segunda-feira, julho 26, 2004

apocalipse

"Ouvi uma voz forte que saía do santuário e que dizia aos sete anjos: Derramem na terra as sete taças da ira de Deus".
Já se avolumavam à porta do castelo cavaleiros virtuosos e aduladores experimentados. João, que perdera o Graal entre os delírios, chamava pelo Rei dos Pescadores. As plumas dos elmos coloriam o céu vermelho quase até à nuvem reluzente onde estava o Rei. O seu reino era um ermo que a ninguém servia e a velha pergunta perdera-se entre as ruelas como lenda esquecida. A quem servia o Graal? No abandono da espiritualidade pela senda do poder, da excitação e da novidade, a falta de prudência revelara-se veneno mortal.
Aquela era a ferida comum. Na escolha do caminho amplo do facilitismo entendiam agora a voz que tonitruante soava sobre as suas cabeças. Pela taça perdida e pelo perdido gosto de saborear a sua procura, herdaram raivas e depressões. O fosso que os separava do castelo, dividia a espiritualidade da racionalidade, a abundância da escassez, a dádiva do recebimento.
- O meu nome é João e beberei as taças da ira!
-Como diz?
-Perdi o Graal dentro de mim, beberei as sete taças da ira para que não se derramem sobre o ermo deste reino. Para que a ferida se cure e voltemos ao Paraíso.
Estupefactos, os caval(h)eiros de fato e gravata, entreolhavam-se. Já não era a primeira vez que alguém se passava na fila da Caixa Geral de Depósitos.

2 Comments:

Blogger Helena said...

:D

1:18 da tarde  
Blogger Softy Susana said...

Hilariante!

6:45 da tarde  

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