manifesto mandrião
Num dia cinzento, esbatem-se as cores alegres nos tristes sorrisos do sol entre os esgares do nevoeiro. Num dia frio e cinzento, perdem-se os movimentos dos corpos nos afagos da lã. Num dia frio, cinzento e chuvoso perdem-se os quentes suspiros nos abafos molhados e em arrepios sentimos a gota certeira que nos percorre o pescoço e nos traz o desconforto logo pela manhã. O guarda chuva arrumado, o pára brisas embaciado e o apelo da cama quente que arrefecerá até à noite longínqua. Os gestos pesados, entorpecidos, pelas mil e uma fronteiras de chuva, o tronco dobrado, o sapato molhado, o documento estragado em borrão de tinta...
Por entre as poças e os tropeços, os ventos que descarados nos expõem os agasalhos e os desagasalhos, chegamos desaguisados, mal dispostos, mal encarados, aos bons dias forçados e às conversas de elevador, está um dia horrível e para amanhã ainda dão pior... Ah, que horror! Mas pior, ainda pior, quando na pausa sagrada, para a bica matinal enquanto folheamos com enfado as caras dos vizinhos e as gordas do jornal, se senta connosco à mesa um cromo de ocasião, enérgico, cheio de vigor, indiferente ao tempo, à chuva, ao frio, ao nevoeiro, o que fala de projectos, do trabalho com amor, o que diz “sinergias” e “implementação” e quando se levanta apressado nos recorda pela negativa, não esqueceste a nossa reunião?. Não, claro que não! Claro que sim! Claro que me esqueci! Vou de baixa, estou doente, morreu-me alguém da família e percorrem pela mente, rápidas, velozes, certeiras, leis, decretos, fugas, férias, sonhos de aposentação, totobola, totoloto, euro-milhões, casas novas, carros estupendos, mobílias requintadas, salas envidraçadas, praias privadas, vista de mar, distribuímos dinheiro pelos próximos e queridos, acrescentamos aos poucos à lista uns quantos mais esquecidos e nesta benevolência que nos vem do dinheiro, lá gramamos o dia inteiro os cromos e as reuniões mas entre nós e com franqueza, se o trabalho lhes dá tirolesa, dêm paz aos mandriões!
Por entre as poças e os tropeços, os ventos que descarados nos expõem os agasalhos e os desagasalhos, chegamos desaguisados, mal dispostos, mal encarados, aos bons dias forçados e às conversas de elevador, está um dia horrível e para amanhã ainda dão pior... Ah, que horror! Mas pior, ainda pior, quando na pausa sagrada, para a bica matinal enquanto folheamos com enfado as caras dos vizinhos e as gordas do jornal, se senta connosco à mesa um cromo de ocasião, enérgico, cheio de vigor, indiferente ao tempo, à chuva, ao frio, ao nevoeiro, o que fala de projectos, do trabalho com amor, o que diz “sinergias” e “implementação” e quando se levanta apressado nos recorda pela negativa, não esqueceste a nossa reunião?. Não, claro que não! Claro que sim! Claro que me esqueci! Vou de baixa, estou doente, morreu-me alguém da família e percorrem pela mente, rápidas, velozes, certeiras, leis, decretos, fugas, férias, sonhos de aposentação, totobola, totoloto, euro-milhões, casas novas, carros estupendos, mobílias requintadas, salas envidraçadas, praias privadas, vista de mar, distribuímos dinheiro pelos próximos e queridos, acrescentamos aos poucos à lista uns quantos mais esquecidos e nesta benevolência que nos vem do dinheiro, lá gramamos o dia inteiro os cromos e as reuniões mas entre nós e com franqueza, se o trabalho lhes dá tirolesa, dêm paz aos mandriões!
5 Comments:
Fizeste-me sorrir, Bastet, e lembrar aquele poema de Sophia de que tanto gosto e me ausenta o olhar.
"Saber que tomas em mim a minha vida
e que arrastas pela sombra das paredes
a minha alma que fora prometida
às ondas brancas e às florestas verdes"
E ala ao trabalho, arranjar energia, sinergia, empatia e alguma coisa mais, que retorne e me dê mais pica ;)
Por falar nisso, ontem vi a Madame Bosta Fintas lá prós lados das Portas de Santo Antão...
A mais o seu belo trolley?
Não!!!
Apenas o olhinho azul e aquele sorriso sinergético...
o net pulha
estava mesmo a precisar de ler isto.
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