a minhoca sem abrigo e o pássaro vegetariano
Cesária era uma minhoca sem abrigo que arrastava um saquinho com os seus pertences pelos caminhos não alcatroados da floresta. Como não tinha muita coisa de seu, o saco não lhe pesava muito, mas o peso que o saco tinha era o bastante para ela achar que era dona de muita coisa e que dentro do seu pequeno saco estava um verdadeiro tesouro. Por isso ela já se havia defendido com unhas e dentes de algumas minhocas malandras que lho queriam roubar, se bem que isto é uma maneira de dizer, uma força de expressão, já que Cesária, por ser uma minhoca, não tinha unhas nem dentes.
Sem casa nem caminha certa, ela andava com toda a liberdade por sítios onde nunca antes nenhuma minhoca se havia aventurado. Provava folhas e frutos de árvores e arbustos, guardava pequenos pedacinhos saborosos, e só à noite, quando estava escondidinha num lugar seguro, se deliciava com o seu repasto.
Nunca ninguém lhe tinha perguntado porque é que ela não tinha casa nem família, e por isso mesmo, ouviam-se sobre a minhoca Cesária as histórias mais variadas. Uns diziam que ela era má e por isso não tinha casa nem amigos, outros diziam que ela era curiosa e aventureira e por isso corria a floresta, uns achavam que por ela não ter nada não era mesmo nada interessante e outros finalmente achavam que ela era tão pobre que nem valia a pena falar dela.
Isto não era nada importante para a Cesária e nem lhe passava pela cabecinha de minhoca que alguém pudesse falar dela e do que tinha ou do que não tinha. Mas, se alguém alguma vez lhe tivesse perguntado, Cesária diria que a sua casa era a floresta inteira até ao dia em que achasse no caminho um lugar onde valesse a pena ficar e guardar o seu saco.
Estávamos nós já perto do Outono quando Cesária, que sentia o arrefecimento progressivo dos dias na sua pele fininha, deu de caras com uma enorme e apetitosa maçã vermelha. Prontamente ela se decidiu a fazer-lhe um buraquinho para poder passar a noite mais quentinha e abrigada do vento forte. Começou pois a trincar a maçã vermelha muito devagar, com a sua paciência de minhoca, até fazer uma porta bem redondinha. Depois, puxou o seu saco para dentro e adormeceu confortavelmente com sonhos bonitos. Ainda não era bem de manhã para uma minhoca dorminhoca como ela, quando acordou com uns estremeções e um barulho assustadores. Muito alvoroçada espreitou à porta da sua maçã e viu um bico amarelo e voraz vir na sua direcção. Pensando que era o seu fim, Cesária gritou o mais alto que uma minhoca pode gritar: aiiiiiiii!!!! - O que vale é que os pássaros têm muito bons ouvidos e Juvenal arregalou os olhos à procura de quem tinha assobiado tão baixinho.
A pobre Cesária tremia muito, muito, e o pássaro Juvenal olhava para ela curioso – Não tenhas medo! – disse-lhe ele num chilreio carinhoso - E o que tens tu dentro desse saco? Posso saber?
- Ora essa, tenho muitas coisas! Tenho todas as minhas coisas! Mas isso não interessa a um pássaro comilão, pois não?
- É claro que me interessa, senão não te estava a perguntar não achas?
Cesária achou que ele tinha razão. Ninguém deve fazer perguntas sobre uma coisa que não queira saber. E pela primeira vez Cesária despejou o seu saco e mostrou a alguém o que nele guardava. Folhas e pedrinhas de muitas cores, algumas tão brilhantes que se diria guardarem o sol.
- Que lindas! – Exclamou Juvenal verdadeiramente embasbacado – Tens aí um tesouro! Eu no meu ninho não tenho nada de tão belo. Queres conhecer o meu ninho? Anda, anda daí.
Cesária não era tola e sabia perfeitamente que os pássaros comiam minhocas, prendendo-as no bico para depois as engolirem e engordarem o papo. O que Cesária não sabia era que Juvenal era um pássaro diferente. Juvenal era vegetariano e alimentava-se só de folhinhas e frutos porque tinha muita pena de comer os pequenos bichinhos como as minhocas.
Está-se mesmo a ver que Cesária e Juvenal ficaram muito amigos. Ela era uma minhoca sem abrigo que arrastava um pequeno saco, e ele um passarinho que voava sozinho sem um bando que o acolhesse. Os dois conheciam e apreciavam o gosto das folhas mais tenras e raras e das maçãs e pêras mais suculentas. Sabiam onde encontrar as melhores bagas e sementes e como combinar os seus paladares das maneiras mais exóticas e requintadas.
Com o tesouro das pedrinhas brilhantes como o sol e com muito afinco de ambos, Cesária e Juvenal inauguraram nesse mesmo Inverno junto à arvore da maçã vermelha um restaurante vegetariano que foi um verdadeiro sucesso.
Foi assim que Cesária encontrou em Juvenal o abrigo que sempre procurara e que o restaurante dos dois bons amigos se tornou o local mais famoso da floresta das olaias.
Sem casa nem caminha certa, ela andava com toda a liberdade por sítios onde nunca antes nenhuma minhoca se havia aventurado. Provava folhas e frutos de árvores e arbustos, guardava pequenos pedacinhos saborosos, e só à noite, quando estava escondidinha num lugar seguro, se deliciava com o seu repasto.
Nunca ninguém lhe tinha perguntado porque é que ela não tinha casa nem família, e por isso mesmo, ouviam-se sobre a minhoca Cesária as histórias mais variadas. Uns diziam que ela era má e por isso não tinha casa nem amigos, outros diziam que ela era curiosa e aventureira e por isso corria a floresta, uns achavam que por ela não ter nada não era mesmo nada interessante e outros finalmente achavam que ela era tão pobre que nem valia a pena falar dela.
Isto não era nada importante para a Cesária e nem lhe passava pela cabecinha de minhoca que alguém pudesse falar dela e do que tinha ou do que não tinha. Mas, se alguém alguma vez lhe tivesse perguntado, Cesária diria que a sua casa era a floresta inteira até ao dia em que achasse no caminho um lugar onde valesse a pena ficar e guardar o seu saco.
Estávamos nós já perto do Outono quando Cesária, que sentia o arrefecimento progressivo dos dias na sua pele fininha, deu de caras com uma enorme e apetitosa maçã vermelha. Prontamente ela se decidiu a fazer-lhe um buraquinho para poder passar a noite mais quentinha e abrigada do vento forte. Começou pois a trincar a maçã vermelha muito devagar, com a sua paciência de minhoca, até fazer uma porta bem redondinha. Depois, puxou o seu saco para dentro e adormeceu confortavelmente com sonhos bonitos. Ainda não era bem de manhã para uma minhoca dorminhoca como ela, quando acordou com uns estremeções e um barulho assustadores. Muito alvoroçada espreitou à porta da sua maçã e viu um bico amarelo e voraz vir na sua direcção. Pensando que era o seu fim, Cesária gritou o mais alto que uma minhoca pode gritar: aiiiiiiii!!!! - O que vale é que os pássaros têm muito bons ouvidos e Juvenal arregalou os olhos à procura de quem tinha assobiado tão baixinho.
A pobre Cesária tremia muito, muito, e o pássaro Juvenal olhava para ela curioso – Não tenhas medo! – disse-lhe ele num chilreio carinhoso - E o que tens tu dentro desse saco? Posso saber?
- Ora essa, tenho muitas coisas! Tenho todas as minhas coisas! Mas isso não interessa a um pássaro comilão, pois não?
- É claro que me interessa, senão não te estava a perguntar não achas?
Cesária achou que ele tinha razão. Ninguém deve fazer perguntas sobre uma coisa que não queira saber. E pela primeira vez Cesária despejou o seu saco e mostrou a alguém o que nele guardava. Folhas e pedrinhas de muitas cores, algumas tão brilhantes que se diria guardarem o sol.
- Que lindas! – Exclamou Juvenal verdadeiramente embasbacado – Tens aí um tesouro! Eu no meu ninho não tenho nada de tão belo. Queres conhecer o meu ninho? Anda, anda daí.
Cesária não era tola e sabia perfeitamente que os pássaros comiam minhocas, prendendo-as no bico para depois as engolirem e engordarem o papo. O que Cesária não sabia era que Juvenal era um pássaro diferente. Juvenal era vegetariano e alimentava-se só de folhinhas e frutos porque tinha muita pena de comer os pequenos bichinhos como as minhocas.
Está-se mesmo a ver que Cesária e Juvenal ficaram muito amigos. Ela era uma minhoca sem abrigo que arrastava um pequeno saco, e ele um passarinho que voava sozinho sem um bando que o acolhesse. Os dois conheciam e apreciavam o gosto das folhas mais tenras e raras e das maçãs e pêras mais suculentas. Sabiam onde encontrar as melhores bagas e sementes e como combinar os seus paladares das maneiras mais exóticas e requintadas.
Com o tesouro das pedrinhas brilhantes como o sol e com muito afinco de ambos, Cesária e Juvenal inauguraram nesse mesmo Inverno junto à arvore da maçã vermelha um restaurante vegetariano que foi um verdadeiro sucesso.
Foi assim que Cesária encontrou em Juvenal o abrigo que sempre procurara e que o restaurante dos dois bons amigos se tornou o local mais famoso da floresta das olaias.
8 Comments:
Que bonito, Bastet! Gostei muito deu teu registo, tão diferente do teu habitual mas tão, tão encantador.
E os nomes dos dois estão perfeitos; adequam-se às personagens! :)
(en)Contadora de Histórias, hem?! Que maravilha! Construiste uma história e tanto, preservando o interesse do início ao final... sem descuidar do clima de magia!
Parabéns, de coração!
Obrigada meus amigos. Precisava mesmo de ouvir a vossa opinião sobre este registo. Resolvi pôr por escrito as histórias que invento à noite para a minha filha. Esta é a primeira. :)****
Restaurante vegetariano nas Olaias? Onde é? É bom?
Só conheço o Jardim dos Sentidos na Praça de Alegria
Ora bolas! E eu que passei os dois últimos serões a analisar o carácter de intrínseca perversidade que se podia ler nas entrelinhas. O quê, o como e o onde de cada palavra que dirigia o ímpeto erótico para os patamares superiores da subjectividade e enlaçava o leitor na teia oculta da sedução libidinosa dos sentidos. Agora venho aos comentários e dizes que é uma história para crianças. Bolas! Tanto trabalho para nada. Para a próxima avisa antes se fazes favor. Sei lá, talvez pondo uma argolinha amarela no canto superior direito do écran.
Caro Barão: tenta perguntar pela Cesária e pelo Juvenal junto do centro comercial :)
Meu querido Lino, toda e qualquer perversidade que queiras encontrar nesta história por certo que a rapariga a quem eu conto as histórias já deu com ela. Podes sempre perguntar-lhe! Mas vá lá por ser para ti eu para a próxima aviso! :)
:-)
Olha que bela faceta, agora desvendada desta forma, tão brilhantemente!
sortuda, a rapariga...;-)
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