segunda-feira, julho 26, 2004

cada bico sua sentença


A pata da pata Aquilina encontrava-se presa. Uma daquelas cruéis armadilhas feitas por cruéis pré-adolescentes cerrara-se com precisão entre as suas membranas. Já havia algum tempo que Aquilina, impossibilitada de chorar, clamava “quás” o mais alto que podia. Perante o alvitre, acercou-se um grupo de patos  dispostos a discutir e quem sabe a resolver o problema. O pato Patacôncio de bico laranja, saído de fresco da reunião magna da Patolândia, perguntava os dados pessoais de Aquilina.
Aquilina, em desespero de causa, questionava-se sobre o sentido de tanta pergunta e informação: “O que interessa saberes quem sou? Tira-me mas é daqui!” – Avisado e algo ofendido, Patacôncio preparava-se para uma longa explicação acerca das vantagens e obrigatoriedade de recolherem a sua ficha para o cadastro da Patolândia.
O pato de bico vermelho, Curvacho de seu nome, visivelmente perturbado com a situação, clamava  a bom som que iria bicar os responsáveis. Enquanto aquele procurava adeptos para o movimento de revolta recém formado, Calimero, por seu turno, juntava as asas em jeito de prece e padecia, solidário, por Aquilina. Já o bico roxo de Calimero ia na terceira salve patinha quando chegou o Alfaçório.
- Amigos este é o resultado de uma política ambiental e cultural inexistentes. Aquilina é uma vítima do sistema. Que o meu bico verde mude de cor se ainda hoje não faço um manifesto! Abaixo as armadilhas e a cultura alimentar humana que oprime os patos!
Curvacho e Alfaçório recolheram atrás de uma moita traçando planos.
Neste entretanto, Aquilina atónita com o que a rodeava, resolveu pedir ajuda a uma raposa que ali passava. Mal por mal, pensava com as suas penas, mesmo que me coma sempre ponho fim ao meu sofrimento.
Calimero meditava agora sobre a propriedade e  legitimidade da eutanásia. Pobre Aquilina que iria arder na pira dos patos suicidas...
A raposa, verdadeiramente confundida com a situação, chegou perto de Aquilina e esta sussurrou-lhe algo ao ouvido. Pouco depois, Aquilina rejubilava com a liberdade devolvida e fugia a bom fugir.
A raposa demorou-se mais um pouco enquanto terminava a sua lauta refeição avícola...
Moral da História: Mais vale o perigo de te comerem que a neura de nada fazerem!