o meu sofá
Estou aqui sentada no sofá, curiosa dos meus passos que deambulam pela casa. Ouço-lhes o som e são firmes. Vão e regressam de mim e até mim. Há pouco pararam no espelho e dizem que de lá estava alguém a sorrir. Conheço esse sorriso tão bem quanto os meus passos. Depois, levaram-me o corpo e puseram-no de frente para o seu reflexo. Curvilíneo. Abafado pelas roupas menores. E o espelho embaciou. No vapor quebrado pelas minhas costas, guardaram-se as marcas. Omoplatas. Os pés pendentes, afastados, como inertes, inanimados e, entre eles, essa sombra que crava as mãos ávidas no meu espelho e as unhas e beijos no meu colo até à convulsão do esquecimento se sou já eu ou os meus passos que se vão, para lá deste sofá.
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