terça-feira, outubro 10, 2006

oração

E lá vens tu trazendo de novo o que é tão antigo, como na vez primeira a mesma perplexidade, não que não saibas que a história se repete. Trazes também o cansaço do mesmo caminho, onde já não cabem as palavras que já me disseste, e por isso os olhos te escurecem de raiva, de já não haver a fuga dos primeiros milagres. E cá estou eu olhando curiosa os mesmos enigmas, com o realismo de quem já conhece as peças de cor, com a ferida aberta de lhes falhar o encaixe. E mudo a oração que faço pela noite, mas que ainda ousa o mesmo pedido, agora com a força de ser repetido, agora com a mágoa de ser repetido. Creio por vezes nos frutos da espera, como se a espera desse valor a tudo o que faço, enchendo os meus dias de uma fé renovada, como na vez primeira a mesma ingenuidade. Tenho, porém, o calendário dos dias, assinalando as melancolias com intervalos de espaço, brilha-me nos olhos a minha descrença, ao saber que de novo a história se repete. Mas há as diferenças do mesmo caminho, as palavras inventadas que te posso dizer, o enigma tem a promessa de uma solução, e a dor já não dói como quando a trouxeste. E lá trago eu esta fé tão antiga, que ponho perplexa na mesma oração, sabendo de novo que mereço milagres.

3 Comments:

Blogger Elipse said...

Os outonos voltam sempre, cumprem os ciclos. Mas não duram eternamente.
Quem dera que pudéssemos escolher sempre o bom tempo!

11:34 da tarde  
Blogger cbs said...

"E lá trago eu esta fé tão antiga"
a Fé é uma rede que não nos deixa cair... é o suporte que me permite seguir, um pouco aleijado pela queda, mas inteiro.

1:34 da manhã  
Blogger Bastet said...

Quem dera mesmo Elipse! :)*

cbs: é também a minha rede! :)*

11:30 da manhã  

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