quinta-feira, junho 04, 2009

modas, impedimentos e teoria da conspiração

Os já não tão jovens leitores que, como eu, pertencem à categoria dos entinhas, recordar-se-ão por certo de que, quando éramos miúdos, se praticava com fervor e quase displicência a amigdalectomia. Por dá aquela palha, zuca! Extraíam as amígdalas ao pessoal miúdo que assim se via em casa a papar gelados com fartura. Eu, por sorte ou infortúnio, padeci de amigdalites em série, com direito a injecções regulares de penicilina - a célebre trilogia do penadur - febrões e outros incómodos associados sem que o meu pediatra se comovesse e me enviasse à faca. Dizia ele - creio hoje que pleno de razão e sabedoria - que se cá estavam é porque faziam falta, funcionavam como filtro para que a infecção não descesse goela abaixo indo provocar inflamação em zonas mais internas e de difícil cura. Estes eram os tempos e as modas.
Dá-se agora o caso de, no outro dia, ter sido atacada por mais uma dor insuportável provocada por uma crise de vesícula. Interrompi os meus trabalhos de diligente funcionária e dirigi-me ao centro de saúde. Fui atendida com bastante prontidão e revisitei a maca onde, já no ano transacto, estive igualmente estendida pelo mesmo motivo a receber soro com analgésico. Após meia hora de chuto para a veia, fui de novo à médica que me confronta com a sua solução para o problema:
- Ouça, porque é que não vai agora mesmo para o Hospital para lhe tirarem a vesícula? Isso não está aí a fazer nada! É uma intervenção facílima e amanhã já está em casa.
Lá lhe expliquei que não podia, que não me dava jeito e que, na verdade, tinha de me despachar para ir buscar a minha filha à escola.
A médica olhava para mim estupefacta, como se não fosse credível que alguém perante tão maravilhosa proposta de intervenção cirúrgica, preferisse ir buscar a filha à escola. Consegui safar-me, fui buscar a miúda, fui para casa fazer o jantar e a pensar com os meus botões que àquela hora podia estar repimpada numa cama asséptica, a ser escortanhada por um qualquer cirurgião provavelmente sem direito a exames prévios que apurassem da necessidade da extracção do órgão em causa.
Estou convicta que isto há-de ser uma questão de modas. Da velhinha amigdalectomia passámos com igual paixão e vigor para a colecistectomia videolaparoscópica. Uns furinhos e já está!
Para terminar, cingindo-me com rigor à enumeração em título, falta-me a referência à teoria da conspiração. Que fazem os hospitais com tanta vesícula abortada? Quem ganha com isto? Neste País alternativo nenhuma hipótese é de descurar e receio que a minha pobre vesícula pudesse estar hoje a ser exportada através de alguma suspeita rede de tráfico vesicular. Com que fim? Sei lá eu, mas aposto que há-de uma nova iguaria requintada para esses gastrónomos destemperados e sedentos de novidades que são os asiáticos! Ufa!

8 Comments:

Blogger th said...

eheheh, pois nunca se sabe.
Já eu fui operada, às amígdalas já era adulta, trinta e tais, estive internada dois dias e a cicatrização doeu para caraças.
Caso para pensar, minha amiga!
th

5:33 da tarde  
Blogger Bastet said...

:) apesar de estar a dieta e quase sem café (o mais doloroso) ainda a tenho por cá... vamos lá ver se me safo da extracção anunciada!

5:36 da tarde  
Blogger Mário Rodrigues said...

Boas noites, minhas caras. Eu sou o Mário o Boti Kário, e se me permitem, uma simples sugestão:
Vesícula; bebam 1,5 a 2 litros de "aguinha" pelo menos em alturas de crise e abusem de: Hortelã-Pimenta, Anis (estrelas), coentros, Alcachofras, limonadas, e rabanetes.
Amígdalas: Tomilho fresco de preferência ou então seco. Ambas as coisas já se me insinuaram e planeio ficar com elas só para mim. :)

9:00 da tarde  
Blogger Hipatia said...

Não sendo ainda “entinha” (:P) fiquei sem amígdalas à conta da tal moda. Adenóides também. Hoje, pergunto-me quantos dos princípios de bronco-pneumonia que já fiz e quantas das vezes em que fico sem pio não são apenas resultado de tamanha mania de cortar e deitar fora o que parecia não estar lá a fazer nada.

(Oh pá, tenho sérias dúvidas que a tua vesícula ainda conseguisse saber bem a alguém, lol)

11:13 da tarde  
Blogger Bastet said...

Caro Mário Boti Kário:

Limonada para a vesícula, a sério? Pensei que o ácido do limão fosse prejudicial. Se assim é vou abusar porque gosto imenso de limonada! Obrigada pelas dicas!

9:42 da manhã  
Blogger Mário Rodrigues said...

O ácido cítrico é bastante ligeiro e suficiente para ir dissolvendo as "lamas" e os cálculos. Um truque que ajuda na eficácia, junta-lhe (ao limão) Hortelã-pimenta, duas estrelas de anis e uma pitada de gengibre fresco; tudo numa garrafa de 1.5l agua, à noite e bebe-a no dia seguinte durante o dia como refresco. Se tiveres paciência repete a tarefa diariamente que vais sentir diferenças. Se encontrares “Marroio”, faz uma, doze só com ele de 50gr para a garrafa de água. Não fervas as plantas nem as coloques em água a ferver, deixa-as antes simplesmente dentro de água mineral, umas 8 a 12 horas. Nas crises agudas põe um saco de água quente sobre a zona gástrica e descansa. Se quiseres uma cirurgia, também se arranja, mas nesse caso não faças nada do que disse. As melhoras. :))

10:53 da tarde  
Blogger Softy Susana said...

Antes de mais, obrigado por teres voltado! :)
Fico feliz por poder ler mais umas coisas inteligentes na blogosfera dos antigos (sim, nós!!!) Acho que somos da "primeira geração de bloggers, não achas? ;D
Quanto à vesícula... deixa estar e sim, o limão faz muito bem a muita coisa.
Por exemplo, a minha mãe fez uma "cura", recomendada pela nutricionista e devido ao fígado gordo, com sumo de um limão PURO, todos os dias de manhã, em jejum, durante 12 dias... E não é que os níveis de gordura desceram drasticamente?
As melhoras!

9:13 da tarde  
Blogger Bastet said...

Ando a fugir à cirurgia :)! Fui a um homeopata estou a fazer tratamento e já me sinto bem melhor! Obrigada pelas tuas dicas!

Softy: Já estamos velhinhos sim... :)

3:24 da tarde  

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