nem é tarde nem é cedo
A idade do não é tarde nem é cedo, é porventura esta que nos aproxima dos quarenta. A noção de agora torna-se mais premente sem ser aflitiva. As aflições são próprias dos trinta, tempo das urgências e compromissos adiados dos vinte. Os vinte são um tempo de engano, porque julgamos que a década que nos separa das senhoras de Balzac há-de passar tão lenta quanto a que nos transportou da pré-adolescência à idade adulta. Há uma altura qualquer, por meados do quarteirão de anos, em que a nossa percepção do tempo se altera e em que os dias parecem tornar-se mais lestos. Depois tentamos reparar esse erro no horror da pressa. Queremos os casamentos, os filhos e as profissões.
É perto dos quarenta que, se ainda não sarámos, estamos prestes a sarar as feridas deste corrupio. É um tempo de aceitação da realidade, de que não adianta querer voltar atrás nem pretender fugir para o futuro. Desta consciência resulta uma espécie de harmonia entre corpo e mente, quando já não há necessidade de lutar pela afirmação de uma personalidade já firmada, nem tão pouco lograr perder tempo fazendo com que os outros tenham uma noção diversa do que somos. Há uma série de coisas que deixam de fazer sentido e uma série de outras que se tornam clarividentes. Há como que uma separação do trigo do joio. Os fretes que já não se fazem e os que deixam do o ser.
Tal como se aprende a ver e a desenhar, aprende-se a olhar a vida de uma perspectiva que, sempre esteve ali, mas nunca conseguimos reter. Talvez por ser um meio caminho, talvez por ser um tempo de balanço, escolhemos de tudo, só aquilo com que nos identificamos verdadeiramente e deitamos fora, aliviando a carga do nosso barco, tudo quanto achámos que podíamos ou devíamos ser.
Por isso digo que se trata de um tempo de agora, com toda a verdade que o presente lhe empresta. Altura de distanciamento e de proximidade. Distância das inseguranças, medos e crises emocionais, próprias de quem acha que o tempo lhe foge. Proximidade da nossa essência, aceitação do nosso corpo, do que somos e do que queremos, como é próprio de quem sabe o que fazer com o tempo que lhe resta. Nem é tarde nem é cedo.
É perto dos quarenta que, se ainda não sarámos, estamos prestes a sarar as feridas deste corrupio. É um tempo de aceitação da realidade, de que não adianta querer voltar atrás nem pretender fugir para o futuro. Desta consciência resulta uma espécie de harmonia entre corpo e mente, quando já não há necessidade de lutar pela afirmação de uma personalidade já firmada, nem tão pouco lograr perder tempo fazendo com que os outros tenham uma noção diversa do que somos. Há uma série de coisas que deixam de fazer sentido e uma série de outras que se tornam clarividentes. Há como que uma separação do trigo do joio. Os fretes que já não se fazem e os que deixam do o ser.
Tal como se aprende a ver e a desenhar, aprende-se a olhar a vida de uma perspectiva que, sempre esteve ali, mas nunca conseguimos reter. Talvez por ser um meio caminho, talvez por ser um tempo de balanço, escolhemos de tudo, só aquilo com que nos identificamos verdadeiramente e deitamos fora, aliviando a carga do nosso barco, tudo quanto achámos que podíamos ou devíamos ser.
Por isso digo que se trata de um tempo de agora, com toda a verdade que o presente lhe empresta. Altura de distanciamento e de proximidade. Distância das inseguranças, medos e crises emocionais, próprias de quem acha que o tempo lhe foge. Proximidade da nossa essência, aceitação do nosso corpo, do que somos e do que queremos, como é próprio de quem sabe o que fazer com o tempo que lhe resta. Nem é tarde nem é cedo.
16 Comments:
Já tenho luz no blog, Bastet - O Cap é um grande electricista ;)
O texto inaugural.
Não, eu não pegaria assim num nem é tarde nem é cedo nem em nada que se parecesse. Medo, sabes? É como pegar em há males que vêm por bem ou em vem mesmo a propósito. E portanto, quando leio de pé atrás, à espera da queda anunciada, percebo que sim, que não é tarde nem é cedo, que sim, que está bem fundamentada a decisão de ser o primeiro dia do resto da tua vida, ou da minha vida, ou de outra vida que pense que nem é tarde nem é cedo. Eu que sei que já é tarde... mas não cedo. ;)
Acho que me aconteceu de facto qualquer coisa por volta da idade de Cristo, quando passei a pintar a peruca à conta das brancas, dei por mim com uns quilos em excesso e, no entanto, reconheci que gostava de mim incondicionalmente. Talvez quando chegar aos quarenta esteja, de facto, transformada num "mulherão". É que não é tarde nem é cedo :)
Sabes Prologo, pensei muitas vezes há muito tempo que era tarde quando de facto, vejo agora, era tão cedo. Por isso não saibas que já é tarde porque tarde só será quando te aperceberes que afinal era tempo.
Se gostas incondicionalmente de ti é porque já és o dito mulherão, certo?
Obrigada Bastet!
Nem sabes o quanto foi reconfortante ler este teu post!
CSd
Existem pessoas, não por nós escolhidas, que pouco a pouco se tornam tão próximas, tão queridas, que nem sempre atinamos com as razões (se é que haja necessidade disso!). Você, que nunca vi, a não ser através dos sentimentos expressos/derramados em palavras nesse espaço: você! - sim, você, que nem sei o nome (importa?!), é, pra mim, uma pessoa mui especial, um Espírito verdadeiramente Amigo - com quem cruzei ao longo do caminho e já deixou a sua marca e perfume indeléveis. Por que digo isso agora? Porque às vezes deixamos escapar a oportunidade de dizer e nunca mais a temos de novo. # Gradativamente tenho me afastado da net, mas gostaria que você soubesse que este é um cantinho muito especial para mim. Um beijo, amiga.
Passei pela Vague e vim por aqui. Li com atenção e fiquei a pensar: pareço uma miúda. Sei lá se "nem é tarde nem é cedo"... sei lá do que vou fazer amanhã...
Virei por aqui.
Sabes, querida bastet: é sempre tempo de pegarmos o touro pelos cornos e deixarmos que se invertam as posições e seja ele a espetar-nos o ferro!
(risos)
batista: está na altura de planeares umas férias em Portugal e de vires até Sintra que é uma terra bonita. Tive muita pena que acabasses com o teu blog e espero que ao menos não deixes de me visitar. Se eu precisasse de uma razão forte para continuar por aqui, as tuas visitas sê-lo-iam! Obrigada amigo pela amizade com que sempre me tens lido!
subscrevo o post todo, mas posso acrescentar que não pára aí... nos cinquenta desaparece o tempo, passamos a um agora cada vez mias complicado e a exigir um espirito sereno e corajoso.
Por isso vejo as àguas separarem-se nesta fase: uns aceitam a vida e tornam-se amáveis; outros endurecem e tornam-se velhos amargurados (e perigosos)
"escolhemos de tudo, só aquilo com que nos identificamos verdadeiramente e deitamos fora, aliviando a carga"
é no limite do fim que se vê realmente o que somos
parabéns (?)
Caro CBS: a semente dessa divisão de águas de que falas começa muito antes a germinar. As exigências desta sociedade tão virada para o vigor juvenil e para a importância do trabalho e da produtividade de alguma forma acicatam ainda mais as amarguras e as inseguranças que surgem com as rugas. Creio que cada vez serão menos os que atingem essa serenidade e amabilidade de que falas. Creio também que essas são características associadas a uma vivência mais profunda, mais plena, de quem afinal de contas, consegue "tocar", nem que seja ao de leve, no que realmente importa na vida.
Obrigada. (só farei 40 anos em Abril :))
Só aterras nos "entas" em Abril, chavalita, mas olha que já tás com o discurso adequado à funçom.
Vais gostar dessa etapa, adivinho-o na tua lucidez aqui pespegada.
E quando chegares aos sessenta, nem sabes como será bom.
Beijinhos.
Bastet!
este silêncio todo,
Já está quebrado :)
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