artes de marear
Quando o sol já quase não o era e deixava no seu lugar uma pálida irmã prateada, ela recolheu-se ao cais. Deixou as pernas ao sabor do sal e recostou o tronco na pedra quente. Naquele mesmo lugar, fazia os autos de fé dos dias submersos e emaranhava entre os dedos nós de cabos com que prendia o barco à vida. Sulcara tormentas nestes dias, razões e palavras em estado catatónico de suspensão... Sabia agora que não havia métodos que os mais intuitivos e primários. Pela sobrevivência deitara lastro de orgulhos feridos e ajoelhara a Neptuno pedindo protecção. Vira em solta torrente as lágrimas adornarem-lhe o corpo quase ao espelho do mar. Ter-se-ia deitado à sua sorte, ou à sua falta, ter-se-ia despedido com fumos de luto, ter-se-ia desapegado de outra sua parte, ter-se-ia feito a outros ventos.
O deus das águas, daquelas a que se prometera, dera luz às suas preces. Devolvera-lhe o sorriso pelo que alienara. Devolvera-lhe leme e carta. Com o corpo meio submerso, metamorfose de casco sem âncora, por artes de marear, soubera em fé aportar ao cais.
O deus das águas, daquelas a que se prometera, dera luz às suas preces. Devolvera-lhe o sorriso pelo que alienara. Devolvera-lhe leme e carta. Com o corpo meio submerso, metamorfose de casco sem âncora, por artes de marear, soubera em fé aportar ao cais.
3 Comments:
Ou muito me engano ou a menina tem artes de navegante!
Gosto da sua arte de navegar, pois, por vezes, perfere a aventura de navegar à bolina à segurança da navegação de cabotagem.
E como é bom quando, quer a bombordo quer a estibordo, só o mar nos acompanha.
o.n.p
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Rui:
Será muita presunção achar que o linque que fez para Sol&Tude poderá estar enganado já que não aporta neste blogue? Ou a "esperança de um reencontro" justifica tamanha presunção?
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