the pillow man
Muito se diz, e bem, sobre esta peça invulgar e desconcertante. Fala-se sobre a liberdade de expressão num regime totalitário, sobre a responsabilidade de um autor sobre a sua obra, tudo isto num estilo narrativo que reconhecemos como o dos contos da nossa infância – e talvez nisto resida a sua inexplicável força e a forma como o argumento se entranha, tanto se entranha que não se estranha a simpatia que acaba por despertar o personagem do homem almofada que assiste às crianças, encorajando-as ao suicídio.
Para mim não deixa de ser uma história sobre o amor e as dramáticas repercussões da sua supressão na mais tenra infância. Vamos descobrindo a par e passo a violência de um passado de maus tratos em todos os personagens envolvidos na trama. O que esta violência deflagra, o que esta violência justifica(?). Toda a peça é atravessada por um misto de horror, humor negro e uma extrema sensibilidade tão bem doseados, tão bem misturados, que parece ficar ao critério do espectador a escolha entre uma lágrima ou um riso. No palco somos transportados entre dois cenários, a sala de interrogatório e uma cela, onde a crueza dos azulejos brancos deixa realçar o sangue da tortura na camisa de Katurian e o seu amor corajoso pelo irmão retardado, de compreensão infantil, que revela então, em trejeitos de mimo, os crimes que perpetrara contra três crianças, encenando na realidade os contos do escritor.
Como uma moral omnipresente em toda a história, a morte salva de uma vida de sofrimento, e é nesta lógica quase irrepreensível que assistimos a Katurian matar o seu irmão, escusando-o ao martírio de uma execução por estranhos. Sufoca-o até ao último sono com uma almofada, assumindo-se como o redentor “The pillow man”.
Extraordinário ainda o recurso à projecção de um filme animado para nos contar mais um conto grotesco – o da menina Jesus. Porque por esta altura já estamos tão embrenhados na confusão sentimental que esta peça nos desperta, conseguimos finalmente rir sem receios mais profundos, da pequenita crucificada na sala de estar enquanto os seus pais assistem a todos os bons programas da televisão.
O escritor luta até ao fim para salvar a sua obra, para que esta perdure para além da sua morte, para que se cumpra “o único dever de um contador de histórias”. Katurian Katurian Katurian – de seu nome completo - lembrou-me pelos três kapas e pelo capuz com que espera a sua morte as execuções do Klu Klux Klan, exponenciando a sensação de um destino injusto e perverso.
A vitória do escritor deve-se à coincidência sentimental do polícia interpretado por Albano Jerónimo (ai, ai...) que por se rever numa infância dolorosa, não deixa que arda o espólio de Katurian, perpetuando-se nos registos da escrita e do tempo, um grito infantil e amargurado feito numa narrativa de “era uma vez”.
Para mim não deixa de ser uma história sobre o amor e as dramáticas repercussões da sua supressão na mais tenra infância. Vamos descobrindo a par e passo a violência de um passado de maus tratos em todos os personagens envolvidos na trama. O que esta violência deflagra, o que esta violência justifica(?). Toda a peça é atravessada por um misto de horror, humor negro e uma extrema sensibilidade tão bem doseados, tão bem misturados, que parece ficar ao critério do espectador a escolha entre uma lágrima ou um riso. No palco somos transportados entre dois cenários, a sala de interrogatório e uma cela, onde a crueza dos azulejos brancos deixa realçar o sangue da tortura na camisa de Katurian e o seu amor corajoso pelo irmão retardado, de compreensão infantil, que revela então, em trejeitos de mimo, os crimes que perpetrara contra três crianças, encenando na realidade os contos do escritor.
Como uma moral omnipresente em toda a história, a morte salva de uma vida de sofrimento, e é nesta lógica quase irrepreensível que assistimos a Katurian matar o seu irmão, escusando-o ao martírio de uma execução por estranhos. Sufoca-o até ao último sono com uma almofada, assumindo-se como o redentor “The pillow man”.
Extraordinário ainda o recurso à projecção de um filme animado para nos contar mais um conto grotesco – o da menina Jesus. Porque por esta altura já estamos tão embrenhados na confusão sentimental que esta peça nos desperta, conseguimos finalmente rir sem receios mais profundos, da pequenita crucificada na sala de estar enquanto os seus pais assistem a todos os bons programas da televisão.
O escritor luta até ao fim para salvar a sua obra, para que esta perdure para além da sua morte, para que se cumpra “o único dever de um contador de histórias”. Katurian Katurian Katurian – de seu nome completo - lembrou-me pelos três kapas e pelo capuz com que espera a sua morte as execuções do Klu Klux Klan, exponenciando a sensação de um destino injusto e perverso.
A vitória do escritor deve-se à coincidência sentimental do polícia interpretado por Albano Jerónimo (ai, ai...) que por se rever numa infância dolorosa, não deixa que arda o espólio de Katurian, perpetuando-se nos registos da escrita e do tempo, um grito infantil e amargurado feito numa narrativa de “era uma vez”.
11 Comments:
Eh pá, se calhar estivemos na mesma sala ao mesmo tempo a ver esta peça...
Claro que também vou por um post acerca desta peça, depois não digas que é plágio... Vou só referir aquela discussão sobre mãe estar ou não morta...
Quem te manda não andar com a t-shirt a dizer barão? Hum? Para a próxima já sabes, eventos culturais é sempre com a camisolinha blogueira :)
Eu era aquela com alergia na quarta fila... lenço no nariz... :(
Afinal não estivemos juntos. Eu fui na sexta-feira. Mas olha que foi por pouco...
Antecipaste-te! :)*
queres ir ver dia 4 ou 5 de outubro no ccb o laginha, burmester e sassetti?
Deixa-me ver como estou de baby sitting Vague Maria mas a ideia parece-me brilhante :)
Já agora para os amantes da fotografia. World Press Photo no CCB. Sempre um a não perder
Registei Barão! Obrigada!
Parabéns. O post transmite com bastante coerência o que espectáculo que é The Pillow Man
:)bela crítica
Obrigada Ensaio e Ilovemyshoes :)
Enviar um comentário
<< Home