sexta-feira, agosto 26, 2005

hoje

Começam as minhas

F
É
R
I
A
S

Voltarei lá pelo desmaio de Setembro...
Voltam comigo?
A todos um enorme ron ron!

quarta-feira, agosto 24, 2005

concurso o escritor famoso

Começou a votação para o concurso "o escritor famoso" lançado pelo Divas & Contrabaixos, participem!!!

até sempre

Ele ter-lhe-á dito uma frase - a última - nela condensava todo o amor e todas as cautelas. Ela pegou o filho nos braços e partiu. Sob o estranho céu carregado pelas máculas de uma tempestade ele ficou a olhá-la demorando a despedida. Gravava a sua presença, a sua frágil figura de mulher para que pudesse recordá-la e guardá-la eternamente. Partimos dos pais quando aceitamos companheiro e quando descobrimos o amor sintetizamos a génese da vida. A imagem do mundo vazio, das águas e das terras desertas era a sua inevitabilidade, mas nunca pudera supor esta mágoa, este sofrimento. De resto, nem o deus do mar pudera prever que naquela viagem ele teria outra missão, estas outras feridas para além das chagas que jamais algum sal poderia sarar.

segunda-feira, agosto 22, 2005

tecelagem

O verdadeiro saber é umbiguista. Fecha-se, retrai-se à secularidade das mãos que apanham pontas soltas e querem fazer meadas. Depois, juntam as agulhas sem preceito e ensaiam um primeiro agasalho para o Inverno. Sem mestres que lhes confiem a arte da tecelagem, adoecem com o frio que os trespassa e perdem vontade e fé por entre os farrapos pobremente tricotados. Quando em delírio de febre alguns julgam ser tocados, abençoados pelas mãos de uns poucos que na sua infinita sabedoria e compaixão choram o mal e a ignorância que grassa pelo Mundo. Assisto confusa e não sei no fundo por quem hei-de chorar se por quem não sabe tecer se por quem confiante guarda a medo o tear.

sexta-feira, agosto 19, 2005

outro nome

E se eu fosse outro nome? Colar-se-ia o seu som ao meu corpo, como se cola este que agora me chama? Teria eu subido árvores e muros e posto as minhas mãos no colo da terra? E os meus olhos, comportas de rios, que águas fariam verter quando assim os chamassem para o adeus? E se esse meu nome fosse gritado para lá do verde, onde aguardasse o teu corpo o meu retorno, que braços poria ao alto e que gestos de sobressalto queimariam a relva? Que revoltos beijos, que soltos cabelos, varreriam as encostas já molhadas pelo sossego e que noites teriam sido manhãs ao despontar do meu nome na tua boca?

quinta-feira, agosto 18, 2005

mãe

Há sempre um dia em que os pequenos pedaços se juntam e os traços formam sulcos, rugas. Há um momento exacto em que nos apercebemos da mudança apesar da suave constância deste percurso. E quando o pilar ao qual nos fundimos, repousa o cansaço nos nossos ombros, pedimos o milagre do retrocesso, renegamos a impossibilidade da ressurreição. Depois, há uma lágrima que antecede nostálgica o sorriso com que agora te abraço, ao mesmo jeito secular que contigo aprendi quando era minha a fragilidade.

quarta-feira, agosto 17, 2005

almoço de barro

Tenho entre mãos o meu destino e hesito largá-lo às correntes do vento e ao sabor da incerteza. Vou-o moldando com vagar, como barro macio e quente que me enche os dedos de probabilidades, de figuras mitológicas, de desejos alados e sonhos de terra firme. Vou-o colando ao corpo e absorvendo os seus dias de repetitiva monotonia. Preencho-me de mim até ao nada, até ao conforto ser penoso e vago, à irrazoabilidade da figura que moldo perder olhos e riso, calor e espírito. Sou moldura opaca de futuro e escorrência vaga de um passado que perdeu o sabor do sal e fome de vida. Atiro o destino ao palato e à sorte do coração. Perdi a razão das mãos, ganho a razão do instinto. Dentro de mim o barro flui, escolhe artérias e veias, demora-se em colagens e formas, em estátuas de mulher antiga. Vejo-me por dentro e revejo-me ao espelho. A serenidade do equilíbrio. Deixei-me ser o que se me escapava do medo. O resto de barro fértil. A coragem traz o gosto da aventura e é na liberdade das formas que me sacio.

terça-feira, agosto 16, 2005

karma

Unir-me-ei a ti quando formos perfeitos. Quando os nossos contornos se perderem na aurora dos tempos. Até lá, é apenas um percurso, um instante fugaz, a que dou e tiro significados de acordo com a razão dos sentidos e com a irracionalidade do pensamento. Vou brincando com as crianças e com as palavras, similares, porque com elas tudo se constrói e quase tudo se adivinha. Vou jogando com os medos e aprendendo com os amores. Guardo a sabedoria na alma e a experiência no corpo. Calo o que sei e falo o que duvido até ao total silêncio, à total verdade. Quando no azul for a minha mão que te guia e entenderes que jamais haverá outra certeza.

sexta-feira, agosto 12, 2005

a cabeça na areia

Jornal da noite. Avestruzes vítimas de abandono por estarem fora de moda. Recordemos a moda da avestruz. O incentivo à criação de avestruzes. A carne de avestruz abundava nos supermercados. Sapatos de pele de avestruz. Carteiras de pele de avestruz. A moda da carne não pegou e o look de estação, sabemos, é transitório. Abandonam-se rapidamente as criações de avestruzes. No Alentejo oito avestruzes são deixadas a morrer à sede e à fome. Cercadas. Passa uma alma caridosa. Um bom pastor. Afeiçoa-se à única avestruz sobrevivente. Diariamente a alimenta e lhe dá água por um tubo que arranjou para perfurar a cerca. São amigos. E esta moda dos partidos políticos não passará? Há quantas estações andamos a comer o pão que eles amassam. As opções políticas, económicas, que depressa nos impingem e mais depressa abandonam. Para quando a cerca ao redor desses passarões, que enfiam a cabeça na areia e o dinheiro nos bolsos, que se abstraem das vítimas com os seus piados inconsequentes? Aí estou em crer, não haverá por certo pastor que deles se compadeça.

quarta-feira, agosto 10, 2005

chapi & chapo





Este post é dedicado ao Mocho Falante!

os barbapapas




Desafio à memória dos trintões:
Quem se lembra dos Barbapapas?

e do...




Professor Baltazar?

a crise e as férias


Tendo em conta a crise nacional que atravessamos, o Sol&Tude resolveu expandir-se a novas e mais lucrativas actividades - a surf shop Solitude. Procedeu-se à contratação de um guarda do tipo canídeo que, reformado da função pública e por ordenado compatível, aceitou trabalhar ao seu jeito todo próprio para a gata Bastet, agora empresária em nome individual, lançada no negócio "fura ondas". É que é sempre a abrir!

terça-feira, agosto 09, 2005

perspectivas

Queremos ver os outros pelos nossos olhos. Foram estes que nos foram dados para que pudéssemos ver. Queremos compreender os outros pelos nossos próprios princípios e valores. São estes que temos disponíveis para avaliar e julgar. Queremos que nos amem como nós amamos. É este o amor que conhecemos e que sabemos manifestar. E contudo pasmamos e lemos o pasmo quando nos dizem quem somos e quando dizemos quem são.

segunda-feira, agosto 08, 2005

a minha escala

Mais do que louca, mulher. Mais do que mulher, amiga. Mais do que amiga, nunca...

visão

Dias e vozes, sons e mistérios. Certezas e passos. Curtos detalhes, parcas as vezes em que me perco. Olhos e risos breves. Quanto basta. Varandas e miradouros de onde te olho de longe e te sinto de perto. Sem pressas. Constrói-se, espera-se, aposta-se. Sei-te, adivinho-te, mais do que tu te sabes ou adivinhas. Recolho o prémio, guardo-o no bolso. Dou-te a mão, dou-te o meu corpo em antevisão. Leio os sinais, os fumos, os brilhos, as cartas. Faço o dia, rasgo o presente, sento-me, sinto-me, ausente.

sexta-feira, agosto 05, 2005

estou indo...

quarta-feira, agosto 03, 2005

concurso o escritor famoso

Este é o meu contributo para o concurso lançado pelo Divas & Contrabaixos.
O mote:

(...)Depois os que riam passaram a chamar-nos namorados. Às vezes atiravam-nos uma pedra que nunca acertava e fugiam. Começámos a sair da escola durante o intervalo grande, que era de trinta minutos, acho eu, e desfrutávamos o facto de àquela hora o baloiço do parque estar sempre livre. Às vezes a meia hora passava a uma, ou mais, até que a professora chamou os nossos pais por mau comportamento. O que é que eu andava a fazer com a Helena, perguntou-me a minha mãe à noite. Andamos de baloiço, respondi.
E o baloiço oscila ao vento (...)

Nunca soube se era verdade o que dissera à minha mãe ou se, velada, seria a primeira cautelosa mentira que ensaiara. Era verdade que as horas balouçavam livres, mais livres que o balouço onde esvoaçava o vestido de Helena e que elas perdiam o vulgar sentido porque tocavam a eternidade. Não era por certo a verdade dos livros escolares, que ficavam arrumados em monte junto do escorrega amarelo, onde eu me estendia de braços erguidos desfrutando o sol e o guinchar monótono das correntes que sustinham Helena no firmamento. Via-lhe a biqueira dos sapatos de fivela azuis escuros a aparecer a espaços certos, compassados, por vezes mais apressados, quando Helena os apontava ao céu para tocar as nuvens. Eu já lá estava. Levitava-me do escorrega amarelo e sentava-me na nuvem maior. Esperava os pés de Helena e roubava-lhe os sapatos. Por cada vez que me chegavam ao colo arrepiava-os de cócegas. Certa vez prendi-os. Segurei-os com firmeza e sentei Helena ao meu lado na nuvem maior. Houve um instante de receio ou de clarividência. Os livros da escola não ensinavam a voar. E o peso da racionalidade apelava à gravidade, a lei que chama os corpos à terra desde a lenda da maçã. Pus-lhe os dedos nos amarelos fios de cabelo e os lábios abertos sobre os dela muito ao de leve, e de leve suspirei para eles, por eles, quase um sopro de velho cansaço pouco próprio da minha idade. Mas as horas não tinham sentido. Se passavam leves, passavam rápidas, trazendo a sabedoria do que não se troca, as letras de todos os livros onde se ensina o amor. E eu precisava de Helena. Do cinzento de espanto que se lhe derramava nos olhos ao ver-se tão leve, sentada na nuvem maior. Da bruma carregada das suas sobrancelhas quando não percebia o mundo e as flores pisadas. Dos seus pés trapezistas, das suas mãos miúdas, da alma de luz que se lhe desprendia por entre os dentes. O amor traz esta fragilidade de ter objecto, como face inversa da força que nos dá para o proteger. O amor traz-nos certezas absolutas, tão absolutas quanto a dimensão da sobrevivência e mais válidas que documento lavrado com selo.
Dessa vez escolhemos destino, destino maior que o nosso recreio, um que preenchesse incontáveis viagens de balouço e mais dias que os dias que sabíamos contar. Dessa vez descemos da nuvem maior com palavras certas e recolhemos os livros nos braços. Alinhámos os passos e desatámos correria atados pelas mãos. Corremos tanto que teremos corrido demais. Corremos tanto que o balouço envelheceu a oscilar.
O que faço eu sem Helena, minha mãe?

terça-feira, agosto 02, 2005

recuerdos

Guardei as malas no porta bagagens forjando um sorriso de férias, iludindo as expectativas de uma criança. Soube depois que dormias. Alimentando os sonhos de outra mulher. Fazia um ano que me mudara e mudava-me de novo, temporariamente, por um mês. Devo-te umas palavras no silêncio em que te deixei. Não se devem palavras quando se devem promessas, nem se fazem promessas quando se oferecem só palavras. Duas viagens ou viagem e meia. Ida, volta e ida. Esperei mensagens em garrafas na manhã seguinte quando um sorriso infantil me obrigou a reagir. Demasiado cedo para que mais alguém ousasse espreitar a praia. Enterrei as lágrimas na areia e os pés no mar. Esperei mensagens em garrafas por muitas manhãs. Séculos após, acordo numa casa vazia ou meia vazia. Um gato triste que mia a ausência de uma criança. Eu, que calo a ausência dessa mesma criança. Paredes meias com o passado dá-me para olhar o futuro e pintá-lo no teto. Rosa, azul, verde água, tons pastel. Procuro-te e sei que não estás lá, nessas alegorias do futuro. Ao menos isso. Troco por segundos dois anos de história. Não troco por nada o que prevejo. Antes assim. Já não forjo sorrisos nem embalo promessas. Já não escuto palavras nem ocos silêncios. Beijo a voz miudinha que me chama mãe e aperto o som por entre as mãos. Por entre as ondas boia uma garrafa vazia, tão vazia que nela há-de caber o amanhã.

segunda-feira, agosto 01, 2005

ecoponto

Aliviai-vos de vossas cargas, dos pesos funestos, deitai no lixo o que não presta, o que vos incomoda, as dores e os apertos. Sentai-vos e ponderai que esse outro que por vós passa mais alegre e sorridente, se caminha altivamente, ter-se-á dobrado certamente aos seus próprios descarregos. Esta é a verdade, paralelo incontornável, comunhão universal, nada distingue o Homem na hora em que cheira mal.