um caminho de tesouros
Encontrei o meu saco de berlindes. Muitas esferas de vidro de transparências multicolores. Lá por dentro, vejo imagens de um tempo perdido, quando as horas caminhavam devagar, em intervalos de brincadeira por entre banhos e refeições. Dizem que à morte revemos todo o nosso percurso talvez porque em vida nem sempre paremos para o fazer. Tinha também uma colecção de tostões branquinhos, os "marcelinhos", que separava em grupos de dez, avaliando a minha fortuna. Nunca outra moeda poderá algum dia ter maior valor. Depois vieram os elásticos coloridos. Imitava as amarras experientes do meu irmão e ensaiava enlaçar um ferro espetado no chão. Guardava-os em laçadas de dez num pequeno saquinho e gostava de afundar os meus dedos entre a imensidão de vermelhos, azuis, amarelos e verdes. Mais tarde, tive um prego com que conquistei mundos circulares de terra mole. Punha-o na bolsa de fora da minha mochila verde tropa para que soubesse sempre onde estava e para que me acompanhasse nos dias de escola. Veio ainda um elástico preto, comprido, que convenci a minha mãe a comprar-me na retrosaria e que, quando faltavam as amigas, prendia nas pernas das cadeiras da sala para poder saltar. Não saía de casa sem ele. Muitas vezes era só o que levava. Levamos sempre o mais importante. O que nos faz falta. O que é imprescindível para que nos sintamos seguros e felizes.
Hoje estou proibida de trazer a mala ao ombro porque o seu peso me magoa e me pode deformar. Muitas vezes, sem sucesso, tento reduzir a quantidade de coisas que nela transporto e penso que nada, neste imenso conjunto, me sabe agora à perfeição de um tesouro.
Hoje estou proibida de trazer a mala ao ombro porque o seu peso me magoa e me pode deformar. Muitas vezes, sem sucesso, tento reduzir a quantidade de coisas que nela transporto e penso que nada, neste imenso conjunto, me sabe agora à perfeição de um tesouro.
7 Comments:
É engraçado que ainda no meu 8ª ano (86) jogava ao berlinde, ao pião e ao ferro (mundo), não me parece que fosse assim há tanto tempo, afinal são só 20 anos e ainda hoje se ouvem as mesmas músicas, não porque somos saudosistas, mas porque gostamos de as ouvir.
Já as malas da mulheres é tipo mala Sport Billy. No entanto parece que não te lembras das toneladas de livros que trazíamos nas malas... uf! E não havia cá carrinhos para as levar, pelo menos eu levava.
cada vez que me lembro do peso da mochila tipo tropa até fico zonzo... e as réguas que se partiam constantemente????
E lembro muito bem da corrida de caricas que faziamos nas bermas dos passeios...
bons tempos...sem playstations!
Beijocas
Acho que não podemos pedir, ou achar que os miúdos de hoje em dia façam o mesmo que fizemos, ou que possamos dizer que "naquela altura é que era...!", não me parece justo.
Eu era uma eterna perdedora,falando de berlindes... Num arriscado de "perder-ou-ganhar", perdia sempre todos os berlindes,inclusive a "leiteira"...
Mas ainda guardo a grata memória da saca enredada onde vinham...
(Hoje sou uma entusiasta de bolas de snooker..)
*
:) Ena tanta recordação que para aqui vai! Sim e também eu levava a mochila às costas com a livralhada toda, ufa!
SGC, estou contigo de alma e coração no entusiasmo pelas bolas de snooker :))))
Bolas de snooker...
"tive um prego com que conquistei mundos circulares de terra mole".
já não ouvia ou lia esta referência ao famoso prego, vai para uns anitos.Que eu me lembre nunca ninguém teve um acidente.O pião já era diferente, menos inofencivo aparentemente, mas por vezes, devido a um mau lançamento,
acabava por fazer ricochete nas pernas de um parceiro menos atento, mas sem gravidade e a brincadeira lá continuava intervalo fora.
Pois é Bastet, fizeste-me recuar à escolinha e ainda bem porque gostei de recordar esses belos tempos.
:)
bjs
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