segunda-feira, novembro 13, 2006

só que se repita

Pois que este tempo é sinal dos glaciares desfeitos pelo calor com as praias a chamarem o Natal a banhos tardios. Mas eu que nem dou pela desgraça, pelas camisolas de gola trocadas pelas alças, com os pés na areia e a cabeça nas ondas e os braços enroscados ao centro da terra e do mundo. Nem pela luz que falta mas que não faz falta pela vela preguiçosa de curto pavio chinês que me põe a sombra no nariz. E sei lá eu se mereço mas acho que sim, e empurro a custo tanta alegria para dentro de mim, sobrando esta no sorriso rasgado e na paz com que me deito mais perto do meio, onde tudo o que quero me abraça de manso e maciamente e falanges curiosas me assaltam o dorso descoberto. Mas não juro por vergonha, só o faço no silêncio, que este Outono reinventado é por minha causa, e até a minha convicção se ri de mim, e de tamanha criancice tão despudoradamente fundamentada. O sol lá se pôs e a noite cresceu, comigo a tentar fazer arquivo na memória e a mala a guardar pequenos lembretes com os frascos de banho e a roupa usada, atabalhoada na pressa dos zips duplos que se fecham num beijo selado e casto. Pronto. O tempo passou ou ainda dura. Está quente demais sabendo que é Novembro mas que sei eu das estações ou da propriedade das coisas, digo que é meu e por minha causa porque assim divinamente parece acontecer. Está certo que assim seja como esteve errado que não fosse, porque a alegria merece tanto como a dor, ou mais, mesmo mais arrisco dizer, já que me enche desta maneira mais completa, já que me deixa sem resposta ao que mais quero. Nada. E nada mais é mesmo assim, porque é verdade. Talvez só que se repita. Definitiva e demoradamente, este tempo dos sentidos destemperados só em virtude de mim.

6 Comments:

Blogger batista filho said...

"Está quente demais sabendo que é Novembro mas que sei eu das estações ou da propriedade das coisas, digo que é meu e por minha causa porque assim divinamente parece acontecer."

... e porque assim quiseste, assim foi, assim o é. e se outro motivo não houvera para tal acontecer, rasgar palavras, em versos costurar estações... como raios de sol, bordando as manhãs.

5:45 da tarde  
Blogger vague said...

"Mas não juro por vergonha, só o faço no silêncio, que este Outono reinventado é por minha causa"

:) linda*

10:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Já tardavas. Não te afastes muito meu bem.

11:50 da tarde  
Blogger Bastet said...

batista: "costurar estações" posso roubar esta expressão? :)*

vague: :)*

Erecteu: Já cá tou! :)*

10:35 da manhã  
Blogger batista filho said...

a expressão é toda tua, de coração.

3:56 da manhã  
Blogger Bastet said...

Obrigada amigo, vou roubá-la então com o teu consentimento :)*

3:54 da tarde  

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