úlcera
Faço um esgar de limão em troca das tuas arrojadas confissões mais porque me ultrapassam do que porque me magoam. As mágoas transporto-as para a úlcera estomacal que em guinadas me dá alertas de socorro. Prefiro de longe deixar-me ultrapassar por elas do que ser trespassada e ficar enrolada na concha que não me serve. Pões-me no teu ouvido e dizes que sou o mar. Inundo-te a casa com vagar. Levo jeito com enchentes. Sou mãe de água salgada. Fico aí encostada por ti, para que se faça a navegação em dias de tempestade e até jurarmos depois que a maré subiu na nossa ausência. Partilhas comigo nesgas de algumas noites. Quanto a mim, vou-me por onde entro quase sempre mais leve que à chegada. Quando não, transporto aos ombros o silêncio que não nos pesa. É-nos fácil a sua convivência quando em horas tardias lamentamos ainda haver algo por dizer e que o dia que vem depois possa já não ser propício às nossas palavras. Gostava de saber quem dita a inconstância em que escondemos algumas raras alegrias de comunhão. Os outros são os dias banais em que corto o café e o tabaco com efémera consciência prosaica. Prefiro ouvir-te. Vezes há em que falo de mim com a sensação da inutilidade do meu passado a medir a escolha do que digo. Sou eu que assim o qualifico e até me surpreende quando discordas. Também não é isso que muda nada e muito menos o futuro. Esse é o tempo proibido para os planos que não faço e que acumulo nas dores que se apaziguam com leite. Devo evitar as horas de jejum prolongado e a ansiedade. Por isso me sento na mesa contigo mesmo quando a toalha me convida ao descanso e tu finges estar distraído olhando a rua. Agora não passa ninguém lá fora porque todos fugiram para nos dar paz. É no teu ombro que me engano e não no teu sexo. É justamente nesse ombro que faço profecias mais arrojadas do que as tuas confissões. Para as apagar logo após. Nada deve ficar escrito do que penso para que não me envergonhe da minha ingenuidade. Disfarço trazendo-te ao meu colo para que penses que te desejo apenas, mas nem assim evito dizer que te amo. Porque não te minto. Ou se te minto é para que descubras por ti próprio uma verdade maior. Que mais haverá para além deste corpo que me dói? Talvez o que guardamos a medo que não se repita mas que estranhamente se perpetua entre nós.
9 Comments:
Querida, o jejum não é coisa que se possa prolongar sob nenhum pretexto e não valem os enganos que trocam o sexo pelo ombro. O ombro de um homem é a coisa mais frouxa que existe; como sabe, eles precisam tanto de colo... como é que podem dar o ombro? Antes o sexo, tempestuoso, mas eficaz no tratamento das úlceras. Ou não?
As tuas palavras soam vagamente familiares nas cenas que descreves. Há tanto em comum quando falamos de amor e dsamor. Só mudam os personagens. As histórias, essas, reproduzem-se em remakes sucessivos atravessando perpendicularmente os corpos de todos nós.
Gosto mesmo do que escreves, moça.
Fausta, Fausta, se não existisses era eu que te inventava! :)
Mar: :) vamos mas é abrir o nosso tasco, rapariga! que isto do amor também liga bem com cervejinhas!
Só mais uma coisa querida Fausta, estás cobertinha de razão! Olha que já nem o estâmago me dói! :D
Foste ao tratamento, 'tá visto!!!
Eu nestas coisas sou muito de cumprir os receituários ;)*
Fónix, que te fizeram bem as férias!
Ganda malha.
A gente abre é uma editora, pá. Andas-te a perder...
Ó Sharkinho a ideia da cervejaria parecia-me mais catita! LOL!!! :)
És linda.
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