feira, março 28, 2005

marés

Volto a ti pela maré cheia quando me alongo pelas areias ressequidas, metamorfoses de rochas poderosas, imponentes, hoje fragmentos amarelados, inertes, sem relevo. E nos braços de mar que te levo ao colo e ao ventre, deixo salpicos de uma tempestade e tu, seiva fértil que recolho e trago, adormeces a fúria na serenidade de um olhar antigo. Fazemos juntos a história do momento, sem relato, na mudez dos gestos e do torpor, na certeza do que foi porque assim devia ser. Transbordamos as cascatas de sabão inocente, lavando os pecados e o corpo etéreo, em água corrente, que por onde correu o passado e correram mãos de frémito, corre de novo o presente.
Volto a ti pela maré vaza, falando da constância das marés, quando recolhida a ti me estreito na conversa, segredando o silêncio partilhado, de mão dada ao meu lado, quando em vão e por fim, chamamos o esquecimento.

domingo, março 27, 2005

no remakes

O tempo encarrega-se da transformação. Sobre o mesmo cenário, com as mesmas personagens, com as mesmas deixas, não logremos que se repita o passado, acreditemos antes que, auspicioso, se reconstrói o futuro. Porque na vida não há remakes.

sábado, março 26, 2005

remake

Tarde a dentro as mãos procuraram-se. Redescobrindo o corpo com saudade. Desafiando o espaço e a penumbra da sala, ousando mais que a tela, propondo entre beijos um outro final e ainda outra sala. Na vida há papéis incongruentes, mais complexos que quaisquer palavras ou conversas inventadas que em filmes se queiram projectar.

quinta-feira, março 24, 2005

sem embrulho

Hoje, como prenda e prova do meu amor, ofereço-te o silêncio apesar do meu coração me gritar tantas e tão belas palavras.

quarta-feira, março 23, 2005

a galope

Que a vida e a morte possam ser um galope, mar a dentro, mar a fora, até ao sem limite do universo, até sermos espuma fresca e leve. E de lá, espreitando a praia, vejamos as crianças a brincar e reconheçamos o passado e o futuro na tela azul do mundo. Que se transporte o vento, a música suave e sibilante, nos bolsos da imaginação, até vermos desgrenhados os cabelos da musa da velocidade, mais que o som, mais que a luz, o pensamento. E assim é só uma estrada em que nos vamos desvanecendo, vivendo e fenecendo, corpo, água e espuma simplesmente. Que seja a vida e a morte um percurso transparente, sem sinais que os do tempo, que se vira e revira até perder a força e o sentido. Um cavalo selvagem indomável, sem sela e sem arreios, que não ponhamos à vida os freios que supomos ver na morte, onda última que transpomos a galope.

terça-feira, março 22, 2005

gato e rato

Que nos caminhos incertos que procuras, possa a minha boca ter-te recordado o que queres e receias, que seja o teu corpo vivo que por mim se incendeia a segredar-te a razão de que foges e que recusas, porque a mim este beijo soube a muito e soube a pouco.

segunda-feira, março 21, 2005

o namoro

Vamos falar com propriedade, vamos dizer que o namoro é andar de mão dada, passear juntos pela estrada e espreitar o mundo com olhos frescos. Vamos explicar que o namoro é "naíf", tem beijos, carícias e sorrisos, tem praias azuis e castelos imaginários nas bermas do tráfico e nos acordes antigos de músicas esfarrapadas. O namoro tem só imprevistos em dias inesperados, previamente agendados à socapa, tem jeito de fuga num breve café, na troca de colheres e de sabores e tem sonhos acordados só a dois. Todo feito de liberdade prisioneira, o namoro não tem fronteira, não tem antes nem depois, só agoras, só presentes, só tardes tão fugazes que se repetem constantemente e que se desejam capazes de durar eternamente. Tem suaves toques a receio, tem mínimas descobertas, tem o mundo inteiro feito de janelas abertas, tem fragrâncias de intimidade, tem amor pelo detalhe que se oferece embevecido, idioma descoberto, “meu amor”, “meu querido”, tem todas as palavras, tem todos os momentos, tem promessas, tem alentos. O namoro é em verso, é feito de poesia, rima com si próprio sem decoro enrubescido, é um intervalo perfeito, é um soneto colorido, o namoro é um beijo repetido, o namoro é um beijo repetido.

domingo, março 20, 2005

já chegou

A Primavera do ano da graça de 2005.

quinta-feira, março 17, 2005

jejum

Há dias em que não se devia falar no cheiro das coisas, nem no seu sabor, quando nos vêm à memória algumas iguarias, o apetite torna-se muito selectivo. Hoje, em razão de fé, faço o meu jejum.

pequeno mundo

Da minha infância recordo com doçura Giovanni Guareschi e, muito em particular, "À Italiana" obra fabulosa que me trazia risos e companhia sempre que a doença me acamava. Recém chegado à blogosfera para de tudo isso me fazer lembrar, "Mondo Piccolo".

a árvore à lua


Colho os frutos que me dás com essa simples generosidade. Como se de ti tudo pudesse ser colhido. Árvore da oferta, genuína, que a juventude alberga a verdade por desconhecimento da perfídia. Contemplo a tua harmonia confiante, quase eterna, porque eterna ainda te parece a vida e digo-te para veres em mim a finitude, a dúvida, o receio. Sorris. Mesmo quando me vês despida de folhagem, a nú o meu recorte desenhado no branco do lençol e da lua, vês sei lá que outra sombra encantada, rebentos de ervas verdescentes e deixas que as cataratas me digam que vai ser assim para sempre. E pegas na minha mão, que tu sabes estar fechada, e colocas nos meus dedos anéis de compromissos que devolvo assustada. Deixa-me ser só árvore à lua, porque a prata me empresta outros reflexos e pela manhã clara, semi-tua, vestir-me e sair à rua sem amarras, sem complexos.


quarta-feira, março 16, 2005

migração

Quantas vezes será necessário dizer-te que a magia do vôo não sou eu que te empresto? Mas não escolhas um qualquer caminho que as asas do flamingo são longas e esbeltas, certas para os amplos céus da Primavera, quando o cheiro das flores se mistura nas nuvens e nos corpos e a liberdade as sustenta, sem dúvidas, ou incertezas. Voar é-te inato. Nasceste pássaro de asas compridas e por vezes acontece perderes a fé quando as olhas incrédulo como se não te pertencessem. Recordo-te então os inúmeros vôos paralelos, quando voar era tão fácil como outra coisa qualquer. Essa é a verdade, a magia e a fé. No tempo certo saberás da unicidade do corpo, do coração e da liberdade. E aí, belo flamingo, poderás migrar.

terça-feira, março 15, 2005

bolas

Atchim! cof, cof, atchim. A autora estáaaa constíiipáada. Aaaatchim!

quinta-feira, março 10, 2005

queixas

Ao telefone:
-Vê lá tu que continua com febre e que não me deixou pregar olho a noite inteira...
-Sai aos seus, dá más noites.

estética, simetria e outras provocações

O sentido estético além de pessoal é, pelo menos para mim ignorante na matéria, quase inexplicável. Tenho uma certa tendência para a simetria que creio estar associada à minha afamada preguiça. Para não me deter muito nos arranjos domésticos opto com naturalidade pela estética simétrica. Vela de um lado, vela do outro; boneco de um lado, boneco do outro, forma razoável de não ferir muito o meu sentido estético e, sobretudo, de não perder muito tempo em hipóteses mais elaboradas ou sofisticadas mas porventura mais originais e arrojadas.
Ora, a dúvida instala-se quando não existem dois objectos entre si similares. Nesta fotografia que ladeia as minhas palavras (roubada do site habitual), eu colocaria decididamente a flor do lado esquerdo sem que, no entanto, saiba dizer porquê. Mais curioso será, aliás é, a fotografia agradar-me precisamente porque me contraria, porque me provoca, é arrojada. E é aqui que reside o cerne da questão. Extrapolando para outros recentes "não sei quê" pessoais, vejo-me estarrecida mas eventualmente esclarecida, a saber, do lado esquerdo fico eu e ninguém te mandou provocar-me!

quarta-feira, março 09, 2005

filas ou multas?


Multas! Ainda não tratei dos papéis para o IRS...



dramáticos recursos

Apesar de consciente das nefastas consequências deste Inverno, celebro hoje aqui mais uma manhã radiosa de sol. Sem grandes motivos que a justifiquem, pelo menos aparentes, fui no entanto abençoada com uma belíssima disposição matinal que nem a audição consecutiva do cd do "batatoon", a pedido da linda menina que transporto no banco traseiro do meu veículo, pôde abalar. Desabituada que já ia andando a estes acessos energéticos positivos, estranhei a facilidade com que, mau grado o adiantado da hora, encontrei lugar para estacionar. Agora, sentada de frente para este ecran e este teclado, alimentando este blog com o que me vai passando pela vida e imaginário, deparo-me com a dificuldade não muito habitual de não saber o que escrever, dado que só me apetece espreguiçar e gozar esta serenidade. Como estou no meu local de trabalho, este sorriso idiota é tudo menos conveniente e adequado. Penso em coisas tristes, a situação do País, a minha conta bancária, os desencontros amorosos, mas nada, nada resulta. Como último recurso relembro a letra do "está no ar o batatoon" e trauteio-a um pouco... mas que fazer, hoje quem anda pelo ar sou eu!

terça-feira, março 08, 2005

dia da mulher

Todos os temas estão gastos. Também este. Perspectivas diferentes, mulheres diferentes, exageros, conformismo, análises mais ou menos bem elaboradas, manifestações barulhentas, lutas valentes, braços cruzados. Muita idiotice de muitos lados, sobretudo. Da já antiga queima do soutien como simbologia da liberdade da mulher ao radicalismo do abandono ao desleixo, tornando a mulher mais feia e menos mulher. Separemos definitivamente as águas até que no futuro nos seja dado juntá-las. Separemos os direitos das atitudes. Separemos as mulheres como separamos também os homens. Separemos criteriosamente os seres humanos.
Fui por diversas vezes confrontada com manifestações de puro machismo por parte de muitas mulheres, defensoras da superioridade masculina. Há uns anos isto irritava-me profundamente, confesso, irritava-me bem mais que as mesmas manifestações provindas dos homens. Hoje, não me irrita ver a mulher como objecto sexual porque também não me irrita ver o homem como objecto sexual. Como nas bancas, há publicações para todos os gostos, limito-me pois e apenas a escolher as que prefiro. Importante é que na Lei esteja assegurada a generalidade e a abstracção uma vez que, pessoalmente, não me é dado assegurar que na cabeça dos Homens que aplicam a justiça, a mentalidade se revolucione. A revolução, ou aqui com mais propriedade que noutras situações, a evolução das mentalidades, fez-se e far-se-á, até que a nossa própria mentalidade, actualmente revolucionária ou supostamente mais evoluída, se torne obsoleta.
Cito aqui as palavras de Júlio Machado Vaz, num dos seus posts:
“Leio Badinter, que se revolta contra determinado feminismo americano, incapaz de conceber a mulher noutro estatuto que não o de vítima nas suas relações com os homens. Sorrio, já li algo de semelhante em Camille Paglia - nos casos de assédio fora de uma relação hierárquica de poder, Badinter aconselha um "bom par de estaladas", como sugerido pela antiga ministra francesa dos Direitos das Mulheres, Véronique Neiertz.”
Concordo, Sr. Professor! Na verdade também eu já estou farta de vítimas. Não que rareiem as verdadeiras vítimas mas vulgarizaram-se exponencialmente os auto-vitimados. O processo de vitimização pessoal é um processo curioso pelo qual de resto, e por motivos muito pessoais, nutro um certo deslumbramento desdenhoso. Nutro no entanto, e com o mesmo vigor, as mesmíssimas sensações pouco cordiais relativamente às mulheres que se arvoram em superiores a todas quanto, pelos mais variados motivos, cuidam de forma preocupada da sua aparência e do seu corpo. Porque, se deste lado se escondem as vaidades, a tentativa de agradar e atrair o macho, preocupações de resto milenares e co-partilhadas com os restantes animais, do outro, escondem-se tantas vezes as inseguranças, a falta de auto-estima, os traumas relacionados com um corpo pouco atractivo, por mulheres frustradas e que, pouco crentes na sua feminilidade, escamoteiam a sua verdade por detrás de uma atitude supostamente intelectual, arrogante e desleixada.
Hoje é dia da mulher. Celebrem-se as conquistas do direito ao voto, do direito ao trabalho, da assistência na maternidade, da assistência e acompanhamento às vítimas de violência doméstica mas não a masculinização da mulher. É que eu cá gosto de andar arranjada, perfumada, depilada, de usar lingerie sensual, gosto de ser desejada pelos meus parceiros e por mim própria. Sejamos francos, ser-se um objecto sexual não é só para quem quer mas também (e ai que inveja...) para quem pode! Quanto a mim, continuo a conseguir pensar mesmo de salto alto...

segunda-feira, março 07, 2005

o meu sofá

Estou aqui sentada no sofá, curiosa dos meus passos que deambulam pela casa. Ouço-lhes o som e são firmes. Vão e regressam de mim e até mim. Há pouco pararam no espelho e dizem que de lá estava alguém a sorrir. Conheço esse sorriso tão bem quanto os meus passos. Depois, levaram-me o corpo e puseram-no de frente para o seu reflexo. Curvilíneo. Abafado pelas roupas menores. E o espelho embaciou. No vapor quebrado pelas minhas costas, guardaram-se as marcas. Omoplatas. Os pés pendentes, afastados, como inertes, inanimados e, entre eles, essa sombra que crava as mãos ávidas no meu espelho e as unhas e beijos no meu colo até à convulsão do esquecimento se sou já eu ou os meus passos que se vão, para lá deste sofá.

gelado



Sou uma bola de gelado derretida, imersa na água e na vida, frutas, sabores de chocolate e baunilha, presa no palato, liquefeita, colorida. Sou sabor de Inverno em dia de Primavera e quem me dera ser assim tão perfeita como o sabor que dizes que te fica.



é tão relativo

De regresso à realidade, depois de um qualquer anjo me ter tomado nas suas asas níveas, sinto os pés no tapete e os olhos no corpo. E pensar que estamos sempre a esta distância entre a luz e as trevas. Está frio. Procuro as meias de lã e algumas memórias. Estiveram sempre ali ao alcance da mão, prontas a serem usadas ou esquecidas. Depois do céu, a terra é muito relativa. Ligo o aquecedor a óleo e cubro-o com o pijama. Vestida de quente baralho-me nos lençóis que se tornam de novo imensos como a praia que fica deserta dos banhistas apressados porque às oito joga o Benfica.

sábado, março 05, 2005

em tempo



Se a vida durar um dia, escolhamos apaixonadamente uma flor e, se a morte sempre vier, talvez com o frio da noite incipiente, agradeçamos primeiro a quem nos soube dar guarida que não nos aproveitará a desculpa de o tempo ter sido escasso.



sexta-feira, março 04, 2005

convalescente

Cor só pela cor. Rosas e verdes. Embriaguez não etílica em doses reforçadas e forçadas de alegria. Preciso desta terapia de luz. Como preciso da mão amiga. Dou-lhe o valor que outros deram à minha. Já quase deixei de me censurar. Estou assim convalescente. Que quem convalesce não recusa o remédio que lhe dá a cura. Não questiona quando o toma sobre a doença em que se poderá tornar. Olha-se a cor e a mão que nos estendem e fecha-se o horizonte à expectativa imediata do tempo.

quarta-feira, março 02, 2005

ponto final parágrafo






Dois pontos, travessão.







terça-feira, março 01, 2005

profecias do deserto

De que me serve ser felina no deserto, sem o som dos teus passos pelas dunas, afagando os silêncios com palavras, afastando os fantasmas com sorrisos, construindo no meu corpo paraísos.
E agora que domino a solidão, entre os corpos que ao vento se me mostram e aí mesmo, quase logo, estratificam, que o teu corpo em miragem simplesmente, ainda tanto me alucina,
erro pela noite demorada, demoro lentamente entre os escombros, partilhando estrelas apagadas, recontando entre nada os tesouros.
E as juras de areia proferidas que ao deserto são em sonhos devolvidas quis eu, felina do deserto, transformar em verdadeiras profecias.