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Cá está. A culinária transmite-nos muitos conhecimentos válidos e ensinamentos proveitosos para a nossa vida. Creio mesmo que o acréscimo de pacientes pelos consultórios de psicanálise se deve em grande parte ao abandono dos saudáveis hábitos da prática culinária e à ignorância gradual das receitas e pequenos truques de "
chefe" quantas vezes transmitidos de geração em geração. Na verdade, além da manipulação dos ingredientes ser um contacto próximo e privilegiado com os segredos da natureza, na cozinha, entre os tachos e as panelas, descobrimos mais e muito do mundo e de nós mesmos. Para que não se julgue que isto é tão só conversa da treta, fica um pequeno exemplo: Toda a gente sabe que da mesma base simples se confeccionam as mais diversas sopas. Cinco cenouras, quatro batatas, uma cebola, água, sal e um fio de azeite. O que importa é o legume adicional! Se feijão verde, sopa de feijão verde. Se agrião, sopa de agrião. Se nabiças, sopa de nabiças. Mas vejamos o caso do
alho francês ou da
abóbora. Com o alho francês ou “
porro” e com a abóbora, devido às suas características “
apaladadas”, é aconselhável retirar, respectivamente consoante de um ou outro se trate, a cebola ou a cenoura à referida base, para que tenhamos então uma boa sopa de alho francês ou de abóbora.
Na política é a mesma coisa. A base é a mesma. Muda o legume adicional que, tal como na sopa, vai servir de "
cabeça de cartaz". Quando o legume tem carisma, sabor específico, substracto adicional, acontece como com o alho francês e com a abóbora. Deve mudar-se a base, não jogam, guerreiam e o sabor fica muito forte.
Ora, quando por má gestão despenseira, não temos em casa nenhum legume carismático ou mesmo com "pinta" de adicional, fiquemo-nos pela base. Simples. Sem artifícios. Sirvamos sopa de legumes. Se tivermos algum legume (meramente) "
adicional", façamos a sopa da mesma maneira, dando-lhe então o seu nome para que os convidados acreditem que em nossa casa se servem sopinhas ricas e variadas – Dá algum prestígio à casa e à cozinheira.
Todavia, e esta é a regra importante a reter, quando temos entre as mãos um líder, um legume carismático, muda-se a sopa ou não vá o caldo entornar.
Nestas divagações, e em tempos de
simples sopas de legumes e caldinhos sensaborões, fica-vos a imagem que adorna o "
post". Para que saibam amigos que se até nos legumes há sexos e incompatibilidades, esperemos pois com fé e serenidade uma “
cabeça de alho porro” ou uma “
cabeça de abóbora”, com os "
ditos" (já que se fala de legumes digamos mesmo os
tomates) no sítio, para que possamos finalmente prestigiar a nossa gastronomia.