esta bolha
Este nosso tempo é uma bolha inventada e o meu dedo é o alfinete aguçado que a quer fazer rebentar. Sou eu que teimo numa fronteira onde a tempestade começa, ou é a ausência da dor que torna estranha esta manhã vazia? Ou é a lua redonda que não explodiu em cataclismos de enchentes e fins de mundo? Como te encaixo eu nas minhas paredes brancas ou na minha cama de um só lado? Que incómodo é este pela alegria que me afronta? Ou não quero chamar eu medo ao que é medo, ou és tu e eu que somos tudo mas que nada vemos nesta recíproca miopia da infelicidade? Ou teria havido um tempo. Ou haverá um tempo. Porque neste tempo parece estranho ser possível. E o que faço eu do meu tardio embaraço adolescente? Ou somos nós que sonhamos os mesmos sonhos e achamos estranho entretermo-nos a juntá-los? Ou é a lua que nos finta e desafia tornando esta vida numa bolha inventada e os nossos dedos em riste teimando fazê-la rebentar. Porque me escapam as palavras que te diga. Por tanto te conhecer sou igual ao que sempre te neguei. Esta bolha onde escondemos a realidade da realidade e a fantasia da fantasia. E o meu dedo procurando a dor da explosão desta trincheira que esses sulcos são-me bem mais familiares. Mas não quero esta minha mão tão vazia. Mas não acredito que toda a razão do meu tempo esteja tão serenamente pousada como uma bolha entre os meus dedos. Porque é bem mais razoável e humano não ser feliz.
11 Comments:
Não há um anti-inflamatório para essa bolha? Sempre será melhor tratá-la que rebentá-la... :)
(já publiquei, obrigada ;) )
Claro que é mais razoável e humano não ser feliz. Fomos fabricados de forma a nunca nos darmos por felizes com nada e, assim, continuarmos a procurar tudo. Mas em alguns momentos é preciso parar e agarrar alguma dose de contentamento. A felicidade é um fogacho breve; o contentamento é o borralho que nos aquece.
sempre às ordens ;)*
Pois... é bom ter os pés quentinhos! :)
Alguns textos mexem mais conosco que outros, é claro. Este, por certo. Mesmo mantendo nossa individualidade fazemos parte da teia da vida, suscetíveis de toda uma gama de impressões que nos chegam, mas ao mesmo tempo capazes de imprimir à teia as nossas próprias impressões... # O “eu” grita muito alto... talvez por sentir que sem o “outro” está fadado a se sentir incompleto... quando o grito do “eu” encontra eco no “outro” é a hora e a vez do “nós” (divago...).
"Esta bolha onde escondemos a realidade da realidade e a fantasia da fantasia.(...)"
(é a tua vez das caixinhas sem as mesmas!:P )
*
Como nem sempre há possibilidades de visitar os amigos coloquei hoje um poema dedicado a todos os que considero como tal e a quem desejo tudo de bom.
Beijos
Bastet,
Anda daí, não percas tempo a rebentar a bolha. Veste o que te der na bolha, despe a emoção e vai de bulir.
Quando menos esperares pimba... já está a bolha foi-se. Mas, como nada se perde...
Depois dizes o que encontraste.
essa bolha, quanto mais depressa o dedo a espetar misericordiosamente melhor para a saúde total.
isso ameaça alastrar para o resto, daqui a nada uma pessoa olha para os teus pés e tens mais bolhas, gatinha bastet :))
(dum dum)
Ainda dizem que tristezas não pagam dívidas. Talvez não, mas que dão muita inspiração é certo. Não é por acaso que os nossos poetas eram todos uns sofredores!
Espero que recupere dessa tristeza que o envolve, mas que continue a escrever assim.
Colecionamos bolhas. e depois, é uma questão de encontrar a boa medida entre o bom senso e a (im)paciência.
Confesso que rebento algumas: arde imenso, às vezes; outras vezes nem por isso, e fico admirada.
Mas também acontece deixá-las secar naturalmente. pronto, esqueço-me delas. depois, é certo, posso dar-me conta que endureceram uma parte qualquer da minha pele.
O que é que te apetece?
O que é que lhe apetece?
(digo eu, a fazer de conta que percebi este texto, belo e críptico)
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