terça-feira, abril 10, 2007

sol&tude

Reaberto o barraco atirou ao mar uma flor já murcha que ali ficou a debater-se até ao total afogamento. Curiosa a forma como fora desaparecendo antes de ser engolida. É assim em tudo o que resiste ao tempo por um tempo. Todas as forças se esgotam. Importante é a semente da renovação ainda que germine tardiamente - diz quem acha determinante a resistência da espécie ao fastio dos séculos. Daquela flor, provavelmente na barriga de algum peixe, far-se-ia uma digestão serena. Pouco provável que crescesse forte rebentando pela boca de um atum que espadanando as águas anunciaria outro Verão.
O toldo espalhava a parca sombra de um meio-dia perdido nestes desvarios. Os olhos procuravam na sombra marcas do Inverno, como se dele pudesse ter sobrado o frio nas prateleiras da sua alma ou algum calor nos ímpetos do seu corpo. Tudo saíra com a prontidão exigível a visitar uma última vez a nostalgia - essa amiga distante que dá nome ao que parece nunca acabar.
A toque de vassoura aprumara o estaminé. Veio-lhe uma voz distante de um barco mais próximo que os demais. Tempo de embarcar anunciava o arrais e os sinos do torreão da igreja. Mais uma vez arriscar-se-ia a flutuar pelos embaraços do tempo na mesma atitude de fé.

2 Comments:

Blogger vague said...

a renovação, a resistência, a fé, - fôlegos que alimentam, fogos que respiram.
a tua definição de nostalgia é uma óptima frase q honraria qq livro de citações

10:08 da tarde  
Blogger nana said...

renovação
renascimento
sempre

3:28 da tarde  

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