por aqui me vou
Há já tempos que vou riscando os dias no calendário até que o dia chegou. É hoje. Falta-me vencer meia tarde de trabalho para entrar num prazenteiro mês de férias. Como não estarei longe, estarei por aqui a espaços. Quem sabe é desta que me ponho a caminho do Norte e vou visitar a Hipatia. Sei lá eu porquê hoje acordei a pensar nesta rapariga com saudades no peito e vontade de lhe repenicar um beijo na bochecha sardenta. Entro de férias sem planos e a ideia não me desagrada. O bom das férias são os dias recheados de complexas decisões: Vou à praia de manhã ou de tarde? Ponho creme nas costas ou nas pernas? - É isto que me aguarda. Um mês inteiro de profunda reflexão sobre a utilidade do tempo. Aquela atrapalhação matinal com o despertador biológico até que naturalmente se regule para duas ou três horas mais tarde. Creio que é tempo suficiente para fazer inveja a quem me leia e, no entanto, tempo escasso para as minhas reais necessidades. Concluo que seria uma feliz dona de casa tivesse eu tido por karma gostar de gajos ricos. Continua a passar-me ao lado essa história da realização profissional. Vejo-me perfeitamente realizada a frequentar ginásios de manhã, a fazer compras à tarde e a dar indicações à baby-sitter mais à noite. Dizem-me que não. Que não tinha feitio para essa vida. Olhem que sim, olhem que sim... E ainda que me fartasse, o pior que me podia acontecer era tentar trabalhar até que me voltasse o juízo e pusesse os pés no chão alcatifado da vida. Seja como for, hoje entro de férias e portanto não é hora de lamúrias. Lamuriem-se vós trabalhadores incansáveis, profissionais meritórios de cujos papéis e assinaturas depende o futuro da humanidade. Eu vou-me às coisas fúteis e comezinhas e, com o peso das vossas reprovações a curvar-me a postura, só me resta aliviá-lo abraçando medicinalmente o mar, o sol e os pelintras!