quem tudo quer perder
Poder-se-ia contentar com o normal desenrolar dos dias que, sendo de feição, eram mais sustentáveis que um qualquer futuro mais ou menos definido. Esta lassidão, tão conforme às suas mais íntimas insuficiências, desgostava-a todavia. Ou talvez não fosse bem desgostar-lhe, mas antes o medo de se acomodar ao incerto. Porque lhe faltava o pulsar do verdadeiro conhecimento, faltava-lhe um genuíno interesse pela vida. Calhar-lhe-ia por bem resolvê-la, para que deixasse de constituir um problema.
Senhora de aparentes contrastes, catalogadora assertiva dos alheios comportamentos, redutora dos heróis à categoria de risíveis seres humanos, não se lhe adivinharia no cinismo tamanha e crónica apatia. E no entanto, assim o era. Buscando no outro o que lhe faltava e emprestando o que não tinha, ia intimamente exigindo promessas para forjar de esperanças as suas lacunas.
O mundo era de gente especializada. Especialistas vários. Gente que se ocupava dos detalhes com detalhe, que punha esmero e dava sentido ao que lhe parecia infinitamente aborrecido.
Pela rama, a talhe de foice, analisava o destino das coisas, rematando com esgares de quem sabe mais que o que diz, impressionando com estas reticências as incautas audiências. Porque para tudo era preciso um esforço adicional. Um mais não sei o quê que lhe tinha sido amputado do carácter. E isto, que era o mais irritante que conhecia de si própria, era a essência da sua verdade. Veja-se o que daqui se extrai: uma inegável adaptação às circunstâncias; um arrogante silêncio; um incómodo laxismo; um estuporado facilitismo; uma ansiedade constante entre o que queria merecer e o que julgava ter merecido. E só esta ansiedade, mais do que qualquer coragem, a impelia à descoberta. Conceda-se porventura num desconforto com a monotonia, quando as emoções já se esbatiam e a falta de alegria lhe trazia aos olhos algumas lágrimas de arrependimento. Mas o torpor era mais fácil. E até ao sofrimento é possível haver hábito quando a mudança requer um passo.
Agora, tão perto do que julgava querer, surpreendia-se com as irónicas coincidências do destino. Ninguém que lhe pegasse ao colo, ou que lhe trouxesse ao peito a chama ardente de uma vontade superior. Antes alguém que, como ela, se revolvia em revoltas com o vazio, o mesmo aflitivo desejo do nada, o mesmo imerecimento de tudo. Mas por ele desejava arrastar os pés em conjunto, nas semelhantes e curiosas afinidades. Jurava abismada este amor incompreensível, mas entre o que tinha de real pela primeira vez, precipitava-a o medo ao desejo de um rápido fim.
Senhora de aparentes contrastes, catalogadora assertiva dos alheios comportamentos, redutora dos heróis à categoria de risíveis seres humanos, não se lhe adivinharia no cinismo tamanha e crónica apatia. E no entanto, assim o era. Buscando no outro o que lhe faltava e emprestando o que não tinha, ia intimamente exigindo promessas para forjar de esperanças as suas lacunas.
O mundo era de gente especializada. Especialistas vários. Gente que se ocupava dos detalhes com detalhe, que punha esmero e dava sentido ao que lhe parecia infinitamente aborrecido.
Pela rama, a talhe de foice, analisava o destino das coisas, rematando com esgares de quem sabe mais que o que diz, impressionando com estas reticências as incautas audiências. Porque para tudo era preciso um esforço adicional. Um mais não sei o quê que lhe tinha sido amputado do carácter. E isto, que era o mais irritante que conhecia de si própria, era a essência da sua verdade. Veja-se o que daqui se extrai: uma inegável adaptação às circunstâncias; um arrogante silêncio; um incómodo laxismo; um estuporado facilitismo; uma ansiedade constante entre o que queria merecer e o que julgava ter merecido. E só esta ansiedade, mais do que qualquer coragem, a impelia à descoberta. Conceda-se porventura num desconforto com a monotonia, quando as emoções já se esbatiam e a falta de alegria lhe trazia aos olhos algumas lágrimas de arrependimento. Mas o torpor era mais fácil. E até ao sofrimento é possível haver hábito quando a mudança requer um passo.
Agora, tão perto do que julgava querer, surpreendia-se com as irónicas coincidências do destino. Ninguém que lhe pegasse ao colo, ou que lhe trouxesse ao peito a chama ardente de uma vontade superior. Antes alguém que, como ela, se revolvia em revoltas com o vazio, o mesmo aflitivo desejo do nada, o mesmo imerecimento de tudo. Mas por ele desejava arrastar os pés em conjunto, nas semelhantes e curiosas afinidades. Jurava abismada este amor incompreensível, mas entre o que tinha de real pela primeira vez, precipitava-a o medo ao desejo de um rápido fim.
4 Comments:
Olá
Estou a ver que tudo correu bem na transição. No meu caso verifiquei que algumas coisas desformataram, mas nada que não se arranje.
Continuação de bons posts...
Jocas
Olá
Estou a ver que tudo correu bem na transição. No meu caso verifiquei que algumas coisas desformataram, mas nada que não se arranje.
Continuação de bons posts...
Jocas
buscar certezas, garantias... quando quase tudo é incerto, sem garantias...
um dia entre duas noites... uma noite comprimida entre dois dias... taí uma garantia... será?!
o texto instiga, dá oportunidades a muitas viagens. e isso é bom, pois nos tira do marasmo de uma leitura morna.
um beijo saudoso, amiga querida.
(e põe saudade nisso!!!)
Barão, então também já és um google blogger :)
Saudades de ti também querido amigo Batista :)
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