Os já não tão jovens leitores que, como eu, pertencem à categoria dos entinhas, recordar-se-ão por certo de que, quando éramos miúdos, se praticava com fervor e quase displicência a amigdalectomia. Por dá aquela palha, zuca! Extraíam as amígdalas ao pessoal miúdo que assim se via em casa a papar gelados com fartura. Eu, por sorte ou infortúnio, padeci de amigdalites em série, com direito a injecções regulares de penicilina - a célebre trilogia do penadur - febrões e outros incómodos associados sem que o meu pediatra se comovesse e me enviasse à faca. Dizia ele - creio hoje que pleno de razão e sabedoria - que se cá estavam é porque faziam falta, funcionavam como filtro para que a infecção não descesse goela abaixo indo provocar inflamação em zonas mais internas e de difícil cura. Estes eram os tempos e as modas.
Dá-se agora o caso de, no outro dia, ter sido atacada por mais uma dor insuportável provocada por uma crise de vesícula. Interrompi os meus trabalhos de diligente funcionária e dirigi-me ao centro de saúde. Fui atendida com bastante prontidão e revisitei a maca onde, já no ano transacto, estive igualmente estendida pelo mesmo motivo a receber soro com analgésico. Após meia hora de chuto para a veia, fui de novo à médica que me confronta com a sua solução para o problema:
- Ouça, porque é que não vai agora mesmo para o Hospital para lhe tirarem a vesícula? Isso não está aí a fazer nada! É uma intervenção facílima e amanhã já está em casa.
Lá lhe expliquei que não podia, que não me dava jeito e que, na verdade, tinha de me despachar para ir buscar a minha filha à escola.
A médica olhava para mim estupefacta, como se não fosse credível que alguém perante tão maravilhosa proposta de intervenção cirúrgica, preferisse ir buscar a filha à escola. Consegui safar-me, fui buscar a miúda, fui para casa fazer o jantar e a pensar com os meus botões que àquela hora podia estar repimpada numa cama asséptica, a ser escortanhada por um qualquer cirurgião provavelmente sem direito a exames prévios que apurassem da necessidade da extracção do órgão em causa.
Estou convicta que isto há-de ser uma questão de modas. Da velhinha amigdalectomia passámos com igual paixão e vigor para a colecistectomia videolaparoscópica. Uns furinhos e já está!
Para terminar, cingindo-me com rigor à enumeração em título, falta-me a referência à teoria da conspiração. Que fazem os hospitais com tanta vesícula abortada? Quem ganha com isto? Neste País alternativo nenhuma hipótese é de descurar e receio que a minha pobre vesícula pudesse estar hoje a ser exportada através de alguma suspeita rede de tráfico vesicular. Com que fim? Sei lá eu, mas aposto que há-de uma nova iguaria requintada para esses gastrónomos destemperados e sedentos de novidades que são os asiáticos! Ufa!