segunda-feira, janeiro 10, 2005

daily life

Chegara tarde a casa, depois da noitada pelos territórios vizinhos. Orgulhoso, defendera o seu quintal do ataque do "sarnas". Aquele gato mal cheiroso da Dona Fernanda. Dera-lhe cá uma corrida. Estaria agora a dormir no colo da velhota. Como é que ela aturava um gato tão estúpido? Revia com gozo as tropelias da madrugada. Ah, e a Julieta... Desta conquistara-lhe o coração. Lá porque era "persa" recusara-lhe o namoro. A presunçosa! Mostrara-lhe que entre gatos não há raças, nem "pedigrees". Há coragem e agilidade. Lá porque tinha uma almofada de cetim e um laço rosa que a fazia ainda mais bonita, tinha muito que aprender com ele. Da liberdade de rondar pelos quintais, de caçar aqui e acolá, de dormir ao sol sem medo de sujar o pelo e de dar umas ensinadelas aos metediços. Pstt, pssst, psssttt! Pronto, acabara-se-lhe o sossego. O chato do seu puto de estimação estava a fazer aquele barulho que o irritava solenemente! Quando é que o miúdo aprendia a miar? E depois, agarrava no novelo de lã e queria que ele o divertisse. Lá dava uns saltos, umas patadas e o puto ria, ria satisfeito. Mas o que é que um gato não faz para ver o seu humano de estimação a rir... Já cansado, abandonava com dignidade o circo e dirigia-se ao seu vaso favorito. Depois da sesta, afiaria as garras no espigado girassol, meteria qualquer coisa no bucho e faria uma serenata à doce Julieta. Miauuu, miauuu, miau! A vida é cá uma canseira!
"In diário de Romeu"