quarta-feira, dezembro 15, 2004

a minha razão

Não consigo ouvir as palavras da razão dos outros. Porque essa não é a minha razão. Irrazoável que seja, a minha, tão cheia das vozes do coração, grita mais alto, mais forte e essa é ainda a minha razão. Não ouço a tua, nem as tuas palavras. Tão coincidentes com a razão dos outros. Ouço os teus olhos, o calor do teu corpo, tão recente ainda na penumbra da minha memória, que me grita como o meu coração e é desses gritos que faço a minha razão. E que me importa não ter razão alguma. Que me importa a minha irrazoabilidade, se consigo encontrar um sentido no teu silêncio mais forte que no das tuas palavras. Que me importam os juízos, as receitas, as razões, as teorias de felicidade, se só consigo encontrar alegria nesta minha razão, nesta minha vontade. Não, não vou ouvir a razão dos outros. Porque essa não é a minha razão. Não, não ouço as tuas palavras quando creio ouvir o teu coração dizer-me, como os meus gritos, que sou eu, só eu que tenho a razão. E até que emudeçam os gritos, que se calem essas vontades, que se te apaguem nos olhos estas minhas e tuas verdades, não venhas tu nem os outros falar-me de razoabilidades.