política familiar
Os putos não vêm com livro de instruções. Vamo-nos munindo do que nos foi transmitido, de alguma intuição, de muita dose de paciência e de um amor imenso que vamos progressivamente descobrindo em nós. Questão complicada é a do equilíbrio entre as regras e o espaço da liberdade necessário ao desenvolvimento da personalidade em formação. Jamais pretendi educar um ser que me fosse subserviente, que me obedecesse por medo e que visse em mim a déspota que contrabandeia afectos em troca de atitudes ponderadas. Por tudo, a acrescer ao cansaço diário, caio por vezes no facilitismo, na cedência, no excesso de democracia familiar. Ora, o regime democrático tem as suas falhas porque, como qualquer regime, não é perfeito. De facto, apercebo-me de que os putos têm um particular apreço pelo despotismo, resta-me a esperança de que seja mais ou menos esclarecido. Temos aqui um cenário trágico-cómico. Alguém que afronta convenções por convicção, que despreza a cobardia por desporto, que incentiva e cultiva o contraditório como método, empossada no exercício de um longo mandato de poder... Do outro lado, supostamente mais frágil, um alguémzinho dotado de uma perspicácia tramada, de um inato jeitinho para a negociação, de uma teimosia férrea e de uma energia sobrenatural que, por necessidade de perceber com que linhas se cose, balanceia no limiar da sua conquista pela afirmação e de um amplo normativo que contesta mas no fundo anseia por ver definido.
Neste contexto, dou ontem por mim a apelar à Santa Paciência, para tentar trazer a bem a minha única eleitora para casa. Numa de propaganda política pré-eleitoral, primeiro relembrando o jantar de aniversário de um amiguinho para depois, já na posse do Governo, ameaçar com a supressão de tal regalia. A tipa conhecedora que já é da vacuidade das ameaças que o poder instituído lhe faz, insiste na acumulação dos benefícios fiscais, teimando em ficar na sua e nada receosa do corte orçamental anunciado. Porque os santos nem sempre nos valem, muito menos a dita paciência, sinto no meu estômago o início da metamorfose - Sobe-me o tom da voz, veste-se-me uma farda cinzenta, sinto um pequeno bigode a despontar e alço da mão direita... Heil! Sai o führer que há em mim e transporto a contragosto a pequena para dentro do carro. Assim que me sentei ao volante já sentia o Adolf a abandonar-me e já espreitava com compaixão a deportada política. Chegámos amuadas a casa. Eu estourada, que isto de ser violenta tem muito que se lhe diga. Ela interpelou-me:
-Estás muito zangada?
-Estou, estou zangada, triste e muito cansada.
-Pois mãe mas se estás cansada é da porcaria do cigarro!
Depois disto retirei-me para descansar um pouco, para manter a pose e para evitar uma gargalhada. Nunca me pareceu bem que depois de acesos debates fossem todos beber copos em amena cavaqueira. Votem em mim.
Neste contexto, dou ontem por mim a apelar à Santa Paciência, para tentar trazer a bem a minha única eleitora para casa. Numa de propaganda política pré-eleitoral, primeiro relembrando o jantar de aniversário de um amiguinho para depois, já na posse do Governo, ameaçar com a supressão de tal regalia. A tipa conhecedora que já é da vacuidade das ameaças que o poder instituído lhe faz, insiste na acumulação dos benefícios fiscais, teimando em ficar na sua e nada receosa do corte orçamental anunciado. Porque os santos nem sempre nos valem, muito menos a dita paciência, sinto no meu estômago o início da metamorfose - Sobe-me o tom da voz, veste-se-me uma farda cinzenta, sinto um pequeno bigode a despontar e alço da mão direita... Heil! Sai o führer que há em mim e transporto a contragosto a pequena para dentro do carro. Assim que me sentei ao volante já sentia o Adolf a abandonar-me e já espreitava com compaixão a deportada política. Chegámos amuadas a casa. Eu estourada, que isto de ser violenta tem muito que se lhe diga. Ela interpelou-me:
-Estás muito zangada?
-Estou, estou zangada, triste e muito cansada.
-Pois mãe mas se estás cansada é da porcaria do cigarro!
Depois disto retirei-me para descansar um pouco, para manter a pose e para evitar uma gargalhada. Nunca me pareceu bem que depois de acesos debates fossem todos beber copos em amena cavaqueira. Votem em mim.
10 Comments:
LOLeLOL!
Ai que bem me fez a gargalhada que o teu texto me suscitou, Bastet!.
É que o meu Parlamento Familiar exclusivo é igualzinho ao teu...
Em democracia um texto brilhante é sempre uma feliz consolação perante uma amarga derrota política.
Ela sabe-a toda, Bastet Maria :)
Ikivuku: o texto vingou-lhe a calamitosa derrota política :)), eheheh
Bastet,
Suspeito que a tua filha seja mesmo uma "política nata", LOL!
*
Tá votado!
(mas eu não me tinha calado!)
:-)
Queridos amigos, que bem que sabem as vossas palavras de consolação. Não é fácil sofrer derrotas políticas... (Mar estou solidária com a gestão do teu Parlamento amiga!!!) e não, nem a escrita me consola :)*
Quem tinha razão era o Salazar. Não há nada que não se resolva com uns 'safanões a tempo '...
divina bastet! acho que andamos na mesma maré. o teu texto é delicioso, e a tua filha tb. e pois é, é difícil impor a lei em terra de contestatários. eu ando numa de censura à liberdade de expressão, o que é difícil, dada a união dos rebeldes (são duas, no meu caso). por outro lado, é verdade que as reacções à mordaça deviam ficar registadas para a história.
bj e abraços solidários :)
MRF duas é obra! Falando nisso a melga de cá insiste que tem saudades das melgas de lá... Temos que ver se arranjamos um espaço para reunir em assembleia geral... :)
quando quiseres, mas não esqueças que "o povo unido..." :))
Enviar um comentário
<< Home