quarta-feira, julho 14, 2004

janela entaipada

Há muito tempo que conheço esta janela. A mesma fresta diária que me traz o mundo aos tropeções. A minha janela é uma janela de traseiras, de poucas notícias. Às vezes de tão poucas notícias que as invento, que construo com poucas personagens uma ou outra historieta. Há um gato que passa incólume pelo muro onde colaram vidros. Coloca, cauteloso, as almofadinhas das patas nos interstícios seguros da pedra, fazendo lembrar as cautelas de que por vezes nos rodeamos e caminhamos na vida.
Há um prédio degradado de fronte. Janelas largas, indiscretas que se assoberbam de visões para esta, minha, mais discreta.
Outras circunstâncias, vejo-lhe passar entre as portadas as imagens reflectidas da minha memória e quantas vezes corro então a cerrá-la, a medo de que se atropelem no presente. As doces, deixo-as bailar nos reflexos do vidro, saboreando-as lentamente entre uma ou outra lágrima revivalista. Esta janela ganhou peso de vida. Importância de gente.
Esta janela que hoje me entaiparam de rede verde, verde de esperança, sem aviso prévio ou consentimento. Penduraram-lhe andaimes no ventre onde passeiam, alheios às vertigens, figuras de trabalho. No verde tão esperançoso dou por mim a imaginar a hora Coca-Cola Light!

3 Comments:

Blogger Alcabrozes said...

Será a tua janela indiscreta?
o.n.p

4:13 da tarde  
Blogger Bastet said...

Quando as janelas se tornam muito indiscretas, corremos as cortinas...

4:40 da tarde  
Blogger forass said...

Será que está mesmo entaipada? Ou será que não as lavas à muito tempo? Vê bem, porque às vezes é mais fácil do que parece... basta lava-las, não necessitas do gajo da CoCaCola para te tirar os pregos!!!

3:37 da tarde  

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