sexta-feira, julho 23, 2004

e quando


E quando o passado
se mistura, se intromete,
como vizinha na janela,
à espreita.
Devolve em catadupa
o bom, o mau, aleatório,
de forma pronta e bruta.
E quando o presente se escoa,
nos canais intermináveis
do talvez.
E quando te recordo
e não vejo o que lembrar
como a vizinha alteada
que na janela se debruça
sem saber o que espreitar!
Quando não há razão
na memória,
nem sentido na procura,
e não queremos que nos digam:
- E agora?
E quando a vizinha desinteressada,
da janela para a cozinha
se apressa no jantar,
enquanto ela faz o refogado,
percebemos ter passado
a razão de recordar