quarta-feira, agosto 17, 2005

almoço de barro

Tenho entre mãos o meu destino e hesito largá-lo às correntes do vento e ao sabor da incerteza. Vou-o moldando com vagar, como barro macio e quente que me enche os dedos de probabilidades, de figuras mitológicas, de desejos alados e sonhos de terra firme. Vou-o colando ao corpo e absorvendo os seus dias de repetitiva monotonia. Preencho-me de mim até ao nada, até ao conforto ser penoso e vago, à irrazoabilidade da figura que moldo perder olhos e riso, calor e espírito. Sou moldura opaca de futuro e escorrência vaga de um passado que perdeu o sabor do sal e fome de vida. Atiro o destino ao palato e à sorte do coração. Perdi a razão das mãos, ganho a razão do instinto. Dentro de mim o barro flui, escolhe artérias e veias, demora-se em colagens e formas, em estátuas de mulher antiga. Vejo-me por dentro e revejo-me ao espelho. A serenidade do equilíbrio. Deixei-me ser o que se me escapava do medo. O resto de barro fértil. A coragem traz o gosto da aventura e é na liberdade das formas que me sacio.

2 Comments:

Blogger th said...

Se na taça de barro vamos enchendo a vida, não deixemos que ela se parta em tons sofridos...th

6:44 da tarde  
Blogger Bastet said...

Olá th! Moldemos a vida para que esta não se faça em cacos! :) Um beijo

10:48 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home