terça-feira, junho 02, 2009

crónica

Nada há no dia-a-dia que se conte. Não há história, nem memória ou poema. Talvez uma ténue lógica de crescimento, de (re) evolução. Porque volto então? Nem a saudade, nem a pena ou a nostalgia. Porventura o medo de me esquecer do que em tempos me identificou. Ou a curiosidade de perceber o que ainda me define. Sou a que tentou de forma fútil tantos caminhos, sem a maturidade para os amadurecer com seriedade. A que ficou pela rama das escolhas por nunca ter encontrado senão um fugaz entusiasmo. Aquela em quem reina a doentia preguiça, a indolente apatia dos que nada sabem fazer. Fugiram-me os sonhos ou troquei-os a baixo preço pelo vencimento mensal. E nem sequer me pesa nada disto. Porque nem sonho algum chegou verdadeiramente a fazer-me suspirar. As metas, mais que luta, exigem persistência, férrea vontade, duro trabalho. Sou a funcionária do sentimentalismo em horário flexível e preencho o vazio com mais vazio até que os dias se entupam de rotina e me ceguem definitivamente os horizontes. Matei os neurónios e as promissoras potencialidades com comezinhas desculpas e enfadonhas historietas de amor e vida. Atrapalhavam-me as ideias e a complexidade dos pensamentos. Dificultavam-me a morte precoce e o letal entorpecimento da sobrevivência. Os que não se finaram afogados esbracejam, ainda, neste estertor.

4 Comments:

Blogger Hipatia said...

"Enfadonhas historietas de amor e vida"? Os rasgos é que são a excepção, amiga. A normalidade, mesmo quando nos dói e nos rebelamos, é profundamente prazerosa nos seus aparentemente imutáveis transtornos e limites. Todos deixamos lá atrás algo por fazer e nos sentimos, volta e meia, prostituídos às obrigações e agrilhoados à rotina. Eu já não queria muito. Eu queria ser capaz de contentamento. A felicidade é uma fogacho, um breve momento. O contentamento é estar, realmente, de bem com as "enfadonhas historietas de amor e vida". E saber que serão essas que, no fim, dirão o melhor de nós e nos farão ficar na memória de quem nos acompanhou o caminho e partilhou as histórias.

Tinha tantas saudades de ter ler!

(Vá! Agora muda lá a música que deve estar ai a tocar e não te esqueças que ainda me deves uma bebedeira)

Beijo

9:17 da tarde  
Blogger shark said...

Estou deliciado com a perspectiva do teu regresso.
Fazes o favor a este teu leitor e regressas mesmo, gaja? Para ficar, ok?

10:27 da tarde  
Blogger Bastet said...

:) há que admitir que o meu coração fica aos pulos por perceber que ainda há quem passe por aqui. Acho que estou de volta, sim, Shark :)

8:33 da manhã  
Blogger th said...

Às vezes pensamos que já estamos mortos, já me aconteceu, mas o que realmente está dentro de nós é muito forte e nos faz vir ao de cima mais cêdo ou mais tarde.
Acontece que fizemos aquilo que em determinado momento era a única coisa possível, não te castigues por isso.
Viver de novo é possível. é só uma questão de tentar.
E a prova foi a minha insistência, o nunca desistir da tua escrita.
Nem imaginas o quanto me sinto feliz com o teu regresso.
Um beijo, theo

5:11 da tarde  

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