Estava Julieta à janela em espera por seu amor mas em vez de Romeu aparece-lhe um outro estupor.
- Quem sois vós?
- Ninguém!
A resposta seca e curta pareceu-lhe conhecida, não fora El Rei não sei quê que usara a mesma saída? El Rei não lhe parecia, não lhe encontrava semelhança, não lhe via nos traços a Casa de Bragança. De Romeiro o disfarce pareceu-lhe presumido, onde estaria Romeu, seu entre todos mais querido?
- Ao que vindes?
- Por vós!
- E vedes Romeu?
- Nobre Senhora, esse pobre, desta vez ensandeceu...
- Que dizeis? Que atoarda?
- O que ouvides Senhora, está no Miguel Bombarda!
- Meu Deus, meu Deus, Dai-me Vós a valentia, pois se ainda há dois dias o meu ventre ele aquecia... mas como sabeis de Romeu?
- Julieta, Senhora, ele não passa de um louco e das suas recentes façanhas já sabe todo o povo!
- Façanhas? Mas de que falais?
- De vós Senhora e das demais...
- Mentides, não vos acredito.
- Eu não sou como ele, não dou o dito por não dito.
- Sois um alcoviteiro disfarçado de Romeiro!
- Serei o que quiserdes mas pelo menos não ando a comer duas mulheres...
- Calai-vos sois um mentiroso, Romeu será muita coisa mas não é homem fogoso!
Ao quarto se recolheu, Julieta atordoada, crendo que estaria a delirar acordada. Pensou e repensou e viu alguma verdade nas palavras que ouvira naquele triste fim de tarde. Pois se em tempos assim fora... não levara ele ao engano a outra pobre senhora? Relembrou embevecida as tardes e noites de cama enquanto a outra mulher se julgava a única dama! Ah, Romeu infiel! Quase lhe parecia agora um torpe romance de cordel. E as juras de amor trocadas ao som de harpas e liras? Teriam sido as últimas pelo dia das mentiras? Não, não, eram mais recentes, se ainda na sexta passada tinham sido imprevidentes! Pelo almoço é certo... teria sido mais à noite que ele se armara em esperto? Oh, Romeu que me dizes tu agora? Que podemos ser amigos e ir almoçar fora? Pois se em Fevereiro passado acabaram o almoço unidos em pecado!
Julgava-o capaz de tudo, estava louco o coitado! Mas enquanto conjurava, ao seu destino matreiro, já à janela assomava o tal do alcoviteiro.
- Porque sofreis Senhora por tão desmerecido cobarde?
- Porque fui tonta Romeiro e agora já é tarde...
- Mas tarde porquê? Nunca é tarde Senhora, para correr com os malandros à paulada de vassoura!
- Ide, ide-vos depressa que já chega minha aia e vem com muita pressa...
Entra a aia nos aposentos e interrompe Julieta ao choro e aos lamentos.
- Senhora, Senhora, trago-vos aqui um recado, trouxe-mo em mãos, de D. Romeu, um criado.
- Dai-mo, dai-mo Ana, minha aia!
- É de Romeu Senhora?
- É de Romeu o louco...
- Que diz ele Senhora?
- Que lhe soube a pouco, que não fez por mal, que está internado num hospital, que ouve vozes e sons de corneta, que lhe perdoe... Conversa da treta!
- Que ides vós fazer?
- Continuar a viver e que ele não me apareça, e que desta feita o meu coração, não fraqueje, não amoleça... E vós aia, Ana aia, não deixeis que ele vos chore na barra da vossa saia!
Caí o pano em tão desolador cenário e assim culmina a história de Romeu o Otário.