desejo
Deixa-me dizer-te que ontem o meu corpo chorou por ti, naquela impaciência a que sabes dar fim pela lentidão apaixonada dos detalhes, e que adormeci embrulhada nos meus braços tão insuficientes. Deixa-me dizer-te que pela manhã acordei já acordada como se a noite não pudesse ter descansado a minha vontade e que nem a água pode levar tão profundo sobressalto. Deixa-me ainda dizer-te que não foram as tuas palavras que silenciaram qualquer desejo, porque só a mágoa se amansa com discurso. O desejo ferra-se na imcompreensão da distância e tolda a razão e a lógica, que se submetem como cordeiros, ao instinto insaciado. E tu conheces a história da minha metamorfose, e brincas com esse fogo até te queimares, até que os múltiplos ribeiros consumam as chamas e eu volte a habitar a minha consciência. E agora, enquanto te escrevo, aumento a dimensão da minha inquietude que me distorce a vulgar realidade a uma só verdade, a um só propósito. Dir-me-ás que assim se simplifica a existência. Dir-te-ei que só depois poderei perceber qualquer ironia, quando o meu corpo fatigado já souber rir desta sua estranha amplitude.
6 Comments:
Pode um desejo... produzir um belíssimo texto! ;-) *
engraçado como se sente que o tempo vai transformando o maior dos sofrimentos em episódios que recordamos por vezes criticando os sentimentos mais patéticos que desenvolvemos na altura...mas a verdade é que o tempo quando ainda está ausente dessa realidade a coisa doi pa caraças
beijocas
Eh lá, mas isto do desejo, do corpo e do lascívia também passa por aqui?
'os braços tão insuficientes' e tão amplos - imagem cheia de força.
Um beijo enorme,minha querida.
Não tens andado atento querido Barão, o desejo e a lascívia já têm passado aqui sobejas vezes, felizmente, digo eu... :)*
Obrigada Vague Maria, essa também é por acaso (?) uma das minhas imagens favoritas. :)*
:) Obrigada SGC!
Dói pois Mochinho e é o que dizes a passagem do tempo relativiza muita coisa! :)*
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