quinta-feira, fevereiro 23, 2006

cinco estranhos hábitos

Trata-se de mais um desafio que me foi lançado, desta feita pela Noite, pede-me ela que revele cinco estranhos hábitos que tenha e que desafie mais cinco vítimas para responder ao desafio. Vamos então por partes. Antes de mais, fica o regulamento do desafio: "Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, nãos se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Além disso, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue". Posto isto, vamos então a cinco estranhos hábitos meus, coisa que é difícil porque sou uma pessoa absolutamente banal e de hábitos muito regulamentares...
Vejamos:

1. Adoro beber água morna;
2. quando tenho frio tomo um banho quente de chuveiro;
3. não consigo usar soutien e a minha roupa interior condiz diariamente com a exterior;
4. não consigo ter à mesa pão virado ao contrário, coisas com preços ou ter o copo vazio;
5. não consigo beber café sem ter um copo de água.

Agora que já me expus, passo à escolha das minhas "vítimas":
1. Formiga Assassina ;
2. AR da Quinta Coluna;
3. LR da Quinta Coluna;
4. Hipatia da "Voz em Fuga";
5. Asulinho do Asul.

E pronto! Tarefa cumprida!

terça-feira, fevereiro 21, 2006

rezas

Por todas as razões, mas sobretudo pela minha mãe, pela sua frágil e susceptível saúde aos destinos benfiquistas, que hoje possa ganhar o GLORIOSO!!! Amen...

nós e desamarras

Há em mim uma dupla vontade de me prender e de voar porque também as aves voam juntas sem perderem a liberdade. Há em mim um duplo medo de me prender e de voar porque também as aves se magoam e morrem no chão. Há em mim um pássaro e uma mulher, umas asas e um coração, o meu corpo e o pensamento, o sonho e a razão. E sou eu que dou o nó e o desfaço, sou eu que peço e que recuso, sou eu que amo e deixo de amar para amar mais plenamente o Universo. Há em mim uma tristeza latente e ansiosa, um burburinho que me leva à rua para galgar os espaços livres e aspirar o vento e a noite, planear o que não faço, jurar o que não quero, congratular-me com o que tenho e chorar pelo que me falta. Esta inquietude que me enche, este frenesim que quando solto me serena, esta música de vida, esta intensidade insatisfeita, esta loucura de afrontar as regras para depois as definir tão rigorosas, esta que sou e outra que sou, que se ergue e se recolhe, que se expõe e se recata. Há em mim uma dupla vontade de correr e de parar, e quando paro dou-te a mão, encosto o meu corpo no teu peito e quase quero morrer então, para depois abrir a porta, as janelas, as mãos e as narinas, às especiarias que guardo no armário e com que quero aspergir uma outra dimensão. Estes soluços de vontades, entre grades, barras de ferro que soldo e que destruo, esta mulher de duas verdades, asas e pés, ar e chão.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

legado

Troquei os meus passos por um assento de onde vejo a vida passar. Troquei as minhas gargalhadas por um sorrido estático e as minhas lágrimas por um olhar perdido. Troquei os meus sonhos por esta estranha serenidade e a minha raiva por esta lassidão. Troquei o meu fogo por uma chama breve e constante e os meus gritos por pequenos murmúrios. Dei a minha esperança por pequenos ordenados de ternura e a minha liberdade por rotinas. Dei a vida em troca da sobrevivência até ser muito claro que prefiro deixar-te a minha morte a esta pálida herança do que não sou.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

um caminho de tesouros

Encontrei o meu saco de berlindes. Muitas esferas de vidro de transparências multicolores. Lá por dentro, vejo imagens de um tempo perdido, quando as horas caminhavam devagar, em intervalos de brincadeira por entre banhos e refeições. Dizem que à morte revemos todo o nosso percurso talvez porque em vida nem sempre paremos para o fazer. Tinha também uma colecção de tostões branquinhos, os "marcelinhos", que separava em grupos de dez, avaliando a minha fortuna. Nunca outra moeda poderá algum dia ter maior valor. Depois vieram os elásticos coloridos. Imitava as amarras experientes do meu irmão e ensaiava enlaçar um ferro espetado no chão. Guardava-os em laçadas de dez num pequeno saquinho e gostava de afundar os meus dedos entre a imensidão de vermelhos, azuis, amarelos e verdes. Mais tarde, tive um prego com que conquistei mundos circulares de terra mole. Punha-o na bolsa de fora da minha mochila verde tropa para que soubesse sempre onde estava e para que me acompanhasse nos dias de escola. Veio ainda um elástico preto, comprido, que convenci a minha mãe a comprar-me na retrosaria e que, quando faltavam as amigas, prendia nas pernas das cadeiras da sala para poder saltar. Não saía de casa sem ele. Muitas vezes era só o que levava. Levamos sempre o mais importante. O que nos faz falta. O que é imprescindível para que nos sintamos seguros e felizes.
Hoje estou proibida de trazer a mala ao ombro porque o seu peso me magoa e me pode deformar. Muitas vezes, sem sucesso, tento reduzir a quantidade de coisas que nela transporto e penso que nada, neste imenso conjunto, me sabe agora à perfeição de um tesouro.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

duas miúdas

Pela tarde de ontem, aquecida pelo sol de inverno, sentada num banco de jardim na companhia de um grande amigo, concluiu-se pela maleabilidade das crianças à diferença. As nossas respectivas pimpolhas brincavam alegremente no parque infantil. A dele, dona de uns belos e profundos olhos castanhos, não perdia o norte ao pai. Vestida como uma menina de colégio inglês, teve a doçura de, por diversas vezes, largar o balouço para se enroscar no colo dele a pedir mimos. A minha, conforme tão bem foi caracterizada pelo pai sortudo, parece sempre saída de um woodstock infantil... Cabelo escortanhado ou escadeado ou lá o que é, abrilhantado por três belas (!) madeixas, olhos cinzentos postos no próximo brinquedo, olhos que só por distracção se cruzaram parcas vezes com os meus. De repente, para meu espanto, também veio a correr na minha direcção. Queria ajuda para empurrar o balouço... Ah, pois é! Nada cá de mimos ou mariquices...
Se elas se conhecessem na adolescência odiar-se-iam - dizia o meu amigo- porque não há duas criaturas mais diferentes. Assim, serão amigas para sempre - Este facto parecia agradar-lhe tanto quanto a mim me agradava. A água e o fogo e a complementaridade possível. Demos por nós a imaginá-las crescidas. Uma de vestido ou saia de pregas, a outra de ganga, colares, atilhos e piercings. Depois, fomos lanchar. Quando se foram, ficou-me na ideia que, além das dores de cabeça que o futuro por certo me reserva, um dia recordaremos com saudade esta simples tarde de Domingo e as nossas auspiciosas premonições.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

desejo

Deixa-me dizer-te que ontem o meu corpo chorou por ti, naquela impaciência a que sabes dar fim pela lentidão apaixonada dos detalhes, e que adormeci embrulhada nos meus braços tão insuficientes. Deixa-me dizer-te que pela manhã acordei já acordada como se a noite não pudesse ter descansado a minha vontade e que nem a água pode levar tão profundo sobressalto. Deixa-me ainda dizer-te que não foram as tuas palavras que silenciaram qualquer desejo, porque só a mágoa se amansa com discurso. O desejo ferra-se na imcompreensão da distância e tolda a razão e a lógica, que se submetem como cordeiros, ao instinto insaciado. E tu conheces a história da minha metamorfose, e brincas com esse fogo até te queimares, até que os múltiplos ribeiros consumam as chamas e eu volte a habitar a minha consciência. E agora, enquanto te escrevo, aumento a dimensão da minha inquietude que me distorce a vulgar realidade a uma só verdade, a um só propósito. Dir-me-ás que assim se simplifica a existência. Dir-te-ei que só depois poderei perceber qualquer ironia, quando o meu corpo fatigado já souber rir desta sua estranha amplitude.