segunda-feira, março 28, 2005

marés

Volto a ti pela maré cheia quando me alongo pelas areias ressequidas, metamorfoses de rochas poderosas, imponentes, hoje fragmentos amarelados, inertes, sem relevo. E nos braços de mar que te levo ao colo e ao ventre, deixo salpicos de uma tempestade e tu, seiva fértil que recolho e trago, adormeces a fúria na serenidade de um olhar antigo. Fazemos juntos a história do momento, sem relato, na mudez dos gestos e do torpor, na certeza do que foi porque assim devia ser. Transbordamos as cascatas de sabão inocente, lavando os pecados e o corpo etéreo, em água corrente, que por onde correu o passado e correram mãos de frémito, corre de novo o presente.
Volto a ti pela maré vaza, falando da constância das marés, quando recolhida a ti me estreito na conversa, segredando o silêncio partilhado, de mão dada ao meu lado, quando em vão e por fim, chamamos o esquecimento.