Isto de ser mãe tem mesmo muito que se lhe diga. Descobrimos em nós recursos inimagináveis e que de tão pouco dignos nem sequer deles nos cabe orgulhar. Uma mãe pode ser muitas coisas. E isto eu já sabia. Pode fazer figura de parva, contando histórias idiotas e derretendo-se embasbacada enquanto olha para o seu rebento. Pode fazer figura de ursa enquanto gasta o seu último dinheiro numa prenda que é posta de lado com indiferença. Pode ser o máximo, quando traz um saco de gomas ou, antes pelo avesso, uma refinadíssima besta quando obriga ao banho diário a criança imunda. Mas tudo isto eu também já sabia. Uma mãe é o símbolo máximo do perdão celestial quando desculpa as sucessivas traquinices e desarrumos, as birras e o lixo exponencial da casa. O que eu não sabia: uma mãe é um hitler em potência. Um agente do demo que aterroriza os sonhos nocturnos do seu filho. A personificação do mal. Quando pela meia-noite, na penumbra do quarto envolto em sonhos infantis, entra de colher em punho qual faca mortífera aguçada. Hora do anti-biótico! Arrrgh! Ameaça com a ida ao hospital onde o remédio será administrado não por colher mas por seringa. Mostra o casaco quente e simula vesti-lo à força. A criança manietada, entre choros e gritos de partir o mais empedernido coração, rende-se ao vilão e abre a boca a contra gosto! Isto é uma mãe. Mãe há só uma e graças a Deus! Porque ninguém seria capaz de aturar outra.