suave vento de leste
"Torrente interminável de emoções,
Turbilhão selvagem dos sentidos
Aroma sensual entorpecente
Entrega total sem reservas ou mordomias.
Assim vejo Bastet!"
Ao sol a solidão é igual mas a atitude é diferente...
Quando a música cheira a cafés antigos e a roupas negras, a cigarros queimados por entre os lábios e os dedos de amantes abandonados, quando a música chora aos nossos ouvidos arrastando os compassos em nostalgia e os olhos se vêm perdidos por entre o vidro e o nevoeiro de uma vida, vítreos, parados, vagueando por mais negros lados que a negritude das roupas dos amantes hipnotizados, embriagados pelos acordes que se soltam dedilhados numa qualquer guitarra. Quando a música cheira a Inverno numa noite quente, agasalhando as madeiras de fumos de lareiras e pingos de chuva, numa voz rouca, tão profunda que arrasta consigo a tempestade, que queres meu amor, sofro uma qualquer saudade de um tempo que não vivi, de um século a que não pertenci mas em que era mulher e em que te queria ao meu lado.
Oferece-me o futuro – pedia-lhe ela como quem pede uma maçã vermelha – que eu lego-te o meu passado, o que fui, o que fez de mim o que sou. Troquemos entre nós os tempos como quem troca de roupa, brinca comigo ao toma lá dá cá, acerta comigo o relógio nesta meia-noite e corramos juntos contra os ponteiros precisos. Abracemos todo o tempo, baralhemos as eras e as gerações até que a história se converta ao segundo do era uma vez, ao início de todas as vontades. Peço-te agora, no exacto momento em que o presente é tudo o que vale e em que a minha voz ecoa no teu peito.



Viagem no tempo. Quinze anos. Entro e olho para as paredes. Aventuro-me e desço a escadaria. Procuro o bar. Tudo diferente. Já não conheço quase nada. Outros ocupam as mesas de snooker onde, de repente, me julguei ver. O reconhecimento, talvez a saudade ou, pelo menos, a nostalgia, haverá de se ter estampado no meu rosto.