a cadeia alimentar do amor
Parece-me que há sempre alguém que espera por nós enquanto esperamos um pelo outro. As cadeias alimentares dos sentimentos e os desvarios das sobremesas gulosas. Tome-se um dia de cada vez como gesto profiláctico. Tome-se a manhã como um acaso do ocaso de açúcar que apetece. Talvez se defina um regime alimentar equilibrado desta vontade de debicarmos os corpos quando a fome desponta. Só o café se deve tomar por vício – disse-te quando a cama estava ali ao lado. Creio que já não tive razão, por não saber definir com precisão a barreira com o prazer. Depois o cigarro não ajuda. Irrompe a tosse a lembrar que somos predadores quando pretendemos esquecer a condição de humanos. Habituei-me a sublimar, mesmo quando te arranho as costas e as coxas, mesmo quando as argolas do fumo escrevem the end e ficamos sentados a olhar o fundo preto do écran. Poderia ter saído logo após. Aqui reside o problema do ser pensante - a cortesia do garfo e da faca, do guardanapo sobre o colo. Eu pensei que tu pensasses que para nós era tempo de partir. Para mim era. Também para ti, percebi antes até. Antecipo frequentemente o aborrecimento da normalidade. Jura-se fazer dieta após o almoço com a mesma veemência com que a adiamos pelo lanche. Já pensei na validade deste padrão que se repete intermitente. Mais intermitente pela vergonha da sua falta de classicismo. O reduto do conservadorismo nas mais liberais cabeças que o renegam. Põe-se a chave na porta da entrada e suspira-se numa ligeira sensação de conforto. Rebobinam-se os gastos calóricos e a exuberância dos acepipes agora numa mais clara percepção do medo. Por certo há alguém que espera por nós enquanto nos entretemos a levar a vida de forma frugal.
13 Comments:
Comia-te esse berbigão...
LOL LOL LOL!!!
Pois, a cadeia calórica:
transposição das energias do "Eu" para o outro...:-)
(E se o sentimento é considerado uma gordura polissaturada?...)
P.S - Cintilante, a tua escrita!
Há sempre alguém à nossa espera num sítio qualquer, como no livro.
E se alguém esperar por nós, isso altera o q sentimos por quem esperamos e nos espera?
Ora essa Pedro, não és tu que és alérgico ao marisco? :)
É bem capaz SGC visto que estou algo poli saturada ;)*
Não sei Vague Maria mas o desconhecido ora conforta ora atemoriza. :*
Não, eu sou alérgico é à péniscilina...
Vaguear de olhos fechados sobre a calçada... 'ir por aí', porque há sempre alguém que nos deseja, que nos espera (como disse Vague)...
:) estava a brincar pedro!
cores da vida: vaguear de olhos fechados pode dar direito a trambolhão ;)
Isso o quê virgilino? E já agora é directa ou inversamente proporcional?
Sim, "há sempre alguém que espera por nós". Quando isso deixar de acontecer estaremos mortos, mesmo permanecendo vivos...
Obrigada Virgilino pelo esclarecimento.
Aires Montenegro: concordo, é bem verdade que há muita forma de estar morto ou de ser um morto vivo :)
BASTET , tens um desafio à tua espera :)))
Beijo
www.revelando.blogspot.com
Só levamos a vida de forma frugal porque nos preocupamos com a linha e a nossa elegância, ora! ;-))
Navegas no mar das palavras, independente de calmaria ou tempestade, me parece, pelo simples prazer de permaneceres no teu elemento.
Já me fizeste umedecer os olhos, já me fizeste rir... de agradeço por isso, amiga: de coração, te agradeço.
Enviar um comentário
<< Home