terça-feira, julho 04, 2006

a cadeia alimentar do amor

Parece-me que há sempre alguém que espera por nós enquanto esperamos um pelo outro. As cadeias alimentares dos sentimentos e os desvarios das sobremesas gulosas. Tome-se um dia de cada vez como gesto profiláctico. Tome-se a manhã como um acaso do ocaso de açúcar que apetece. Talvez se defina um regime alimentar equilibrado desta vontade de debicarmos os corpos quando a fome desponta. Só o café se deve tomar por vício – disse-te quando a cama estava ali ao lado. Creio que já não tive razão, por não saber definir com precisão a barreira com o prazer. Depois o cigarro não ajuda. Irrompe a tosse a lembrar que somos predadores quando pretendemos esquecer a condição de humanos. Habituei-me a sublimar, mesmo quando te arranho as costas e as coxas, mesmo quando as argolas do fumo escrevem the end e ficamos sentados a olhar o fundo preto do écran. Poderia ter saído logo após. Aqui reside o problema do ser pensante - a cortesia do garfo e da faca, do guardanapo sobre o colo. Eu pensei que tu pensasses que para nós era tempo de partir. Para mim era. Também para ti, percebi antes até. Antecipo frequentemente o aborrecimento da normalidade. Jura-se fazer dieta após o almoço com a mesma veemência com que a adiamos pelo lanche. Já pensei na validade deste padrão que se repete intermitente. Mais intermitente pela vergonha da sua falta de classicismo. O reduto do conservadorismo nas mais liberais cabeças que o renegam. Põe-se a chave na porta da entrada e suspira-se numa ligeira sensação de conforto. Rebobinam-se os gastos calóricos e a exuberância dos acepipes agora numa mais clara percepção do medo. Por certo há alguém que espera por nós enquanto nos entretemos a levar a vida de forma frugal.

14 Comments:

Blogger Alcabrozes said...

Comia-te esse berbigão...

5:56 da tarde  
Blogger Alcabrozes said...

LOL LOL LOL!!!

5:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pois, a cadeia calórica:
transposição das energias do "Eu" para o outro...:-)
(E se o sentimento é considerado uma gordura polissaturada?...)

P.S - Cintilante, a tua escrita!

7:03 da tarde  
Blogger vague said...

Há sempre alguém à nossa espera num sítio qualquer, como no livro.
E se alguém esperar por nós, isso altera o q sentimos por quem esperamos e nos espera?

8:08 da tarde  
Blogger Bastet said...

Ora essa Pedro, não és tu que és alérgico ao marisco? :)

É bem capaz SGC visto que estou algo poli saturada ;)*

Não sei Vague Maria mas o desconhecido ora conforta ora atemoriza. :*

9:24 da tarde  
Blogger Alcabrozes said...

Não, eu sou alérgico é à péniscilina...

12:34 da tarde  
Blogger Madalena said...

Vaguear de olhos fechados sobre a calçada... 'ir por aí', porque há sempre alguém que nos deseja, que nos espera (como disse Vague)...

1:47 da tarde  
Blogger Bastet said...

:) estava a brincar pedro!

cores da vida: vaguear de olhos fechados pode dar direito a trambolhão ;)

Isso o quê virgilino? E já agora é directa ou inversamente proporcional?

3:33 da tarde  
Blogger Aires Montenegro said...

Sim, "há sempre alguém que espera por nós". Quando isso deixar de acontecer estaremos mortos, mesmo permanecendo vivos...

12:16 da manhã  
Blogger Bastet said...

Obrigada Virgilino pelo esclarecimento.

Aires Montenegro: concordo, é bem verdade que há muita forma de estar morto ou de ser um morto vivo :)

10:13 da manhã  
Blogger Tempestade said...

Memórias, lembranças, sonho perdido na tempestade...

10:24 da manhã  
Blogger Toze said...

BASTET , tens um desafio à tua espera :)))

Beijo
www.revelando.blogspot.com

12:21 da tarde  
Blogger Mar said...

Só levamos a vida de forma frugal porque nos preocupamos com a linha e a nossa elegância, ora! ;-))

12:33 da tarde  
Blogger batista filho said...

Navegas no mar das palavras, independente de calmaria ou tempestade, me parece, pelo simples prazer de permaneceres no teu elemento.
Já me fizeste umedecer os olhos, já me fizeste rir... de agradeço por isso, amiga: de coração, te agradeço.

8:24 da tarde  

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