o bigode da Odete
Entretive-me a ver a final da eleição dos Grandes Portugueses com aquela mórbida curiosidade de saber se Salazar seria ou não o vencedor. O meu candidato predilecto era Luis de Camões porque, numa época de espadeirada e descobrimentos, notabilizou-se pelo uso da palavra poética. Mas já suspeitava que, nesta época de encolhimentos e espadeirada, a guerra final fosse travada entre fantasmas mais recentes - comunismo/fascismo - sem quaisquer condescendências para os feitos heróicos dessoutros antepassados.
Salazar ganhou e ganhou com uma margem digna de um ditador, dando um bigode ao Cunhal. A Odete insurgiu-se, ou melhor, passou-se! Eu cá encolhi-me no sofá, não fosse a "senhora" saltar-me do ecrã a fora (a dentro?) e começar a recitar versos na minha sala. É que os versos na boca dela soam a espadeiradas, ou pior, a peixeiradas, nem os Lusíadas se teriam imortalizado na boca desta mulher. E enquanto ela parecia querer despir a blusa (senhores!, mas porquê?) e vociferava sobre a inconstitucionalidade do resultado do jogo ao qual ela livremente aderiu, eu tentava concentrar-me na análise que do mesmo era feita.
A vitória de Salazar – foi dito – foi um voto de protesto. Fernando Dacosta disse que o país prometido em Abril de setenta e quatro falhou. Estamos de acordo, mas é preciso ir mais longe: foi a democracia que falhou! Falhou caída nas malhas da corrupção e nas mãos incompetentes dos nossos políticos e vigaristas. Corremos com as ditas grandes famílias fascistas e temo-las visto regressar e, ao abrigo da nossa impunidade democrática, fundarem bancos e empresas, gerirem com maior avidez lucros e recursos, monopolizarem e crescerem sem obrigações nem contrapartidas sociais. Nacionalizámos e voltámos a privatizar. Rumo ao socialismo tropeçámos no mais que liberalismo e atolámo-nos em desemprego, défices e moderna escravatura empresarial. Adoptámos como religião o culto do privado e excomungámos a função pública como heresia e tudo isto, imagine-se!, na senda da democracia e do socialismo.
Falhou a democracia por termos confundido tudo: valores éticos e morais com fascismo, exigência educativa e escolar com fascismo, costumes e tradições com fascismo, pátria com fascismo. Ao fascismo confundimo-lo agora com nostalgia e à pátria confundimo-la com a selecção nacional de futebol. Confundimos cravos com balas, versos com espadeiradas e achámos que íamos lá com cantigas. Enfim, sermos confusos e trapalhões parece ser o nosso fado!
A Cunhal, como já não lhe bastasse a vida de mártir entregue à causa perdida, ficou-lhe o calvário de ver a sua defesa entregue à Odete Pilatos que, impregnando-o daquela imagem bruta da siderurgia, das camisas de flanela e do proletariado, que ele próprio até nem tinha, o crucificou às mãos do povo de Salazar.
Portugal que mais uma vez se mobilizou da melhor maneira que sabe, ao telefone ou hasteando bandeirolas nas janelas, expulsou Cunhal e preferiu Salazar tal qual um Zé Maria ou as belas e mestres dos Domingos. Termino contudo satisfeita e convicta: quem levou um bigode não foi o Álvaro foi a Odete e "quem saíu da casa" não foi o mestre Cunhal foi a bela loura que há no Sócrates.
Salazar ganhou e ganhou com uma margem digna de um ditador, dando um bigode ao Cunhal. A Odete insurgiu-se, ou melhor, passou-se! Eu cá encolhi-me no sofá, não fosse a "senhora" saltar-me do ecrã a fora (a dentro?) e começar a recitar versos na minha sala. É que os versos na boca dela soam a espadeiradas, ou pior, a peixeiradas, nem os Lusíadas se teriam imortalizado na boca desta mulher. E enquanto ela parecia querer despir a blusa (senhores!, mas porquê?) e vociferava sobre a inconstitucionalidade do resultado do jogo ao qual ela livremente aderiu, eu tentava concentrar-me na análise que do mesmo era feita.
A vitória de Salazar – foi dito – foi um voto de protesto. Fernando Dacosta disse que o país prometido em Abril de setenta e quatro falhou. Estamos de acordo, mas é preciso ir mais longe: foi a democracia que falhou! Falhou caída nas malhas da corrupção e nas mãos incompetentes dos nossos políticos e vigaristas. Corremos com as ditas grandes famílias fascistas e temo-las visto regressar e, ao abrigo da nossa impunidade democrática, fundarem bancos e empresas, gerirem com maior avidez lucros e recursos, monopolizarem e crescerem sem obrigações nem contrapartidas sociais. Nacionalizámos e voltámos a privatizar. Rumo ao socialismo tropeçámos no mais que liberalismo e atolámo-nos em desemprego, défices e moderna escravatura empresarial. Adoptámos como religião o culto do privado e excomungámos a função pública como heresia e tudo isto, imagine-se!, na senda da democracia e do socialismo.
Falhou a democracia por termos confundido tudo: valores éticos e morais com fascismo, exigência educativa e escolar com fascismo, costumes e tradições com fascismo, pátria com fascismo. Ao fascismo confundimo-lo agora com nostalgia e à pátria confundimo-la com a selecção nacional de futebol. Confundimos cravos com balas, versos com espadeiradas e achámos que íamos lá com cantigas. Enfim, sermos confusos e trapalhões parece ser o nosso fado!
A Cunhal, como já não lhe bastasse a vida de mártir entregue à causa perdida, ficou-lhe o calvário de ver a sua defesa entregue à Odete Pilatos que, impregnando-o daquela imagem bruta da siderurgia, das camisas de flanela e do proletariado, que ele próprio até nem tinha, o crucificou às mãos do povo de Salazar.
Portugal que mais uma vez se mobilizou da melhor maneira que sabe, ao telefone ou hasteando bandeirolas nas janelas, expulsou Cunhal e preferiu Salazar tal qual um Zé Maria ou as belas e mestres dos Domingos. Termino contudo satisfeita e convicta: quem levou um bigode não foi o Álvaro foi a Odete e "quem saíu da casa" não foi o mestre Cunhal foi a bela loura que há no Sócrates.