segunda-feira, novembro 05, 2007

a flauta desaparecida

A minha filha perdeu a sua flauta. Hoje, logo pela manhã, incumbi-a de vasculhar a escola em busca do instrumento musical que deve levar consigo para a aulinha semanal de música. A história, o seu início, reporta-se à noite de ontem. Na altura de preparar a mochila para as actividades do dia seguinte, perguntei-lhe:
- Melga, onde puseste tu a flauta?
E a melga respondeu prontamente:
- Deve estar na mochila, mãe.
- Deveria de estar sim, mas acontece que não está!
E ela de forma desinteressada...:
- Ah, então não sei! Será que me esqueci dela na escola juntamente com o casaco?
Recordada de forma abrupta do maldito casaco que passa mais tempo na escola do que em casa, explodi!
- Pois ficas a saber que se amanhã não encontrares a flauta e o casaco, ficas uma semana sem ver televisão! Percebeste?
Ela percebeu. De resto não me posso queixar da falta de entendimento da minha filha, tanto que retorquiu com prontidão:
- Então e se eu achar só o casaco?
Temporariamente desarmada olhei-a com olhos de fogo e expressão de raiva:
- Basta que não encontres um dos objectos para o castigo ser uma semana sem televisão. Estamos entendidas?
- Não é justo mãe! Até porque o casaco eu calculo que esteja no cacifo. Já a flauta não faço mesmo ideia onde possa estar. Se eu conseguir trazer o casaco o castigo deveria ser menor, não achas?
- Não, não acho! O problema é que tu não sabes tomar conta das tuas coisas e enquanto não aprenderes e ser responsável ficas de castigo!
- Mas então não era só uma semana?
- Como? O que queres dizer com isso?
- Ora, se eu vou ficar de castigo até aprender a ser responsável isso vai levar mais que uma semana... Tu sabes bem que eu volta e meia deixo umas coisas na escola...
Restou-me aquela saída autoritária de quem já não tem argumentos:
- Estamos conversadas! Amanhã quero a flauta e o casaco, caso contrário: uma semana sem ver televisão!
Ainda a ouvi dizer qualquer coisa como "então e agora posso ver um bocadinho ou isto já conta para o castigo?".
Fugi para a sala antes que ela me obrigasse a fazer a planificação detalhada do castigo e a calendarização dos dias de privação televisiva.
Hoje fui deixá-la à escola e, como de costume, entrei com ela. A tipa foi a correr ao cacifo e ergueu o casaco azul no ar de forma triunfante!
- Cá está ele! Vês mãe? Ele fica sempre aqui!
- Pois, agora só falta a flauta...
Ela baixou ligeiramente os lindos olhos azuis e disse numa surdina:
- Vamos lá ver o que é que se consegue...
Beijei-a na testa e vim-me embora depressa.
A caminho do emprego desejei ardentemente que ela encontrasse a flauta... não tanto pela flauta como é bom de ver... ai, ai!

11 Comments:

Blogger fernando macedo said...

ler um texto assim faz bem ao fim da manhã... beijo e votos para que a flauta seja encontrada depressa

12:53 da tarde  
Blogger vini said...

a pergunta que não quer calar
é
veremos uma foto dos olhos azuis?

belos textos!

4:19 da manhã  
Blogger Bastet said...

a-bordo: a flauta apareceu! :)
Lá se safou do castigo! Beijinhos.

Vini: em tempos coloquei uma fotografia da melga aqui no blog mas vários amigos me aconselharam a retirá-la rapidamente devido ao perigo que poderia representar. Eu, desconhecedora das utilizações que se poderiam fazer de uma mera fotografia de uma criança, resolvi no entanto acatar os conselhos que recebi. No entanto quase todos os leitores deste blog conhecem a miúda chata a que o post se refere e servem de testemunhas do que aqui ficou escrito. Ela tem na verdade uns lindos olhos entre o azul e o cinza a contrastarem com um feitio que, a dar-lhe cor, seria entre o vermelho e o laranja ou mesmo preto nos dias piores! :)
Obrigada. :)**

10:10 da manhã  
Blogger Asulado said...

Eu acho que os olhos dela só têm uma cor: azul e branco.

5:49 da tarde  
Blogger Bastet said...

Asul: isso não é nenhuma abordagem clubística pois não?

10:36 da manhã  
Blogger vini said...

Tenho um primo pequeno de olhos de infinitos azuis =p faz total sentido não coloca-los em exposição no www.
os meus são castanhos, mas já disseram haver uma auréola verde, aliás, nunca a encontrei.
fiquei feliz pelo aparecimento da flauta!

beijos

2:56 da tarde  
Blogger Klatuu o embuçado said...

Acho imoral oferecer flautas a uma criancinha.

11:38 da tarde  
Blogger vague said...

Se achas que tens palheta falas com a melga e quase metes a viola no saco :)
Ela é brilhante, olaré :)

12:54 da manhã  
Blogger Bastet said...

klatuu o embuçado: eu imoral não sei mas perigoso para a sanidade mental da progenitora sim. Vá lá a tipa não liga muito á coisa e não se põe a soprá-la lá por casa... senão era um ar em dó sustenido que lhe dava...

Vague: :)*

12:03 da tarde  
Blogger th said...

Ai minha querida, a angústia que é criar uma criança...e o mais doloroso é que quando olhamos para trás sempre pensamos que podíamos ter feito melhor por mais acertado que nos pareceu na altura a decisão tomada.
Eu sei, a minha mais velha já é avó e tem 50 anos.
Resta-nos fazer o que de melhor nos parecer no momento...com muito amor, sempre.
theo

8:24 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Que mãe-melga coração de manteiga!

Mas é assim que deve ser...

Mão de ferro com luva de veludo

;-)

CSD

4:11 da tarde  

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