velhice
Hoje, que a vida já decorreu largamente sobre o meu corpo,
Surpreende-me o paradoxo entre o que sou e o que sinto.
A imagem que o reflexo me devolve, é tão díspar do que penso
ser ainda.
Aterroriza-me esta diferença. Como há-de doer mais
proximamente,
Quando a criança residente num invólucro amarfanhado,
Chorar de pena e dor ante a revolta,
Resignando-se gradualmente a não ser jamais reconhecida,
Pateticamente repetindo-se:
Já fui jovem e quem me dera sê-lo agora!
Para que entendessem que as mãos trémulas,
A flacidez dos meus membros entorpecidos,
São um logro maldito que acorrenta com maldade
A sombra do que creio ser eterno.