Todos os temas estão gastos. Também este. Perspectivas diferentes, mulheres diferentes, exageros, conformismo, análises mais ou menos bem elaboradas, manifestações barulhentas, lutas valentes, braços cruzados. Muita idiotice de muitos lados, sobretudo. Da já antiga queima do soutien como simbologia da liberdade da mulher ao radicalismo do abandono ao desleixo, tornando a mulher mais feia e menos mulher. Separemos definitivamente as águas até que no futuro nos seja dado juntá-las. Separemos os direitos das atitudes. Separemos as mulheres como separamos também os homens. Separemos criteriosamente os seres humanos.
Fui por diversas vezes confrontada com manifestações de puro machismo por parte de muitas mulheres, defensoras da superioridade masculina. Há uns anos isto irritava-me profundamente, confesso, irritava-me bem mais que as mesmas manifestações provindas dos homens. Hoje, não me irrita ver a mulher como objecto sexual porque também não me irrita ver o homem como objecto sexual. Como nas bancas, há publicações para todos os gostos, limito-me pois e apenas a escolher as que prefiro. Importante é que na Lei esteja assegurada a generalidade e a abstracção uma vez que, pessoalmente, não me é dado assegurar que na cabeça dos Homens que aplicam a justiça, a mentalidade se revolucione. A revolução, ou aqui com mais propriedade que noutras situações, a evolução das mentalidades, fez-se e far-se-á, até que a nossa própria mentalidade, actualmente revolucionária ou supostamente mais evoluída, se torne obsoleta.
Cito aqui as palavras de Júlio Machado Vaz, num dos seus posts:
“Leio Badinter, que se revolta contra determinado feminismo americano, incapaz de conceber a mulher noutro estatuto que não o de vítima nas suas relações com os homens. Sorrio, já li algo de semelhante em Camille Paglia - nos casos de assédio fora de uma relação hierárquica de poder, Badinter aconselha um "bom par de estaladas", como sugerido pela antiga ministra francesa dos Direitos das Mulheres, Véronique Neiertz.”Concordo, Sr. Professor! Na verdade também eu já estou farta de vítimas. Não que rareiem as verdadeiras vítimas mas vulgarizaram-se exponencialmente os auto-vitimados. O processo de vitimização pessoal é um processo curioso pelo qual de resto, e por motivos muito pessoais, nutro um certo deslumbramento desdenhoso. Nutro no entanto, e com o mesmo vigor, as mesmíssimas sensações pouco cordiais relativamente às mulheres que se arvoram em superiores a todas quanto, pelos mais variados motivos, cuidam de forma preocupada da sua aparência e do seu corpo. Porque, se deste lado se escondem as vaidades, a tentativa de agradar e atrair o macho, preocupações de resto milenares e co-partilhadas com os restantes animais, do outro, escondem-se tantas vezes as inseguranças, a falta de auto-estima, os traumas relacionados com um corpo pouco atractivo, por mulheres frustradas e que, pouco crentes na sua feminilidade, escamoteiam a sua verdade por detrás de uma atitude supostamente intelectual, arrogante e desleixada.
Hoje é dia da mulher. Celebrem-se as conquistas do direito ao voto, do direito ao trabalho, da assistência na maternidade, da assistência e acompanhamento às vítimas de violência doméstica mas não a masculinização da mulher. É que eu cá gosto de andar arranjada, perfumada, depilada, de usar lingerie sensual, gosto de ser desejada pelos meus parceiros e por mim própria. Sejamos francos, ser-se um objecto sexual não é só para quem quer mas também (e ai que inveja...) para quem pode! Quanto a mim, continuo a conseguir pensar mesmo de salto alto...